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Ex-governador de SP diz que invasão do Carandiru foi necessária

Luis Antonio Fleury Filho disse não ter dado a ordem para a invasão policial ao presídio, quando 111 presos foram mortos. Ele garantiu que, se estivesse em São Paulo naquela dia, teria dado a autorização

postado em 16/04/2013 17:26
São Paulo ; O então governador à época em que ocorreu o Massacre do Carandiru, Luis Antonio Fleury Filho, prestou depoimento no Júri Popular sobre o caso, que acontece no Fórum da Barra Funda, em São Paulo. O ex-governador disse não ter dado a ordem para a invasão policial ao presídio, quando 111 presos foram mortos. Ele garantiu que, se estivesse em São Paulo naquela dia, teria dado a autorização.

;Não dei ordem para a entrada. Mas a entrada foi absolutamente necessária e legítima. Se estivesse no meu gabinete, teria dado [a autorização para a invasão da polícia]. A polícia não pode se omitir;, disse ele, durante o depoimento, que teve início por volta das 15h20 desta terça-feira (16/4).

[SAIBAMAIS] A Polícia Militar entrou no Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru pouco depois do início de uma rebelião de presos. Segundo Fleury Filho, a informação era de que alguns presos haviam morrido, após uma briga entre os próprios detentos.

Durante o depoimento, o ex-governador assumiu a responsabilidade política pelo episódio, mas negou qualquer outra. ;A responsabilidade política do episódio é minha. A criminal cabe ao tribunal responder;.



Em depoimento de 40 minutos, Fleury Filho contou que não estava em São Paulo no dia em que o massacre ocorreu, 2 de outubro de 1992. ;Era véspera de eleição municipal e estava em Sorocaba, porque sabíamos que em São Paulo não tinha possibilidade de o meu candidato se eleger prefeito;.

Em Sorocaba, Fleury Filho disse ter recebido um recado dizendo que o secretário Claudio Alvarenga queria falar com ele. ;Naquela época não tinha celular;, disse. Liguei para o secretário e ele me falou sobre a rebelião que estava ocorrendo no Carandiru e que o secretário de Segurança Pública da época, Pedro Franco de Campos, estava cuidando do caso.

;Saí de lá (de Sorocaba) de helicóptero por volta das 16h ou 16h30. Quando cheguei no Palácio dos Bandeirantes [sede do governo paulista], descobri que tinha ocorrido a invasão. Liguei, então, para o Campos e perguntei se havia necessidade de a polícia ter entrado. Ele me disse que sim;, contou o ex-governador.

Naquele dia, Fleury disse ter sido informado que a invasão policial no Carandiru tinha provocado 40 mortes. Á noite, a informação foi alterada para 60 mortos. No dia seguinte, domingo de eleição, ele tinha a informação de que haviam 100 mortos. ;Pedi então que só informassem o número de mortos quando tivessem o número correto;, disse ele.

Segundo ele, só à noite, às 18h, horário em que as urnas estavam fechadas, ele recebeu a confirmação de que haviam 111 mortos. Na época, a imprensa noticiou oito mortos no massacre e só recebeu a confirmação do número exato de mortos após o término das eleições.

Fleury Filho contou também que os ânimos das tropas policiais se alteraram quando houve a notícia de que o comandante da Polícia Militar à época, Ubiratan Guimarães, foi atingido por um tubo de TV e desmaiado, pouco depois que a tropa policial invadiu o presídio. ;Ubiratan foi atingido por um tubo de TV e isso deve ter causado, evidentemente, comoção à tropa;, contou ele.

O ex-governador disse também que não esteve no local do massacre. ;Não fui ao local porque não era minha obrigação de governador. É por isso que existe a posição de hierarquia abaixo do governador;, falou.

Ele negou que uma organização criminosa, que atua nos presídios paulistas, tenha sido criada após o massacre. ;O PCC, que dizem ter sido criado em razão desse episódio, era apenas um time de futebol até o final do meu mandato (1991-1994). No meu governo, ele não teve espaço para crescer. Ele se intensificou no governo seguinte [governo Mário Covas], quando ocorreram 22 rebeliões em dois meses;.

Fleury Filho foi a quarta testemunha de defesa ouvida nesta terça-feira (16), segundo dia do julgamento. Antes foram prestaram depoimento os desembargadores Ivo de Almeida, Fernando Torres Garcia e Luis Antonio San Juan França.

San Juan França, que era titular da Vara de Execuções Criminais, disse que entrou no presídio após a invasão policial. Ele contou ter visto os corpos de ;oito ou nove presos; sendo retirados do local. ;Perguntei o que houve (aos policiais). E eles responderam: ;Confronto. Em vez de se renderem, preferiram o confronto;;, contou o desembargador.

Ele disse também que uma sindicância apurou que houve policiais feridos durante o massacre e que foram apreendidas armas com os presos, entre elas 12 ou 13 armas de fogo, que lhe foram entregues por policiais. ;Não entendo como arma de fogo entra dentro do presídio;, disse ele, sobre as apreensões.

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