postado em 27/07/2012 18:09
Rio de Janeiro ; Foram realizados nesta sexta-feira (27/7), no Rio de Janeiro, missa e ato ecumênico em lembrança das crianças mortas na Chacina da Candelária, tragédia ocorrida há 19 anos. Em seguida, os participantes fizeram a Caminhada em Defesa da Vida, que percorreu trecho entre a Igreja da Candelária e a Cinelândia, também no centro da cidade, onde foram realizadas apresentações musicais.
Os organizadores reclamaram da falta de apoio oficial para o transporte dos participantes, o que teria esvaziado a cerimônia. O presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedca), José Pinto Monteiro, disse que foram solicitados, na semana passada, 70 ônibus à Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, que não foram fornecidos. Ele estimou em 3 mil o número de pessoas que deixaram de comparecer à Candelária.
Segundo o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Antonio Claret Campos Filho, presente ao evento, o governo estadual apoiou a marcha e buscou viabilizá-la, reconhecendo o movimento em torno dela e sua importância na luta pelos direitos humanos no município, mas alegou que não teve condição de apoiar a parte de transporte.
O ato de homenagem às vítimas da Candelária ainda tinha direito a R$ 200 mil previstos no Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, valor que também pagaria o custo do transporte, mas o recurso não foi liberado por falta da regularização da comissão de administração do Cedca. Segundo o presidente do conselho, faltou a indicação de membro do governo para esse cargo, o que impede a gestão de recursos do colegiado.
Ocorrida em 23 de julho de 1993, no centro da capital fluminense, a chacina resultou na morte de oito meninos em situação de rua. Na ocasião, mais de 40 crianças e adolescentes dormiam na praça em frente à Igreja da Candelária quando cinco homens desceram de dois carros e fizeram vários disparos na direção do grupo. Na segunda-feira (23/7), associações de mães e entidades sociais fizeram vigília em memória das vítimas da Chacina da Candelária.
No ato e na missa realizados hoje, havia diversas faixas e cartazes, além de fotos de jovens vítimas da violência. Compareceram ao ato parentes de vítimas das chacinas do Borel, Guaratiba e Acari, representantes de mães com filhos internados no Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) e integrantes do Movimento Mães de Maio, de São Paulo.
;A sociedade civil organizada deu uma resposta positiva, porque todos temos uma causa, a de combater de forma intransigente os altos índices de homicídio de adolescentes, sobretudo os meninos negros, que têm sido maioria no Rio de Janeiro;, disse Marisa Chaves de Souza, integrante do Cedca e do Movimento de Mulheres em São Gonçalo.
O esvaziamento do ato foi motivo de diversas manifestações durante as cerimônias no interior da igreja, inclusive por parte dos sacerdotes católicos. ;Quem tem medo da Candelária? Que tem medo do grito das crianças do Rio de Janeiro? Parece que alguém tem medo;, protestou o padre Renato Chiera, da diocese da Baixada Fluminense.
Para o sacerdote, os eventos de homenagem aos mortos da chacina sempre tiveram repercussão. ;Nós sempre tivemos a possibilidade de fazer uma bela caminhada, essa voz ressoava pelo Brasil e pelo mundo inteiro. Será que alguém tem medo disso? Que isso manche a imagem da Cidade Maravilhosa?;, questionou.
O presidente do Cedca, José Pinto Monteiro, disse que a comissão organizadora e o próprio conselho se esforçaram para garantir o transporte, quando a verba de R$ 200 mil não foi liberada. ;O que nós tentamos fazer em cima da hora: buscar requerimento junto à secretaria. Mas isso demanda tempo, e conforme vai se aproximando o dia fatal, fica muito mais fácil justificar a ausência do recurso, por conta do tempo, do que efetivamente arregaçar a manga e ir buscar os caminhos;, criticou.
Monteiro também reclamou do esvaziamento do colegiado. ;O fato é que, por uma sucessão de inconsequências e de desmandos, nós não conseguimos, nesses últimos dois anos, ter uma estruturação do conselho da criança, alinhada com os requerimentos da política administrativa;.