Rodrigo Craveiro
postado em 28/01/2013 08:40
Gaúcho da cidade de Alegrete, Murilo Xavier Lima, 22 anos, mora em Brasília há um ano e meio, onde estuda para concursos. Na quinta-feira, ele chegou a Santa Maria (RS) para visitar o irmão, aluno de fisioterapia. Dois dias depois, ambos decidiram ir à boate Kiss. A balada de sábado à noite terminou com Murilo e o irmão ajudando no resgate dos corpos e na notícia da morte de um dos amigos. ;Chegamos por volta das 2h à boate e o fogo se alastrou após meia hora. O vocalista (da banda Gurizada Fandangueira) disparou um sinalizador e as chamas tocaram o teto. Ele tentou apagar com extintor e, quando não funcionou, as pessoas ficaram apavoradas;, contou ao Correio, por telefone. ;Tudo aconteceu em questão de dois ou três minutos. Eu e meu irmão conseguimos sair no começo. Os seguranças achavam que se tratava de briga e tentaram barrar todo mundo. Achavam que a gente estava dando alguma desculpa para sair sem pagar;, acrescentou.Quis o destino que o também gaúcho Eduardo Barcellos Nunes, 18 anos, mudasse o programa de fim de semana e preferisse prestigiar a formatura de um amigo em Santo Ângelo, a 220km de Santa Maria. O jovem viveu em Brasília durante quatro anos e cursou o ensino médio no Colégio Militar, na Asa Norte. Há um mês, a família voltou para Santa Maria e Eduardo se matriculou em um cursinho pré-vestibular. Ele esteve por quatro vezes na boate Kiss. ;A estrutura do lugar era boa, bem grande e com novas instalações. Era uma das melhores boates da cidade;, comentou. Segundo o estudante, apresentações pirotécnicas eram rotineiras, antes das atrações musicais. ;Sempre vi shows com minifogos de artifício dentro do estabelecimento. Antes de uma banda tocar, por exemplo, surgiam faíscas no palco;, lembra.
Em Brasília, onde mora há 21 anos, a advogada gaúcha Estela Lopes teve um domingo marcado pela tristeza e pela saudade. O primo, Vinicius Greff, de 24 anos, morreu dentro da boate. ;Era um menino tão lindo, jovem, alegre, divertido, educado, gentil e muito amado por todos. Uma perda imensurável;, lamenta. Durante todo o dia, ela e a família ficaram na esperança de encontrar Vini com vida. No fim da tarde, a morte do rapaz foi confirmada. ;Os pais dele estão em choque e tiveram que ser medicados. Seu irmão gêmeo está inconsolável. Toda nossa família, espalhada pelo Rio Grande do Sul, pelo Paraná e por Brasília, se mobiliza para o enterro;, relatou.
[SAIBAMAIS]Assim como os outros jovens que estavam na Kiss, o técnico em informática Gilson Adolfo Alves, de 23 anos, só queria se divertir. Às 23h de sábado, ele havia acabado de chegar à casa dos tios, depois de uma viagem de 600km desde União da Vitória (PR). Soube da festa e decidiu curtir a noite com dois amigos, também paranaenses. Cerca de três horas depois, eles conseguiram abandonar o estabelecimento após lutarem pela própria vida e presenciarem, impotentes, o horror.
;Nós entramos e pagamos. No início da madrugada, o vocalista da banda disparou um sinalizador, a chama tocou o teto e todo mundo começou a gritar ;Fogo!’, ;Fogo!’. Na hora, eu e meus amigos olhamos para o lado e não vimos nada. De repente, começou a descer uma fumaça negra e fomos ao banheiro, mas estava cheio de gente e algumas pessoas estavam caídas no chão. Tentamos sair e dois seguranças nos impediram, ao afirmarem que tínhamos que pagar;, relatou ao Correio, por telefone. ;Eu caí e fui pisoteado, meu braço está machucado;, afirmou, em meio ao choro.
Ele só pôde sair da Kiss depois de empurrar os seguranças. ;As mulheres gritavam e choravam, e os funcionários nem davam bola.; Ele contou ter visto vários mortos dentro de um caminhão. ;Os bombeiros demoraram uns 10 ou 15 minutos depois que saímos. Graças a Deus, não desmaiei, se não teria morrido.; Ezequiel Real usou o Facebook para descrever a madrugada de pesadelo. ;Acompanhei o início do fogo, que se propagou pelo teto. Muita gente entrou em pânico, caiu e desmaiou uma sobre a outra. Era um mar de gente atirada;, disse. Ele presenciou pessoas se escondendo até dentro de freezers. Ao ver que não sairia pela porta, buscou a saída lateral. ;Eu olhava para baixo e via que pisava sobre mulheres e homens desmaiados.; Lá fora, o remorso pesou e decidiu voltar para ajudá-las. Na área VIP, viu muitos corpos. ;Tinha gente pendurada em grades, pessoas empilhadas. Não eram uma ou duas dezenas, era muita gente.;