Belo Horizonte - Esqueçam os pombos de chão e telhado, chamados ;ratos com asas;, tão criticados nos grandes centros urbanos. Pensem agora nos heróis de penas, mensageiros dos ventos, capazes de salvar batalhões inteiros com bilhetes e mapas nas canelas durante as grandes guerras. Nas asas do tempo, no século 21, longe das praças, vacinados e bem alimentados, protegidos contra doenças, estão os pombos-correio, sobreviventes a era digital, presentes em pelo menos 90 federações, com cerca de 400 mil criadores mundo afora. No Brasil, Minas Gerais lidera a criação desses bravos do céu, treinados para competição, com 350 aficionados, dos 2 mil registros em todo o país.
Em Belo Horizonte, só o Columbódromo BH, no Bairro Dom Silvério, na Região Nordeste, reúne 50 associados e promove, por ano, 12 provas de velocidade e distância ; chamadas ;meio fundo; e ;fundo;, com até 800 quilômetros de linha reta entre Bahia e Minas. As premiações são variadas e chegam a distribuir veículos zero quilômetro. Por essas bandas, uma ave campeã pode custar até R$ 5 mil. A paixão dos mineiros pelos pombos-correio não surpreende o diretor da Federação Columbófila Brasileira, Márcio Mattos Borges de Oliveira, de 53, de Ribeirão Preto, São Paulo. ;Minas é um estado, tradicionalmente, de muito carinho com os pássaros, de raízes;, considera.
O professor de matemática da Universidade de São Paulo (USP), criador desde 1979, tem 300 aves e orgulha-se de quarta colocação em mundial de Portugal. Também registra o feito de 10 de seus pombos, em 2008, que deixaram a divisa de Minas e Bahia, no Vale do Mucuri, às 6h15, e voltaram a Ribeirão Preto, às 15h45, com o tempo de 44 segundos entre o primeiro e o último a tocar a placa de chegada. Das lições retiradas do pombal e dos cuidados com a criação, Márcio fala em ;disciplina e conhecimento;. ;O criador não tem sábado, domingo nem feriado. É preciso também leitura. O criador se torna um especialista em nutrição;, explica.
O som do bater das asas da ;esquadrilha; e o céu em movimento despertam os olhares dos passantes da Rua Marfisa de Souza Raposo e adjacências, na Região Nordeste. Até os vizinhos mais acostumados não resistem e param para esquadrinhar as nuvens durante os treinos dos 250 ;atletas;. Cena que, há 25 anos, se repete todos os dias e ainda emociona Welington Perdigão Lima, de 60, torneiro mecânico e presidente da Sociedade Columbófila Pampulha. Ele e a mulher, Denise Marçal, reproduzem e treinam pombos, organização as competições anuais, além de dar assistência aos 50 associados do clube. Nos dois últimos anos, por temporada, Welington tem percorrido 14 mil quilômetros com o caminhão que transporta as aves competidoras, enquanto Denise cuida da aferição e dos registros eletrônicos de cada evento.