Rio de Janeiro - As mulheres entraram para instituições de segurança pública estaduais na década de 1980. No estado, a incorporação delas à Polícia Militar completa 30 anos. No entanto, nesses anos, as corporações não se adaptaram para lidar com as diferenças entre os gêneros em termos de equipamentos, direitos e para enfrentar as práticas de assédio sexual e moral.
A constatação é da pesquisa Mulheres na Segurança, do Ministério da Justiça. Divulgado em fevereiro, o levantamento nacional revela os problemas que as policiais civis e militares, inclusive dos corpos de bombeiros têm nas instituições de segurança fluminense, estado pioneiro na promoção de mulheres as cúpulas da Polícia Civil e Militar e entre os três estados com mais mulheres nas corporações.
Com cerca de 10% de mulheres entre os policiais militares 16% entre os bombeiros, as declarações dadas pelas entrevistadas ao MJ revelam o ambiente sexista no qual estão inseridas. ;Sempre é muito difícil comunicar assédio moral por conta do corporativismo dos superiores e da omissão dos companheiros, que temem represálias;, disse uma escrivã fluminense.
De acordo com a pesquisa, as instituições não oferecem apoio para vítimas de assédio e canais de denúncia confiáveis, ;que não resultem em novas punições e constrangimentos para vítimas;. Outro problema apontado no encaminhamento das denúncias ;é a remoção da pessoa assediada, nunca a da que assedia;, o que acaba revertendo a punição, afirma o levantamento.
;As mulheres na polícia tendem, não a esconder, mas a não falar (sobre os assédios) porque isso pode significar um rebaixamento ou perseguição;, disse a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, citada na pesquisa, Maria Cecília Minayo. ;As instituições não assumem o problema porque as mulheres não dão queixa. Mas elas não dão queixa porque têm medo;, explicou.
Cecilia Minayo acrescentou que, no Rio, os problemas são apresentados as chefias. ;É mais fácil para os pesquisadores colocar o dedo nessa ferida (do que para essas mulheres;. E cobrou apoio da sociedade por melhores condições de trabalho e salários tanto para mulheres quantos homens policiais. ;Eles não são robôs. Não podemos cobrar apenas desempenho;.
Até a publicação desta notícia, a Polícia Civil não resapondeu à Agência Brasil sobre a participação de mulheres em seus quadros no Rio nem sobre possíveis casos de assédio sexual, moral ou comportamento discriminatório na corporação.