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Visitantes dos cemitérios de São Paulo desafiam a insegurança

São Paulo ; Os 22 cemitérios municipais de São Paulo recebem neste Finados cerca de 1,8 milhão de visitantes. A limpeza, a segurança e os acessos foram melhorados. Tudo para que os frequentadores prestem homenagem a parentes e amigos mortos. Porém, o dia a dia é muito diferente, conforme relato das pessoas que visitam e trabalham nos cemitérios.

No cemitério de Vila Formosa, zona leste, os jardineiros relatam que as galerias dos ossários são usadas por usuários de drogas e também por travestis, que fazem programas no local. O jardineiro Valter Ferreira, 65 anos, contou que, durante a semana, o local fica deserto, facilitando a presença dessas pessoas.

De acordo com ele, o problema ocorre principalmente à noite, mas os dependentes químicos e travestis não se intimidam com a luz do dia. ;Eles pedem dinheiro e mostram facas para os familiares que vêm fazer visitas;, disse. Ele reclamou da falta de policiamento no local: ;Passa a Guarda Civil Metropolitana, mas não sempre;.

O cemitério tem 763,175 metros quadrados e dispõe de 80 mil sepulturas. Segundo os jardineiros, as galerias preferidas pelos usuários de drogas e travestis são as mais distantes do portal de entrada, localizado próximo de onde estão o velório e a administração.

Apesar do clima de insegurança dentro do cemitério de Vila Formosa, as condições de conservação e limpeza são consideradas aceitáveis. Exceto algumas ruas sem asfalto e alamedas com calçamento quebrado, o local é bastante arborizado e demostra ter boa manutenção.

Outro cemitério visitado pela reportagem da Agência Brasil, o da Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte da cidade, com 27.896 metros quadrados, não recebe o mesmo zelo na limpeza e conservação. Restos de animais, alimentos e sujeira atraem moscas ao lado das sepulturas. Josefa Guilherme da Silva, aposentada, 75 anos, é vizinha do cemitério e conta que parte da sujeira é causada por grupos que fazem rituais utilizando animais mortos dentro do cemitério.

Vinda há 40 anos de Portugal, Adelaide Amorim, cabeleireira, 61 anos, costuma frequentar o cemitério para prestar as homenagens ao irmão falecido há 25 anos. Ela lembra que os cemitérios europeus são muito mais bem cuidados e, no caso do Vila Nova Cachoeirinha, a parte mais difícil é enfrentar os roubos, que não pouparam nem o túmulo do seu parente. ;Roubaram a placa e o vaso;, reclamou.

Outra frequentadora, Vilma da Silva Mendes, dona de casa, 61 anos, visita o túmulo de sua mãe há 25 anos e lembra que, antigamente, a situação de descuido por lá era pior. ;Antes, até cavalos entravam e destruíam tudo;, disse. Além disso, ela conta que há problemas de segurança dentro do cemitério da Vila Nova Cachoeirinha. ;A capela agora está reformada, mas já esteve cravejada de buracos de bala;, disse.

Um jardineiro, que preferiu não se identificar, trabalha no cemitério há 20 anos. Ele disse que, durante todo esse tempo, presenciou vários assaltos e testemunhou, inclusive, uma morte dentro do cemitério. ;Os assaltos são frequentes e o policiamento é fraco aqui;, disse. De acordo com ele, os bandidos pulam os muros baixos do cemitério, que tem 350 mil metros quadrados, para transitar entre o local e a favela Boi Malhado, que fica ao lado.

Do lado de fora, o clima também é de insegurança. Raimundo Neto da Silva, 27 anos, moedor de cana, trabalha e mora em frente ao cemitério. Segundo ele, os assaltos em uma praça ao lado do cemitério são frequentes. ;Eles roubam aqui [na praça], pulam lá para dentro [do cemitério] e lá não tem como achar mais ;, contou.

De acordo com o diretor do crematório e cemitérios municipais, Ubirajara Adriano Marques, a segurança nesses locais tem apoio da PM e Guarda Civil, que efetua rondas dentro dos cemitérios. Segundo ele, os funcionários também foram orientados a, quando perceberem algum ato ilícito, acionarem os responsáveis pelo policiamento.