Brasil

Mulheres organizam protesto contra decisão de proibir partos em casa

postado em 22/07/2012 16:56
Movimentos sociais e de mulheres do Rio de Janeiro estão preparando um ato de repúdio às resoluções do Conselho Regional de Medicina do Estado do estado (Cremerj) que proíbem a participação de médicos obstetras em partos domiciliares e a presença das doulas (acompanhantes) em ambientes hospitalares.

A causa é apoiada pelo Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (Gama), cuja coordenadora, Ana Cristina Duarte, receia que a medida possa se espalhar por todo o país. A manifestação está programada para o dia 5 de agosto, no Posto 9, em Ipanema.

Para a conselheira da Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (ReHuNa), Ingrid Lotfi, a decisão do Cremerj, publicada no último dia 19, foi uma ;retaliação; à Marcha pelo Parto em Casa, ocorrida no dia 17 de junho em várias cidades brasileiras.

A marcha foi convocada por meio das redes sociais após o Cremerj ter solicitado ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) a punição do obstetra Jorge Francisco Kuhn, que defendeu, em um programa de televisão, o direito de mulheres saudáveis optarem pelo parto domiciliar, informou Ingrid.

Ela ; que também coordena o Isthar-Espaço para Gestantes do Rio de Janeiro, presente em 11 cidades brasileiras ; defende o Brasil adote a prática existente em países desenvolvidos, como Canadá, Holanda e Inglaterra de que mulheres grávidas de baixo risco tenham a opção de dar à luz fora do ambiente hospitalar. ;A gente tem o direito de escolher que o bebê nasça em casa. Existem estudos que mostram que [o parto em casa] é tão seguro quanto o [ocorrido] no hospital, se a gente tiver condições de saúde e tudo estiver bem.;

Ingrid Lotfi se disse a favor também da presença das doulas nos hospitais. ;Ela não tem nenhuma função médica. Pelo contrário, ela está ali para encorajar a mulher, dar um suporte contínuo emocional, psicológico, físico, coisas que auxiliem e potencializem a fisiologia do parto.;

Principal programa do governo para a maternidade, a Rede Cegonha prevê que a gestante conheça previamente a unidade de saúde onde terá o bebê e tenha direito a um acompanhante, de livre escolha, durante a internação. A Rede Cegonha, lançada em março de 2011, é uma estratégia do Ministério da Saúde operacionalizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e fundamentada nos princípios da humanização e assistência às gestantes e aos bebês.

Para o conselheiro do Cremerj, Luís Fernando Moraes, o objetivo da entidade, ao publicar as duas resoluções, é ;proteger a mulher e seu filho na hora do parto;. Ele disse à Agência Brasil que o médico ;não pode compactuar; com a realização de partos em casa, ;onde pode haver alguma complicação;.

O médico lembrou que o Conselho Federal de Medicina e a própria Sociedade de Ginecologia consideram o parto domiciliar ;um retrocesso e inseguro;. De acordo com ele, em caso de problemas, a paciente terá o seu direito a uma assistência segura comprometido. O intuito do Cremerj é proibir que o obstetra faça partos domiciliares. ;Se ele compactuar com isso, a gente entende que esse é um problema ético;, disse. O profissional que desobeder a resolução responderá a processo disciplinar.

Em relação à presença das doulas nos hospitais, Luís Fernando Moraes esclareceu que elas não têm nenhuma formação na área da saúde. ;Pessoas leigas dentro de uma sala cirúrgica, atuando, nós achamos que isso é inseguro também para a paciente, porque essas pessoas não têm formação, não têm noções de assepsia, de cuidados. Por isso, a gente tenta proteger a paciente com essas resoluções.;

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