Jornal Correio Braziliense

Brasil

Artigo: República do bolo de rolo

A pedido da direção do Livro dos Recordes, republicarei hoje um artigo de 30/5/2004

Nada de efeitos do PIB, acordos nucleares fechados na China ou as trapalhadas dos políticos para definir o salário mínimo.

Hoje vou tratar da mania de grandeza. Piadinha que circula na Internet acusa os pernambucanos de serem os mais megalomaníacos dos brasileiros e estarem no topo de um tal de IGPM (Índice Geral de Pouca Modéstia).

Apesar dos riscos, ignorarei os conselhos do pai do ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, seu Luiz, que recomendava aos filhos omitirem o fato de serem pernambucanos para não humilhar os colegas. Sei o quanto me custará a revelação, mas não há como negar, sim, eu também sou pernambucana - sem falsa modéstia.

Nunca fomos muitos aqui em Brasília. Somos hoje 41 mil. Ultrapassamos paulistas, cariocas, gaúchos, paranaenses, capixabas, acrianos, paraenses. Perdemos para mineiros, baianos, maranhenses, cearenses e goianos. Mas isso é irrelevante. O curioso mesmo é que fomos os primeiros. Os primeiros, sim, o pioneiro número um do DF era um pernambucano. Brasília, que hoje se orgulha de ter a população nativa maior do que a de forasteiros, no princípio, era genuinamente pernambucana.

Os nascidos aqui representam, segundo o IBGE, 57,6% da população. E tudo começou com um Zé de Caruaru. Modéstias às favas, é demais, não? Muitos confundem essa pernambucanidade, esse bairrismo sadio, com mania de grandeza e, portanto, estranham o fato de sermos os únicos aqui a colocar nos carros adesivos da bandeira do nosso estado e a pôr no celular o hino de Pernambuco, Imortal, Imortal.

Não é verdade que superlativamos tudo. Não é culpa nossa se muita das criações do estado estejam no Livro dos Recordes. O Galo da Madrugada é o maior bloco de carnaval do mundo: conduz 1,5 milhão de pessoas às ruas. A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém é o maior teatro ao ar livre do planeta, e o São João de Caruaru - está no Guiness Book - é o maior do universo. O Diario de Pernambuco é o mais antigo jornal em circulação da América Latina.

Motivos não nos faltam, talvez nos falte certa dose de humildade, mas nem o pernambucano consegue ser perfeito.

A nossa extensa lista de vantagens não terminou: a maior avenida do país, a Caxangá, fica no Recife. O Santa Cruz, meu glorioso time, fez o primeiro artilheiro nordestino do campeonato brasileiro, Ramon, nos idos de 1973. Estudo da Fundação Getulio Vargas - que aponta as características econômicas de cada região - mostra que somos os mais eficientes no comércio (influência dos holandeses?). Ah, a primeira sinagoga da América Latina fica no Recife.

Vá lá: somos os primeiros também em campeonatos que não orgulham ninguém. Recife lidera o desemprego no país e abriga o maior polígono de maconha do mundo.

A primeira emissora de rádio da América Latina, a rádio Clube, tinha como slogan: "Pernambuco falando para o mundo". De onde vem isso, minha gente? Seu Luiz tinha mesmo razão. Melhor deixar quieto. Ah, ia quase me esquecendo: o primeiro operário a chegar à Presidência também é pernambucano. Sim, aquele tal do espetáculo do crescimento