Helena Mader
postado em 14/04/2013 08:00
A cada notícia de morte por anabolizantes, Janete Santos Marciel sacava o telefone para advertir o filho. Ele sempre garantia à mãe que não estava mais usando as ampolas que transformaram o menino magricela de 17 anos em um ;homão grandão;, como ela se recorda do segundo dos quatro filhos. Gleison Santos Marciel, de fato, havia parado de injetar hormônios sintéticos e vitaminas em forma de óleo. Só que tarde demais. As substâncias aplicadas fizeram crescer, além dos músculos, órgãos vitais do corpo do rapaz. Um certo dia, depois de almoçar na casa de Janete, Gleison pediu para deitar um pouco. E não se levantou.
Foi encontrado pela mãe já desmaiado no quarto, depois de soltar um grito estridente. Quatro dias de internação se passaram, entre esperança e desespero, até que a vaidade desmedida, aliada à falta de informação e de cuidado, tiraram a vida de Gleison, aos 29 anos, em 2007. ;O coração, o baço, o fígado, tudo cresceu dentro dele;, explica Janete. Era difícil, para ela, acreditar que nunca mais ouviria as palavras carinhosas do garoto que gostava de montar som em festas, estava animado com o emprego novo em um shopping da cidade e sonhava em ter a própria academia de musculação. O rapaz deixou uma filha e a certeza de que aquelas injeções que ele se autoaplicava são mortais.
;Eu nunca mais fui a mesma pessoa. Eu era vaidosa, alegre. Agora virei isso aqui;, diz Janete. A dor da baiana de 56 anos é a mesma de tantas famílias destroçadas pelos efeitos de uma busca cada vez mais insana pelo padrão de beleza vigente. Nunca foi tão ferrenha a corrida por músculos desenhados e barrigas chapadas. Mesmo os que renegam a pecha de marombeiros têm se curvado a substâncias nem sempre permitidas ou usadas com segurança, sob o argumento de ganhar o gás necessário para terminar uma prova de rua ou acompanhar a turma do pedal na trilha de fim de semana. Seja qual for a justificativa, o fato é que o comércio clandestino de anabolizantes, suplementos alimentares e vitaminas explodiu no Brasil. O tema será tratado em uma série de reportagens que o Correio publica a partir de hoje.