Brasil

Governo pode ser processado por violência na desocupação do Museu do Índio

Defensorias e parlamentares vão entrar com medidas legais contra o governo fluminense por abuso de poder e violência

postado em 22/03/2013 17:57
Rio de Janeiro ; As defensorias públicas do Estado e da União, o Ministério Público da União e parlamentares que participaram da negociação de saída dos ocupantes do antigo Museu do Índio, na zona norte do Rio, anunciaram que vão entrar com medidas legais contra o governo fluminense por abuso de poder e violência.

De acordo com depoimentos à Agência Brasil, autoridades públicas, índios e simpatizantes da causa foram agredidos durante a operação policial. O defensor público federal Daniel Macedo disse que foi pego de surpresa pela tropa de choque, ;que saiu atirando para cima e jogando gás de pimenta de maneira indiscriminada;.

O defensor adiantou a estratégia jurídica do processo. ;Primeiramente, entraremos com provas documentais para apurar as responsabilidades,; informou. ;Sem necessidade, atiraram em mim, o gás de pimenta acertou no procurador, nos defensores, não faz sentido isso, a negociação era frutífera;, denunciou Macedo.

O deputado estadual Marcelo Freixo saiu com os olhos vermelhos e lacrimejantes de dentro do museu. Ele classificou a atitude da Polícia Militar como inadmissível. ;A polícia agiu com enorme truculência e desrespeito com quem está aqui trabalhando. Não estou aqui desde as 4h da manhã ajudando nas negociações para tomar spray de pimenta na cara, para ser insultado. A polícia precisa acabar com essa tradição de violência;.



Freixo lembrou que a decisão judicial determinava que o prédio fosse desocupado sem violência. Além disso, a desocupação estava ocorrendo e as crianças e mulheres já estavam nas vans da Secretaria Estadual de Assistência Social. ;Estávamos a um detalhe de conseguir com extremo sucesso o que determina a medida judicial;.

Enquanto, do lado de dentro, os últimos índios e apoiadores eram retirados à força por policiais, do lado de fora, bombas de efeito moral e gás de pimenta foram usados contra os manifestantes que haviam obstruído a principal via da região.

A imprensa também foi atingida e alguns repórteres passaram mal com o gás. O fotógrafo de O Globo, Pablo Jacob, foi ferido por uma bomba de efeito moral na perna e teve a calça queimada. Alguns militares reagiram com força física aos insultos de manifestantes.

O porta-voz da Polícia Militar, o coronel Frederico Caldas, negou que tenha havido truculência na operação policial, e argumentou que o uso da força foi feito para evitar um incêndio dentro do prédio. ;Os índios saíram e os que ficaram lá alegaram que estavam fazendo uma resistência cultural. Um discurso ideologizado e político. Percebemos claramente que não haveria mais negociação, principalmente quando eles colocaram fogo no prédio;, declarou.

O coronel disse também que houve a utilização de força necessária para desobstruir as ruas, fechadas, segundo ele, por um ;bando de agitadores;. Alguns manifestantes foram presos, mas o coronel não soube informar o número de detidos.

O índio Kaiah, da etnia Waiwai, no Pará, estava dentro da propriedade quando a Tropa de Choque da Polícia Militar entrou. ;A gente estava batendo o maracá, fazendo um canto de despedida da Aldeia Maracanã. Foi quando a polícia entrou dando tiro para cima, usando spray de pimenta, a gente já ia sair, era o último canto, para sairmos sentindo os espíritos que existem aqui dentro;.

A Avenida Radial Oeste ficou interditada durante cerca de uma hora. O edifício, antes ocupado por cerca de 30 pessoas, agora está sob a guarda do 4; Batalhão, por tempo indeterminado. Alguns índios foram enviados para o Hotel Acolhedor Santana II, no Centro.

Segundo a Secretaria Estadual de Assistência Social, está prevista uma visita dos índios a três locais de moradia temporária: Jacarepaguá, Bonsucesso e Visconde de Niterói. Pela proposta do governo do estado, os índios podem decidir pelo recebimento do benefício do aluguel social, no valor de R$ 400, ou podem voltar para a aldeia de origem, com ajuda para o transporte.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação