postado em 15/08/2012 18:45
A Amazônia brasileira vive a retomada de descobertas de explorações clandestinas de ouro e diamante, principalmente nos estados do Pará, de Rondônia, Roraima e Mato Grosso. O movimento ocorre na contramão da presença relativamente organizada do garimpo em estados como Minas Gerais, onde cooperativas trabalham na exploração de pedras em estado bruto.;[Na Amazônia brasileira, o garimpo] é consentido. Não oficialmente, mas oficiosamente, porque existe interesse de políticos e comerciantes locais que estão envolvidos no faturamento [do garimpo];, disse o secretário executivo da Agência para o Desenvolvimento Tecnológico da Indústria Mineral Brasileira (Adimb), Onildo Marini.
Um caso emblemático é o da Reserva Roosevelt, no sul de Rondônia, a 500 quilômetros da capital Porto Velho, onde os índios cintas-largas exploram ou autorizam a exploração de diamante ilegal. ;Todo mundo sabe, tem fotografias da região;, disse Marini.
;Não é garimpo de coitadinhos, é de maquinas pesadas. É uma indústria clandestina que tem alguns capitalistas por trás, que agem clandestinamente;, relata Marini. O incremento da atividade tem relação com a valorização do ouro no mercado internacional, que mantém o valor da onça ; unidade equivalente a 31,10 gramas ; acima dos US$ 1,8 mil. No Brasil, a grama do ouro subiu 12% este ano, chegando a valer R$ 106,49.
Durante décadas, na região do Rio Tapajós, milhares de garimpeiros exploraram ouro em aluviões, como são definidos os depósitos superficiais do minério no leito e nas margens dos rios. ;Quando chega no veio, na rachadura das rochas mesmo, ele [garimpeiro] tem grande dificuldade de tirar. Teria que dinamitar e o rendimento é pequeno;, explicou Marini que é geólogo.
Neste momento, segundo Marini, os donos das pequenas ;empresas; do garimpo ilegal param as atividades, mas continuam nas áreas como ;donos de fato; destes territórios. ;Nestas áreas não importa ter o direito legal [autorização para exploração]. Você tem que ter um acordo com quem se diz dono e que está de posse da terra;.
No caso do Tapajós, Marini conta que, para diminuir os riscos de conflitos, as empresas que detinham os direitos da exploração negociaram com os garimpeiros. ;Te dou US$ 5 milhões e a sua área é minha. E aí tudo bem, acaba o conflito no garimpo. A empresa entra com mais segurança e começa a fazer as pesquisas;.
Onildo Marini reconhece, por outro lado, que, no Brasil, tradicionalmente, quem descobre e os minerais é o garimpeiro. ;O garimpeiro é como formiguinhas prospectoras. Eles têm capacidade de se meter no meio do mato, passar 30 dias, com canoa ou a pé até encontrar [o ouro]. E, quando dá o alerta ;bamburrou; [encontrei o ouro], a notícia se espalha em uma velocidade tremenda e de repente tem milhares deles no local;.
O presidente da Associação Brasileira de Pesquisa Mineral, Elmer Prata Salomão, disse que, enquanto os garimpos foram transformados em minerações clandestinas, a atividade continua atraindo milhares de trabalhadores em busca de ascensão social, ainda que submetidos a condições subumanas.
;Imagina uma pessoa completamente analfabeta, com pouca educação, sem especialização de trabalho. Esta pessoa está destinada a passar o resto da vida com um salário mínimo;, descreveu o geólogo. O garimpo acena para este público, como possibilidade de mudar de classe social.
;É fácil chamar as pessoas para esse serviço porque o ganho é bom. Cooptam as pessoas pelo apelo econômico;, disse o coordenador de fiscalização do Instituto Chico Mendes (ICMBio), Leonardo Mesias.[SAIBAMAIS]
Mas, além do fracasso potencial, os trabalhadores nestas áreas vivem em estruturas rudimentares e insalubres. Com a aglomeração de pessoas em um mesmo local, com poucas condições, a transmissão de doenças torna-se comum. Em grandes áreas de garimpo, por exemplo, a malária é doença endêmica.
Segundo Messias, geralmente os trabalhadores migram de um garimpo para outro. ;Tem, inclusive, famílias inteiras no garimpo, com mulheres e crianças. Eles colocam as famílias em risco, vivem em lugares sem condição, sem saúde;.