postado em 27/11/2012 10:12
; Luana Cruz; Landercy Hemerson
; Thiago Lemos
; Guilherme Paranaiba
O clima continua tenso no Aglomerado da Serra Região Centro-Sul de Belo Horizonte, nesta terça-feira. Por volta de 1h19, alguns moradores incendiaram um ônibus fretado da Saritur que levaria trabalhadores à comunidade. Segundo a Polícia Militar (PM), homens armados montaram uma barricada com uma caçamba, invadiram o veículo, mandaram os passageiros descerem e colocaram fogo. Um caminhão reboque foi acionado para retirar esse veículo, mas também foi alvo de ataques de moradores. O caminhão não foi totalmente destruído, no entanto está muito danificado.
Cerca de 30 policiais militares, em 10 viaturas, ocupam o aglomerado hoje na tentativa de conter protestos da população e garantir a segurança. Alguns serviços para a população já estão prejudicados, como por exemplo o transporte público. Os coletivos da linhas 4107 (Caiçara/Serra) e suplementar 102 (Nossa Senhora de Fátima/Hospital Evangélico) não estão subindo até o ponto final dentro do aglomerado e os passageiros precisam sair da comunidade para pegar os ônibus.
Parte das casas na comunidade ficaram sem luz na madrugada. De acordo com a Cemig, uma equipe técnica foi ao por volta de 1h30 aglomerado e restabeleceu o fornecimento para alguns consumidores, mas outro ficaram sem energia. Na manhã de hoje, técnicos vão voltar à região, escoltados pela PM, para terminar os trabalhos.
A morte do servente de pedreiro Helenilson Eustáquio da Silva Souza, de 24 anos, durante uma abordagem de policiais militares é o motivo da revolta entre alguns moradores. Na segunda-feira, um ônibus foi queimado e houve tentativa de incendiar um micro-ônibus, que acabou depredado. Parentes do servente garantem que ele foi executado friamente com um tiro na cabeça por um sargento do Policiamento em Áreas de Risco (Gepar). Os policiais envolvidos na ocorrência afirmam que a vítima estava armada, em companhia de três homens, e reagiu, sendo então atingida no peito.
O tenente-coronel Alberto Luiz Alves, assessor de comunicação da corporação, disse que Helenílson tem envolvimento com o tráfico de drogas e já teve um mandado de prisão contra ele. No entanto, o coronel afirma que independente disso a atuação da PM tem que se voltar para preservação da vida. O sargento que atirou no servente de pedreiro tem 19 anos de carreira militar, e segundo o coronel, nunca se envolveu em problemas e é um profissional preparado para trabalhar em comunidades.
A Corregedoria da PM foi acionada para averiguar se houve excessos, assim como uma equipe da Divisão de Crimes contra a Vida, da Polícia Civil, que está apurando as circunstâncias da morte. O sargento que fez o disparo, um cabo e um soldado que o acompanhavam foram presos em flagrante. A morte do servente repercutiu rapidamente entre a população do aglomerado, que tomou as ruas em protesto. Os moradores chegaram a enfrentar a polícia lançando pedras e foguetes, sendo repreendidos com balas de borracha e bombas de efeito moral.
O fato ocorreu por volta das 16h de ontem, entre os becos João Paulo II e Pássaros, na Vila Marçola, próximo à Rua da Água. De acordo com o tenente Antônio Teodoro, do 22; Batalhão, desde as 10h o Centro de Operações da PM vinha recebendo informações de que homens armados teriam sido vistos circulando na esquina das ruas Mangabeiras e da Água, no aglomerado. ;Uma equipe do Gepar da 127; Cia. do 22; Batalhão veio verificar o que estava acontecendo. Foi aí que, ao se deparar com os homens, um deles armado, eles se assustaram e um reagiu, sendo baleado no peito. Estamos registrando a ocorrência como lesão corporal seguida de morte, já que os nossos policiais prestaram socorro ao baleado.; Segundo o tenente, os outros homens conseguiram escapar.
De acordo com a PM, uma arma não identificada foi recolhida e será anexada ao boletim de ocorrência. Os militares garantem que ela estava com Helenilson no momento da abordagem, informação que foi contestada por moradores da vila e familiares dele que afirmam que a arma foi ;plantada;. Testemunhas disseram que a vítima estava fumando maconha sentado na entrada do beco. Ao ver a viatura, teria se assustado correu. No fim da travessia ele se deparou com o sargento da PM que fez o disparo mortal. Ainda de acordo com o relato de moradores, após o disparo, o sargento deixou o local apressado pedindo que uma outra equipe ;resolvesse de qualquer jeito a situação;, relatou um operador de máquina de 27 anos.
Outra versão
A mãe do servente, Zelita Silva, de 61 anos, contestou a versão da polícia. ;Meu filho era usuário de droga, mas não tinha arma. Ele trabalhou durante todo o dia enchendo laje na casa do irmão e no final da tarde tomou banho e saiu para dar uma volta, quando foi baleado covardemente na cabeça pelo sargento Vítor;, disse. Horas depois do crime, a Polícia Militar chegou à Vila Marçola, inclusive com agentes do Batalhão de Eventos, e, na tentativa de isolar o local, houve reação de moradores que soltaram foguetes e jogaram pedras em viaturas.
O clima ficou bastante tenso entre moradores e militares, tendo sido necessária a intermediação do coronel Antônio Carvalho, do Comando de Policiamento Especializado (CPE). Ele garantiu que haverá uma investigação da Corregedoria da PM e da Polícia Civil, que já tinham representantes no local. Também será investigado quem são os responsáveis por queimar o ônibus da linha 9031, na Rua Nossa Senhora de Fátima, na vila homônima. Durante a ocorrência, chegou-se a apontar a possibilidade de que o homem morto e os outros envolvidos seriam responsáveis por uma saidinha de banco no Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul. Porém, equipes da Divisão de Crimes Contra a Vida descartaram essa ligação.