Brasil

Ex-ministro sugere criação de grupo para garantir alimentação mundial

A missão do Grupo de Produtores seria elaborar um programa para garantir a segurança alimentar nos próximos anos, face ao aumento da população mundial

postado em 25/01/2013 19:09
Rio de Janeiro ; O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues encaminhou à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) sugestão para criação de um grupo de países, que teria o nome de Grupo de Produtores (GP), cuja missão seria elaborar um programa para garantir a segurança alimentar nos próximos anos, face ao aumento da população mundial.

De acordo com o ministro, a exemplo de outros grupos que reúnem países alinhados com interesses mais ou menos comuns sobre determinado assunto - como o G20, que reúne as maiores economias do mundo - o GP seria integrado por 15 nações produtoras dos cinco continentes. Para Rodrigues, por sua capacidade produtiva e posição geográfica, o Brasil poderia liderar a iniciativa, que ficaria sob a gestão executiva da FAO.

Roberto Rodrigues, que é presidente da Academia Nacional de Agricultura da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), sugere que o Itamaraty se coloque à frente da criação do GP, que teria como membros naturais Brasil e Argentina, na América do Sul; Canadá e Estados Unidos, na América do Norte; Ucrânia, Rússia e República Tcheca, na Europa; Indonésia, Malásia, Índia, Tailândia, na Ásia; e Sudão, Congo, Moçambique e África do Sul, na África.

Em entrevista nesta sexta-feira (25/1) à Agência Brasil, Roberto Rodrigues criticou o fato de todo mundo discutir segurança alimentar, mas deixar o debate ficar na teoria. ;Todo mundo fala, mas ninguém faz nada. Eu atribuo esse não fazer nada a uma falta de liderança global capaz de compreender o assunto;, explicou. Para o ex-ministro, o interesse deve ser global, porque segurança alimentar ;é garantia de paz, de triunfo da democracia;.

Segundo o ex-ministro, os governos não têm políticas voltadas para aumento da produção, logística, estocagem ou para mecanismos de financiamento de caráter global. ;Ficam no discurso e a coisa não avança;. Por isso, explica, desenvolveu a ideia de criação de um grupo de produtores, ;capazes de aumentar a produção de verdade;.

São países, de acordo com ele, que possuam terras disponíveis, tecnologias já em funcionamento ou facilmente assimiláveis, além de gente habilitada para produzir rapidamente, ;se as políticas públicas acontecerem;.

Rodrigues disse que o mundo contemporâneo não gosta de estoques, porque eles inibem a volatilidade e especulação. Salientou, porém, que frente a episódios como a recente seca nos Estados Unidos, que reduziu os estoques e elevou bastante os preços dos produtos, a formação de um estoque global poderia ser uma solução.

De acordo com o ex-ministro, o GP poderia ter estoques estéreis em relação ao país onde seria formado. Se, por exemplo, o estoque estivesse fisicamente no Brasil, isso inibiria a ação das bolsas de alimentos. ;Mas esse estoque não pode ser manipulado pelo governo brasileiro, nem para abastecer, nem para mitigar aumento de preços, para nada. Ele é um estoque com governança global, cuja única função é [ser] um estoque estratégico para a hipótese de faltar comida nos países onde isso aconteça;, explicou.

Outros temas, como seguro rural, preço mínimo, regras de comércio, teriam de ser desenvolvidos em conjunto por esses países produtores, ;sob a batuta da FAO;. Rodrigues não tem dúvidas de que o Brasil poderia liderar esse grupo mundial de produtores, ;até porque o diretor-geral da FAO é brasileiro [José Graziano da Silva];, disse.



O cooperativismo seria outro instrumento do GP. Lembrou que, em países pobres, não bastam políticas públicas para desenvolver a agricultura. ;Tem que haver também uma ação privada, de articulação e coordenação. E o cooperativismo é o único mecanismo que funcionaria nesses países para permitir o acesso dos pequenos produtores ao mercado;.

Rodrigues admitiu que o projeto demandaria recursos elevados, talvez envolvendo financiamento de organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) ou o Banco Mundial. ;Por isso, teriam de ser investimentos de caráter global;. Estimou que estoques da ordem de 20 milhões a 30 milhões de toneladas, poderiam dar um número mínimo de segurança alimentar.

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