postado em 01/12/2012 14:32
A presença cada vez maior de estudantes brasileiros em Portugal tem feito com que a imagem do Brasil ; distorcida muitas vezes por causa de clichês e estereótipos ; mude aos olhos dos lusitanos. Na avaliação de estudantes do Programa Ciência sem Fronteiras, alunos e professores de grandes instituições portuguesas têm se deparado com uma nova visão do Brasil a partir da vivência com os bolsistas.;A gente está mostrando um outro lado do Brasil para eles;, diz Maiara Sakamoto Lopes, aluna de engenharia ambiental na Universidade Estadual Paulista (Unesp, Rio Claro), que, desde setembro, estuda na Universidade de Lisboa.
;A visão que eles [os portugueses] têm é a do Tropa de Elite e a do Carandiru [filmes brasileiros que abordam a violência]. Achei curioso, eles vieram perguntar onde há mais favela - se é no Rio ou em São Paulo. Sempre perguntam de futebol e acham que no Brasil só tem axé;, lamenta a estudante. Estigmas e clichês à parte, o Brasil tem sido ;muito bem visto; por causa do Ciência sem Fronteiras, avalia a bolsista. ;Eles sabem que os estudantes estão aqui por incentivo do governo.;
Aluno de enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Elias Dias faz graduação-sanduíche na Universidade de Coimbra. ;Em uma aula sobre saúde da mulher e saúde da criança eu dei informações sobre o nosso SUS [Sistema Único de Saúde] que eles [colegas e professores portugueses] não conheciam. Não há um sistema assim aqui.;
Para alguns bolsistas, além de melhorara imagem do Brasil no exterior, o Programa Ciência sem Fronteira elevaa autoestima dos brasileiros. ;O complexo de vira-lata que [o dramaturgo e cronista] Nélson Rodrigues dizia nunca foi tão falso;, diz Gabriel dos Passos Gomes, estudante de química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e bolsista na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Segundo ele, o contato com os alunos e professores portugueses e de outras partes do mundo na instituição é interessante para comparar a formação e a capacidade dos brasileiros.
;Não somos menos capazes;, avalia, destacando que o estudante brasileiro é autodidata e ;aprende a se virar muito bem;. De acordo com o aluno, uma das diferenças do ensino entre os dois países é que, em Portugal, as aulas aliam teoria e prática. ;Não temos aula para praticar no Brasil com acompanhamento do professor. Isso faz falta;, diz Gabriel.
;Pude ver aqui a aplicabilidade do que aprendi;, confirma Aline Pacheco Albuquerque, estudante de química industrial na Universidade Estadual da Paraíba (Campina Grande). Assim como Gabriel, ela é bolsista na Universidade de Lisboa e lembra que, no Brasil, não teve ;aula para praticar;.
O paraibano Henrique Borborema, aluno de biologia da Universidade Federal da Paraíba, também elogia o modelo português. ;O que a gente vê aqui na teoria a gente imediatamente vê na prática, nos laboratórios ou nos computadores;, conta. ;Na minha universidade, e no Brasil, há essa deficiência de a teoria ficar às vezes solta;, completa.
Os estudantes entrevistados pela Agência Brasil acreditam que o comportamento extrovertido dos brasileiros favorece o relacionamento com colegas e professores. ;Eles [os estudantes portugueses] não perguntam tanto. Às vezes estão lá, sem entender, e não perguntam;, observa a estudante Aline Albuquerque.
Para a presidenta da Associação de Pesquisadores e Estudantes Brasileiros em Coimbra (Apeb-Coimbra), Viviane Carrico, a maior aproximação do brasileiro ocorre porque ;o contato institucional no Brasil é diferente; e menos formal.