O aumento no número de vítimas no Pará de escalpelamento ; quando o couro cabeludo é arrancado bruscamente de forma acidental ; forçou um mutirão de médicos enviados ao estado para reparação do rosto e tratamento psicológico dessas pessoas. Apenas nos primeiros oito meses deste ano, a quantidade de acidentes superou a registrada durante o ano passado. Foram nove casos, diante de oito em 2011 e em 2010. Apesar de existir uma lei que obriga os donos de embarcações a cobrirem o eixo do motor e de a Marinha brasileira oferecer esse serviço gratuitamente, a Associação de Mulheres Ribeirinhas e Vítimas de Escalpelamento da Amazônia (AMRVE) reclama da falta de capilaridade do sistema de precaução vigente, que não atinge todos os ribeirinhos da região, e de outras políticas preventivas.
Sem fiscalização, os problemas se agravaram nos últimos meses. Os dois últimos acidentes ocorreram entre julho e agosto, uma senhora de 51 anos e uma criança de 9 estavam em um barco pequeno, sem a proteção, quando tiveram o couro cabeludo arrancado. De acordo com a presidente da associação, Rosinete Serrão, são pessoas que, assim como ela, tiveram seus sonhos ceifados no momento de uma brutalidade inesperada. Em 1997, ela voltava da casa do tio, e, ao tirar a água que entrava no barco, escorregou e o cabelo se enrolou. ;Foi muito rápido. Depois tive de passar por várias cirurgias. O tratamento é longo e dolorido. Só esperando no hospital para fazer o enxerto, que tira pele da coxa e põe na cabeça, são uns três meses até cicatrizar.; Ao sair da unidade de saúde, Rosinete entrou em choque. ;Quando vi as pessoas na rua, foi um choque muito grande porque eu não me aceitava. Todo mundo me olhava, eu era diferente. Foi um ano e meio em depressão.;