postado em 29/01/2013 19:48
Rio de Janeiro ; O coordenador de mestrado em defesa e segurança civil da Universidade Federal Fluminense (UFF), Airton Bodstein de Barros, disse hoje à Agência Brasil que as boates são um problema sério, ;porque ali a coisa comercial é muito forte;. Segundo ele, os proprietários desses estabelecimentos têm mais preocupação em evitar a evasão de receita, isto é, que as pessoas saiam sem pagar, do que com a segurança das pessoas. ;Isso é muito grave porque normas básicas de segurança não são respeitadas;, como foi o caso específico da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde morreram cerca de 234 jovens.O professor lembrou que o estabelecimento tinha apenas uma porta para entrada e saída, o que embora seja ;um absurdo;, é permitido pela legislação. ;Tem que rever isso;, disse. Ele comentou que normas como essa são feitas, muitas vezes, em um contexto e época determinados e acabam desatualizadas. ;Deveria ser obrigatório, em local que abrigue mais de 100 pessoas, haver mais de uma porta de saída. Não interessa o tamanho da porta. No mínimo, duas saídas tem que ter;.
Outro ponto que Barros destacou foi o escapamento de gases. Para ele, a casa noturna não pode fechar todas as saídas porque todos sabem que, em um incêndio, o que mais mata é a fumaça, não é o fogo, advertiu. ;A fumaça é muito rápida. É um gás em expansão, aquecido. Ele vai para cima. Se [houvesse] uma saída no teto ; outra norma que pouca gente respeita -, a fumaça sairia e daria mais chance às pessoas de escaparem;.
Segundo o especialista, existe uma série de procedimentos que podem reduzir o risco de morte, ;pelo menos em grande número;. Essas providências devem ser tomadas também em escolas, academias, igrejas, universidades, como a própria UFF, que ;apresentam risco de desastre;.
[SAIBAMAIS]Outro problema grave, lembrou, é que muitos desses lugares públicos quando vão tirar o alvará de funcionamento, procuram respeitar o mínimo possível as exigências de segurança. ;Uma vez com o alvará na mão, eles modificam isso. É comum cinemas, teatros e, principalmente, clubes noturnos fecharem as saídas de emergência com cadeados;.
No caso das saídas de emergência, as portas são feitas para serem abertas de dentro para fora e o argumento apresentado pelos donos de estabelecimentos para mantê-las trancadas é que muitos jovens provocam brigas dentro dos ambientes para sair sem pagar. ;É um argumento mas não justifica você trancar as portas de segurança. Eles que procurem outras formas de evitar essa perda. Mas nunca comprometendo a vida das pessoas;.
Segundo Barros, muita coisa pode ser feita, mas isso vai depender de uma mudança de comportamento do setor empresarial. ;As pessoas não podem mais continuar buscando lucro a qualquer preço. Caso eles não [mudem de comportamento], o governo tem que fiscalizar e punir;. A única solução que o professor vê a curto prazo é a mobilização da própria população, denunciando os estabelecimentos que não estiverem cumprindo as regras de segurança. ;Se as pessoas não forem a esses locais, vai pesar no bolso [dos proprietários] e aí vai haver mudança;.