postado em 20/11/2012 10:31
Rio de Janeiro - Ao som de atabaques e agogôs, religiosos de vários afoxés (cortejos vinculados ao candomblé) fizeram nesta terça-feira (20/11), Dia da Consciência Negra, a lavagem simbólica do busto de Zumbi dos Palmares, no centro da capital fluminense. O momento foi também de comemorar a melhora de indicadores de igualdade racial e cobrar ações em favor das comunidades quilombolas.Mesmo sob chuva, o cortejo reuniu centenas de pessoas. De acordo com a ekede (um dos cargos mais altos entre os candomblecistas) do Axé Tumbenganga, Carla Bueno, faz parte do fundamento das religiões de matriz africana reverenciar os mais velhos, os ancestrais, ;aqueles que detêm o conhecimento;, entre eles, Zumbi dos Palmares.
;Essa é uma lavagem simbólica, por causa do tempo. Colocamos flores, passamos água de cheiro, que é uma mistura feita de ervas sagradas, para comemorar a festividade de Zumbi, um antepassado, um mártir que não podemos deixar esquecido;, explicou.
Ainda está prevista para esta terça e a apresentação da Escola de Samba Unidos de Vila Isabel, conhecida pelo samba-enredo Kizomba, Festa da Raça, de Martinho da Vila.
Segundo o presidente do Conselho Estadual dos Direitos do Negro, Paulo Roberto Santos, que organiza a manifestação, este ano foi um marco para população negra. Ele destacou a adoção das cotas pelas universidades federais e nos concursos públicos no Rio. Além disso, citou indicadores que começam a apontar redução das diferenças salariais entre negros e brancos.
;Há uma diminuição da distância salarial entre negros [pretos e pardos] e não negros, além da queda da disparidade entre os negros e brancos desempregados;, disse Santos, ao citar pesquisa do Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do governo de São Paulo
O estudo demonstra que, em 2011, o rendimento médio por hora de negros (pretos e pardos) era R$ 6,28, o equivalente a 61% do valor para o restante da população, R$ 10,30. A pesquisa indica ainda que a diferença entre as taxas de desemprego de negros e não negros diminuiu nos últimos anos, embora a do primeiro segmento ainda supere a do segundo, em 2011 (12,2% e 9,6%, respectivamente). Essa diferença, de 2,6 pontos percentuais, correspondia a 7,2 pontos percentuais, em 2002.
Na capital fluminense, Santos também destacou a revitalização do Cais do Valongo, área onde os pesquisadoras estimam o desembarque de milhares de africanos escravizados, e o tombamento do prédio Docas Dom Pedro II, onde foram achadas peças arqueológicas.
Ele cobrou o avanço na titulação de terras de comunidades quilombolas no estado, pelo governo federal.
Sobre a Comunidade Quilombola Marambaia, na Baía de Sepetiba, onde há uma base militar da Marinha, Santos disse que espera uma solução. ;[A regularização] é muito difícil porque eles [os militares] se acham soberano da terra. Mas vamos vencer porque a terra é de quem vive nela, é direito;, destacou.
Das cerca de 30 comunidades quilombolas fluminenses que defendem o reconhecimento da terra que ocupam, conforme garante a Constituição, apenas duas têm a posse garantida. É o caso de Campinho, em Paraty, no sul do estado, e Preto Forro, em Cabo Frio, na Região dos Lagos.
Procurado pela Agência Brasil, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Brasília, não informou sobre os processos parados na autarquia.