Landercy Hemerson
postado em 22/02/2013 07:35
A rebelião na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, onde dois reféns são mantidos no pavilhão 1 da unidade desde as 9h dessa quinta-feira, avança pela madrugada desta sexta-feira sem previsão de fim. O fornecimento de água, luz e comida foi suspenso e um forte aparato policial foi montado para acompanhar as negociações, que acabaram interrompidas no começo da noite pelos líderes do motim e a expectativa é que sejam retomadas pela manhã. No fim da noite, um ônibus foi incendiado na capital numa suposta ação orquestrada com os rebelados.De acordo com o coronel Antônio Carvalho, da Polícia Militar, os rebelados disseram que não se sentiam seguros em manter o contato durante a noite. Eles garantiram que a integridade física dos dois reféns é preservada e que pela manhã retomarão as negociações. O militar disse que uma invasão é descartada, uma vez que há abertura para o diálogo. Ainda segundo o coronel, o corregedor da Secretaria de Estado de Defesa Social irá à penitenciária para ouvir os presos, que fazem críticas ao sistema implantando no complexo pelo atual diretor, Luiz Carlos Danúzio.
No começo da madrugada, o advogado Zanone Manuel de Oliveira, que entrou no complexo penitenciário por volta das 22h se apresentando como integrante da Comissão de Assuntos Penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil ; Seção Minas Gerais (OAB-MG), deixaram de atender ao rádio comunicador usado para contatar a polícia desde o início das negociações.
Reféns
São mantidos reféns o agente penitenciário Renato Andre de Paula Siqueira, que trabalha na unidade desde julho de 2011, e a professora Eliana da Silva, que há 12 anos leciona para os albergados no complexo penitenciário. Ambos são hipertensos e a mulher chegou a passar mal durante a tarde.
Segundo o coronel Antônio Carvalho, o agente penitenciário foi obrigado a vestir o mesmo uniforme dos detentos e está algemado. Ele permanece junto aos rebelados, que se concentram no pátio interno do pavilhão. Já a professora é mantida no canto de uma cela. O militar conversou com ela por meio de rádio e ela teria afirmado a ele que está bem e que não foi agredida pelos presos, assim como o agente penitenciário.
Exigências
Com cinco condenações por roubo e uma por homicídio, o detento Daniel Augusto Cipriano, 29 anos, se apresentou à polícia como líder da rebelião. Por meio de um celular, ele chegou a telefonar para uma rádio local apresentando as reivindicações. A Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) disse desconhecer como ele teria conseguido acesso ao aparelho telefônico.
Conhecido pelos apelidos de Carioca e Snap, Daniel teria revelado à polícia que o motim se deve, principalmente, às novas regras de visitação impostas na unidade prisional. Grávidas teriam sido proibidas de entrar no complexo, assim como crianças. Com lençóis, os rebelados escreveram no pátio as palavras ;opressão; e ;sistema;. O subsecretário de Administração Prisional, Murilo Andrade de Oliveira, as mudanças foram implementadas para dar conforto às mulheres. Hoje elas são levadas para uma sala onde ficam trinta minutos com o preso em uma visita assistida.
O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar iniciou as negociações por volta das 13h. Por meio de um rádio comunicador do agente penitenciário mantido refém, os oficiais mantiveram contato com o detento que se apresentou como líder do motim. No começo da noite havia expectativa de rendição dos presos, com parte das exigências aceitas pelas autoridades. Porém, os rebelados voltaram atrás ao saber que foi negado o afastamento do diretor da penitenciária Luiz Carlos Danúzio.
Falha na segurança
Para o subsecretário de administração prisional, houve falha na segurança, o que gerou o motim quando começaria uma aula para os albergados. ;Foi uma questão de oportunidade. Um deslize do agente. A professora estava na sala e eles renderam primeiro o agente e depois a professora;, disse Murilo Andrade.
Ônibus incendiado
No fim da noite dessa quinta-feira, um ônibus foi incendiado na marginal do Anel Rodoviário, na altura do Bairro Califórnia, na capital, numa suposta ação orquestrada com os rebelados na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. De acordo com a Polícia Militar, o coletivo atacado é da linha 4501 e ninguém ficou ferido.
Segundo a PM, havia apenas o cobrador, o motorista e uma passageira dentro do ônibus quando dois homens embarcaram anunciando um assalto. Depois de recolher o dinheiro que estava com o cobrador, a dupla ordenou que todos desembarcassem e atearam fogo no interior do veículo. Antes de fugir, a dupla entregou um bilhete ao cobrador com as palavras ;opressão; e ;sistema;, as mesmas que foram escritas pelos detentos com lençóis no pátio do pavilhão onde ocorre o motim.
Visita ao goleiro Bruno
O promotor responsável pela acusação contra o goleiro Bruno Fernandes, Henry Vasconcelos de Castro, foi até a Penitenciária Nelson Hungria no fim noite desta quinta-feira. Ele disse que pretendia verificar a situação do réu acusado de arquitetar a morte de Eliza Samudio e não deu mais detalhes sobre a visita. O amigo do ex-atleta, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, já condenado pelo sequestro e morte de Eliza Samudio, cumpre pena no pavilhão 5 do mesmo complexo. Ele deixou o local no começo da madrugada, mas não conversou com a imprensa.