postado em 28/01/2013 15:30
Rio de Janeiro - O trágico incêndio em uma boate de Santa Maria soou o alarme sobre a segurança de locais públicos no Brasil, a 500 dias do início da Copa do Mundo, para além das normas rígidas impostas pela Fifa aos estádios, de acordo com especialistas.O que aconteceu na madrugada de sábado para domingo, com a morte de 231 pessoas, "vai alterar a percepção do Brasil no exterior, porque os visitantes vão se preocupar com sua segurança", ressalta Pablo Enrique Azevedo, coordenador do Laboratório de Pesquisa sobre a Gestão do Esporte na Universidade de Brasília.
"Mas depois de uma tragédia, devemos esperar uma resposta rígida das autoridades. Provavelmente haverá um reforço dos controles de segurança, porque a legislação já é muito severa. O que peca são os controles, que são muito frágeis em áreas de alta demanda", acrescenta o especialista, que acompanha os preparativos para a Copa de 2014 no Brasil e os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro.
"Infelizmente, é preciso acontecer o que ocorreu no domingo para que haja um controle mais rigoroso dos espaços que acomodam grandes multidões", disse ele. Ainda assim, as instâncias esportivas locais e internacionais querem tranquilizar.
A tragédia de Santa Maria, causada por seguidos atos de negligência e descuido, "não tem nada a ver com a segurança dos estádios durante a Copa das Confederações (de 15 de junho a 30 no Brasil) e do Mundial de 2014", declarou nesta segunda-feira o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke.
"Temos um plano de contingência para evacuar um estádio inteiro no espaço de oito minutos", argumentou o chefe da Federação Internacional de Futebol (Fifa), reafirmando sua "plena confiança" no Comitê Organizador Local do Mundial-2014.
Já o diretor de comunicação do Comitê Organizador Local do Jogos Olímpicos-2016, Carlos Villanova, foi ainda mais longe: "Poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo", assegurou.
"Mas isso não tem nada a ver com a capacidade do Brasil de organizar eventos de massa, como é demonstrado há décadas com o carnaval carioca e os fogos de artifício de Ano Novo na praia Copacabana", que atraem sem intercorrências até dois milhões de pessoas, acrescentou Villanova.
A diferença é que esses compromissos festivos e amigáveis estão distantes das paixões, por vezes violentas, desencadeadas pelo futebol em lugares com um afluxo de milhares de torcedores, muitas vezes alcoolizados.
O perigo real não são os estádios em si, considera o pesquisador brasileiro Pedro Trengouse, consultor da ONU para a Copa do Mundo.
"Os trabalhos nos estádios da Copa do Mundo estão sendo realizados em conformidade com os requisitos de segurança mais rigorosos do mundo, e eles também foram aprovados pela Fifa", observou.
[SAIBAMAIS]O lendário estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, foi remodelado com um número de lugares consideravelmente reduzido. Terá assentos numerados no lugar de suas antigas e rudimentares arquibancadas de concreto, onde se aglutinava o maior número de torcedores.
"A preocupação é que, até agora, não houve nenhum planejamento de segurança, fora dos locais de encontros oficiais e fora das 12 cidades-sede da Copa do Mundo", ressalta Trengouse.
"No entanto, oficiais ou não, haverá telões em todas as cidades, que vão reunir multidões em todos os bairros", acrescenta.
Este especialista lembra que, assim como na Copa do Mundo na África do Sul, em 2010, 20.000 pessoas devem se reunir diariamente em frente ao telão na praia de Copacabana para acompanhar os jogos. Mas, paralelamente, uma tela instalada no bairro da Tijuca, também deverá atrair todo os dias 40 mil pessoas ...
"As forças de segurança devem planejar todos estes eventos paralelos", prossegue Trengouse, que espera que, paradoxalmente, a catástrofe de Santa Maria ajudará na conscientização.
Ele ressalta que a tragédia no estádio de Hillsborough, em Sheffield, onde 95 torcedores morreram em um tumulto em 1989, levou a uma revisão completa da segurança nos estádios.