Pedro Ferreira
postado em 22/02/2013 12:43

De acordo com o subsecretário, na noite de quinta-feira os presos concordaram com as propostas da negociação, na qual não havia a exigência da saída de Danúbio. Este ponto agora é o grande entrave na tentativa de acordo. Conforme documento assinado pelos detentos nessa quinta-feira (21/2), eles libertariam os reféns para serem ouvidos pelo corregedor da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Assim, seriam registradas em cartório todas as reclamações dos 90 amotinados. No entanto, nesta manhã os líderes da rebelião não cumpriram o combinado e a negociação foi zerada. Outras pautas estão sendo apresentadas para que os acordos recomecem e qualquer denúncia sobre o diretor será apurada depois pelo sistema prisional.
A rebelião já dura mais de 27 horas e o banho de sol de presos de outros pavilhões foi suspenso nesta sexta-feira (22/2). O chefe do Comando de Policiamento Especializado (CPE), coronel Antônio Pereira Carvalho, que participa da operação, disse que conseguiu ver os reféns por meio de uma filmagem hoje. O agente penitenciário Renato Andre de Paula Siqueira, e a professora Eliana da Silva estão sob poder dos detentos desde 9h de ontem. O coronel afirma que a grande preocupação é manter a integridade física de todos que estão no Pavilhão 1, onde ocorre o protesto. ;Enquanto houver um canal aberto e a integridade estiver mantida, o canal estará aberto para negociações;, completa.
[SAIBAMAIS]O juiz da Vara de Execuções Penais de Contagem, Wagner Cavalieri, negou a superlotação na Nelson Hungria, que segundo a Seds tem capacidade para 1.664 presos e abriga 1.970. De acordo com o magistrado, há dois meses ele assinou uma portaria subindo a capacidade para 2 mil. Os presos disseram que não querem responder por processo relativo à rebelião e o ponto está sendo negociado. Os envolvidos devem ser ouvidos em um processo aberto pela Corregedoria da Seds, que agora se preocupa em não deixar a revolta espelhar para outros pavilhões.
Quaresma no presídio
Ércio Quaresma, que defende Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, no caso Eliza Samúdio, chegou ao local às 7h15 após ser acionado pelo líder da rebelião, o detento Daniel Augusto Cypriano, de 29 anos. Quaresma diz ter recebido um telefonema do preso, que tem cinco condenações por roubo e uma por homicídio, no início da madrugada. ;Ontem, por volta de meia-noite, o Daniel me ligou pedindo que eu pudesse intervir na negociação. Eu não o conheço, mas já trabalhei para parentes dele;, explicou Quaresma.
Na ligação, Daniel teria dito também que além do agente penitenciário Renato Andre e a professora Eliana da Silva, cinco detentos também estão sendo observados ;com status de reféns;, por ajudarem a direção do presídio. Em frente à Nelson Hungria, Quaresma voltou a falar ao telefone com os presos. ;A primeira reivindicação é a retirada da direção do presídio. Sem isso, não vamos aliviar;, disse Daniel no viva voz. Quaresma disse que o detento também exige que ele participe das negociações, que não devem acontecer sem o advogado.
Segundo Quaresma, seu novo cliente quer o afastamento do atual diretor do presídio, Luiz Carlos Danúzio, que adotou um novo sistema de conduta que tem dificultado a entrada de visitas, principalmente de mulheres grávidas. Quaresma ainda reforçou a denúncia de Daniel ao dizer que outras regras implantadas pelo diretor fogem à normalidade, como a determinação de que cada advogado possa atender no máximo três presos por dia durante o período máximo de 30 minutos. O líder dos detentos também exige que não haja transferência dos presos rebelados como uma das exigências para o fim do motim.
Reféns
Renato André trabalha na unidade desde julho de 2011, e a professora Eliana leciona há 12 anos para os albergados no complexo penitenciário. Eles foram rendidos pelos detentos por volta das 9h de quinta-feira antes de entraram na sala de aula. Os dois são hipertensos e a mulher chegou a passar mal durante a tarde. Segundo o coronel Carvalho, o agente penitenciário foi obrigado a vestir o mesmo uniforme dos detentos e está algemado. Ele permanece junto aos rebelados, que se concentram no pátio interno do pavilhão. Já a professora é mantida no canto de uma cela. O militar conversou com ela por meio de rádio e ela teria afirmado a ele que está bem e que não foi agredida pelos presos, assim como o agente penitenciário.
O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar iniciou as negociações por volta das 13h de ontem. Por meio de um rádio comunicador do agente penitenciário mantido refém, os oficiais mantiveram contato com o detento que se apresentou como líder do motim. No começo da noite havia expectativa de rendição dos presos, com parte das exigências aceitas pelas autoridades. Porém, os rebelados voltaram atrás ao saber que foi negado o afastamento do diretor da penitenciária Luiz Carlos Danúzio. No início da madrugadas, as negociações foram interrompidas e o rádio comunicador usado pelos detentos teria sido devolvido. O coronel Carvalho disse que parte do registro foi desligado, mas os presos ainda têm acesso a água.
Ônibus incendiado
No fim da noite dessa quinta-feira, um ônibus foi incendiado na marginal do Anel Rodoviário, na altura do Bairro Califórnia, na capital, numa suposta ação orquestrada com os rebelados na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. De acordo com a Polícia Militar, o coletivo atacado é da linha 4501 e ninguém ficou ferido. Segundo a PM, havia apenas o cobrador, o motorista e uma passageira dentro do ônibus quando dois homens embarcaram anunciando um assalto. Depois de recolher o dinheiro que estava com o cobrador, a dupla ordenou que todos desembarcassem e atearam fogo no interior do veículo. Antes de fugir, a dupla entregou um bilhete ao cobrador com as palavras ;opressão; e ;sistema;, as mesmas que foram escritas pelos detentos com lençóis no pátio do pavilhão onde ocorre o motim.
Visita ao goleiro Bruno
O promotor responsável pela acusação contra o goleiro Bruno Fernandes, Henry Vasconcelos de Castro, foi até a Penitenciária Nelson Hungria no fim noite desta quinta-feira. Ele disse que pretendia verificar a situação do réu acusado de arquitetar a morte de Eliza Samudio e não deu mais detalhes sobre a visita. O amigo do ex-atleta, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, já condenado pelo sequestro e morte de Eliza Samudio, cumpre pena no pavilhão 5 do mesmo complexo. Ele deixou o local no começo da madrugada, mas não conversou com a imprensa.
(Com Landercy Hemerson, Daniel Silveira e Cristiane Silva)