postado em 26/07/2012 20:43
A expansão da atenção primária por meio das unidades básicas de saúde tem sido a principal responsável pela melhora nos indicadores de saúde no Brasil. A constatação vem de uma série de estudos realizados ao longo dos últimos anos, a partir da criação do Programa Saúde da Família (PSF) em 1994, para garantir o acesso gratuito da população a uma assistência integral, por uma equipe multidiciplinar perto de casa, como estratégia de prevenção de doenças e a manutenção de saúde.Esse e outros assuntos fazem parte da agenda do 3; Congresso da Associação de Medicina de Família e Comunidade do Estado do Rio de Janeiro, que termina amanhã (27), em Petrópolis.
A presidente do congresso, a médica Andréa Castro, destacou a posição brasileira no cenário mundial no que diz respeito ao atendimento primário na área de saúde. ;O Brasil tem o reconhecimento internacional, inclusive pela Organização Mundial da Saúde, devido aos benefícios dessa estratégia [PFS];, disse. Ela citou indicadores em que o país tem tido avanços devido a programas como o PSF, entre eles a redução da mortalidade infantil, da mortalidade materna, das mortes por insuficiência cardíaca e a maior detecção precoce de câncer, como os de útero e de mama.
;A expansão dessa estratégia tem elevado a qualidade de vida dos brasileiros, sobretudo dos mais pobres, e tem aumentado o nível de satisfação da população;, observou Andréa Castro.
Ela ressaltou que esse tipo de assistência médica gera economia aos cofres públicos, pois contribui para o uso mais racional de medicamentos, previne doenças que podem ocasionar tratamentos ou internações e cirurgias bem mais onerosas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Um dos problemas encontrados para garantir a atenção primária no atendimento médico, conforme tem sido discutido no encontro, é a dificuldade de conseguir a permanência dos médicos nas comunidades onde atuam para que conheçam o histórico de cada paciente e, assim, eles possam oferecer um tratamento mais adequado. ;Aquela dor no peito da dona Maria pode estar associada a uma mãe acamada, um filho envolvido com drogas, um problema familiar. O médico de família que acompanha essa paciente vai saber disso. Essa peculiaridade da aproximação do médico de família permite uma melhor atuação do profissional;, avaliou a presidente do congresso.
Para a médica Claunara Shilling de Mendonça, que apresentou no encontro um estudo sobre os impactos da estratégia PSF na saúde dos brasileiros, a não fixação do médico na comunidade está relacionada, principalmente, à falta de médicos especializados no atendimento da saúde da família e de comunidades, nas equipes do PSF. ;Das cerca de 32 mil equipes no Brasil, menos de 2 mil devem contar com esses profissionais especializados em medicina de família e comunidade, que entendem a importância da longitudinalidade do atendimento [permanência em uma única comunidade durante muitos anos];, revelou.
Ainda de acordo com Claunara de Mendonça, por ser uma área relativamente nova e pouco valorizada, em muitos lugares, os vínculos de trabalho são precários, as condições de trabalho são ruins e faltam investimentos na formação desses profissionais, bem como uma boa política de cargos e salários, com perspectivas de crescimento na carreira.
Ela, que foi diretora do Departamento de Atenção Básica (DAB) do Ministério da Saúde até 2010, lembrou que a expansão do acesso à assistência básica ainda é um dos maiores desafios dessa política de Estado, apesar do aumento significativo de clínicas da família pelo país nos últimos cinco anos. ;Algumas cidades brasileiras ainda não estão cobertas pelo Saúde da Família, principalmente nos municípios maiores. Esse é um desafio permanente. Além disso, precisamos do acesso com qualidade, que vai desde à estrutura física ao acesso a exames, remédios e profissionais adequados;.