Brasil

De luto, Brasil enterra os mortos de tragédia em boate

Agência France-Presse
postado em 28/01/2013 11:40
Santa Maria - O Brasil enterra nesta segunda-feira 928/1) os mortos do fatal incêndio em uma boate do sul do país, após um velório coletivo de várias das 231 vítimas, a maioria jovens universitários.

O país amanheceu consternado pela tragédia, que também deixou 116 feridos, mais de 80 em estado grave. A presidente Dilma Rousseff, que no domingo encurtou sua viagem ao Chile para se reunir com as famílias das vítimas, decretou três dias de luto nacional.

As comemorações em Brasília pelo início da contagem regressiva a 500 dias da Copa do Mundo de 2014, que o país sediará, foram canceladas pelas autoridades e pela Fifa.

Como sede do Mundial de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, o Brasil encontra-se sob os olhares da organizações esportivas internacionais, que têm como uma das prioridades a segurança dos maiores eventos esportivos do mundo.



O fogo começou na madrugada de domingo na boate Kiss da cidade de Santa Maria, com um sinalizador utilizado por um integrante do grupo musical "Gurizada Fandangueira", que se apresentava no local, segundo os bombeiros.

Ao menos no início, a porta de saída foi bloqueada pelos seguranças, que tentavam fazer com que as pessoas pagassem sua entrada antes de sair, segundo sobreviventes.

Em meio a uma nuvem negra de fumaça tóxica, o pânico se apoderou de centenas de pessoas, que pisoteavam umas às outras e que viveram "um filme de terror", disse à AFP Kelly Rebelo da Silva, uma estudante de química de 21 anos.

A licença dos bombeiros que a boate precisa ter para abrir suas portas estava vencida desde agosto, indicaram as autoridades. Mas a boate informou em um comunicado que "tudo estava em ordem" e que o ocorrido foi "uma fatalidade".

Um velório coletivo para 24 pessoas ocorreu na madrugada desta segunda-feira no centro esportivo municipal, para onde dezenas de cadáveres foram levados.

Ao fim da madrugada, um silêncio perturbador tomava conta do ginásio. O corpo de Luis Dias Oliveira descansava sobre uma base de madeira. Seus familiares, resignados e com os olhos inchados e vermelhos, colocaram em cima do caixão uma bandeira do Rio Grande do Sul e uma foto na qual aparece de perfil, com o rosto sério.

"Foi um filho maravilhoso"

Em um dos muitos caixões alinhados um ao lado do outro, rodeados por cadeiras de plástico nas quais amigos e familiares se sentavam, estavam as cinzas de João Carlos Barellos da Silva, que dirigia um site que cobria as festas da boate Kiss.

João Carlos foi encontrado morto no banheiro do local. Cerca de 180 pessoas faleceram nos banheiros, asfixiadas em meio a um tumulto provocado pelo pânico, buscando, de forma infrutífera, a porta de saída, disse o capitão da polícia militar Edi Paulo Garcia.

"Foi um filho maravilhoso. Isto é muito difícil, era meu filho único, eu o criei praticamente sozinha porque seu pai faleceu quando ele tinha 8 anos. Tive que reconhecê-lo entre esta quantidade de corpos (...) Esta é uma dor que não tem comparação", disse à AFP sua mãe, Gelsa Ina Barcelos.

O número oficial de mortos foi revisado em baixa, de 233 para 231, porque alguns corpos foram "identificados duas vezes", explicaram as autoridades.

Mais de 80 feridos em estado grave continuavam hospitalizados em Santa Maria, a cidade universitária onde ocorreu a tragédia, assim como em Porto Alegre, muitos lutando por suas vidas, explicou nesta segunda-feira o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

A entrada da boate estava fechada nesta segunda-feira e era vigiada por dois policiais, à espera da chegada de especialistas que realizarão uma perícia no local, constatou a AFP.

Os moradores da cidade universitária, com uma população de cerca de 260 mil pessoas, colocaram flores em frente à boate, onde também se amontoavam montanhas de escombros das paredes derrubadas pelas equipes de resgate para tentar salvar mais vítimas.

"É muito triste, perdi 13, 14 companheiros de classe. Dos amigos, um. Todos sabiam dessa festa na boate", disse à AFP Felipe, de 22 anos, que com um grupo de amigos passou nesta segunda-feira em frente à boate a caminho de Uruguaiana, na fronteira com o Uruguai, onde seu amigo será enterrado.

Este é o segundo pior incêndio da história do Brasil, após o ocorrido em um circo de Niterói em 1961, que deixou 503 mortos.

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