postado em 09/07/2012 18:25
Rio de Janeiro - Depois de um ano meio de ocupação nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte da capital fluminense, o Exército deixou nesta segunda-feira (9/7) de fazer a segurança das comunidades. No período, os militares tiveram que enfrentar traficantes armados e as denúncias, de organizações da sociedade civil, sobre abuso de autoridade, roubo e tortura de moradores.A partir de agora, quem assume as ações policiais no Alemão e na Penha é o comando das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que já tem quatro bases com cerca de mil policiais na área. O coordenador, coronel Rogério Seabra, que participou do evento, disse que a aproximação da comunidade é um processo "em construção" que pretende estimular pelo diálogo.
"É a comunidade que vai dizer suas prioridades", disse. "Somos uma polícia de proximidade, capaz de dialogar, de ouvir mais do que falar", completou. Um dos projetos do coronel é promover a visita de crianças à sede do comando das UPPs, que fica na antiga base operacional da Força de Pacificação, na Avenida Itaóca.
Diferentemente das inaugurações das sedes das UPPs na área, a comunidade não participou da solenidade. Em entrevista pelo telefone à Agência Brasil, o coordenador da organização não governamental (ONG) Raízes em Movimento, que atua há dez anos no Alemão, Allan Pinheiro, disse que a presença da Força de Pacificação foi marcada pela falta de diálogo, que tende a se acirrar com a transição para a UPP.
"Não temos mais autonomia de fazer festas comunitárias, nem as tradicionais, que eram o momento de sociabilidade da comunidade. Não tem diálogo nenhum. Diálogos são monólogos, que são feitos no momento do conflito, de repressão", denunciou. Pinheiro disse ainda que no domingo (8/7) uma festa junina foi suspensa pela polícia, que continua sem autorizar os bailes funks.
Durante o evento de transferência das ações de policiamento nas comunidades para a Secretaria de Segurança Pública, o general responsável pela Força de Pacificação, Adriano Pereira Júnior, minimizou os problemas. De acordo com ele, a Força de Paz sai dos complexos do Alemão e da Penha, que já foram considerados o quartel general da marginalidade no Rio, com o "sentimento de missão cumprida".
[SAIBAMAIS]"Quando chegamos aqui as pessoas caminhavam olhando para o chão, com medo de nos cumprimentar. Nós usávamos colete e capacete. Gradativamente, fomos ganhando confiança, à medida em que trabalhávamos respeitando muito a população que, com o tempo, mudou de atitude", declarou. Para o genral, grupos que resistiram, estavam ligados ao tráfico.
O governado Sérgio Cabral disse que as ações nas comunidades não são apenas de segurança e informou que nos últimos anos aplicou cerca de R$ 800 milhões em unidades hospitalares, de ensino e em saneamento básico. Do trabalho dos militares, destacou que eles desempenharam com êxito uma função para a qual não receberam treinamento específico.
"Aqui passaram militares que trabalharam em uma situação absolutamente díspares da formação, ", declarou Cabral. " A formação [dos militares] é para o embate, o confronto, mas aqui se fez defesa da cidadania. Soldados foram chamados para ação de intervenção social, para administrar situações familiares, confrontos de vizinhos e, ao mesmo tempo, enfrentar a marginalidade ".
Durante o evento, o general Adriano Pereira informou que estar para ser julgado o caso de um tenente do Exército acusado de roubar uma chopeira e dois aparelhos de ar condicionado da casa de moradores. A denúncia foi aceita pelo Superior Tribunal Militar.