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"Não havia alternativa senão o uso de armas", diz policial em depoimento

Todos os policiais alegam inocência. Dornelas Santos, que participou da invasão policial ao Carandiru, insistiu na tese adotada pela defesa

postado em 19/04/2013 19:24
São Paulo ; Depois de intervalo para o almoço, o julgamento do Massacre do Carandiru foi retomado por volta das 16h20 ;

Todos os policiais alegam inocência. Dornelas Santos, que participou da invasão policial ao Carandiru, insistiu na tese adotada pela defesa: a de que houve confronto entre policiais e presos e que os policiais reagiram atirando. Ele disse ter visto detentos armados e policiais feridos. O Ministério Público contesta e alega que os presos estavam desarmados e rendidos quando os policiais invadiram o local, atirando.

[SAIBAMAIS]Em seu depoimento, que durou pouco mais de duas horas, Dornelas Santos contou que, na tarde do dia 2 de outubro de 1992, recebeu uma ordem para ir ao Carandiru, onde estava ocorrendo uma rebelião de presos. ;A Rota [tropa de elite da Polícia Militar] entra em todas as operações de choque. Mas é a última a ser empregada. A Rota só é usada em caso extremo e esse foi o caso;, disse. Chegando lá, no entanto, a ordem de entrada no Carandiru foi invertida. Por decisão do coronel Ubiratan Guimarães, então Comandante da Polícia Militar, sua tropa, formada por policiais da Rota e que seria normalmente a última a ser empregada, foi a primeira a entrar no local.

Logo que entraram no térreo, contou, os policiais não encontraram resistência dos presos que ali se encontravam - e nem houve agressões dos policiais aos detentos. Mas o cenário dentro do pavilhão foi diferente. ;Já na entrada da escada, vi um corpo;, descreveu Dornelas. ;No final da escada, mais dois corpos;, acrescentou, mencionando confronto anterior entre os próprios presos.

Quando os policiais terminaram de subir as escadas e chegaram ao segundo pavimento, o cenário que encontraram foi de ;penumbra e baixa luminosidade, com a luminosidade artificial prejudicada;, relatou. ;Lá, nos deparamos com muitos presos. Houve o estampido de arma de fogo e o revide imediato, até a tomada da área;, disse.

O policial disse que portava um revólver na ocasião e que chegou a efetuar ;três ou quatro disparos;, mas sem conseguir determinar se os tiros atingiram alguém. Ele também contou não saber quantos detentos foram atingidos e nem precisar quantos policiais ficaram feridos durante a operação inicial no presídio, feita por sua tropa, que não demorou mais do que 25 minutos (desde a entrada no Carandiru até a saída do local, segundo relato). ;Na minha tropa, deviam ter uns quatro policiais feridos;, disse, ressaltando que entre eles, alguns foram feridos com armas de fogo.

Durante o depoimento, Dornelas Santos disse que não foram feitos disparos em direção ao interior das celas. ;Os embates foram no corredor;, relatou. Segundo ele, naquela ocasião, os policiais não tinham outra alternativa além do uso de armas de fogo. "Não havia outra alternativa senão o uso de armas de fogo pelos policiais. Era um ambiente extremamente hostil", disse.



"Nossa missão era entrar e tornar aquele ambiente seguro. Cumprimos nosso dever, saímos e não entramos mais depois disso;, contou, lembrando que após a ação da Rota, outras tropas entraram no local. Ao final do depoimento, o policial se emocionou.

Dornelas Santos é o segundo policial a ser ouvido nesta sexta-feira (19/4). Antes, foi ouvido o tenente-coronel na reserva, Ronaldo Ribeiro dos Santos, que era capitão quando o massacre ocorreu. Em seu depoimento, Ronaldo Santos também disse que a ordem para invadir o Carandiru foi dada pelo então comandante da Polícia Militar à época, coronel Ubiratan Guimarães. Segundo ele, quando os policiais chegaram ao Carandiru, ouviram ;muito barulho e estampidos, que pareciam ser disparos de armas de fogo", indicando que os detentos estavam armados na ocasião. Santos também disse que o uso de armas de fogo pela polícia "era a única alternativa" na ocasião. "Dentro daquelas condições, a operação foi organizada e necessária", disse, que informou portar um revólver e uma metralhadora no episódio, esta última só utilizada em caso de necessidade, o que não ocorreu no Carandiru.

Mais dois policiais ainda devem ser ouvidos nesta sexta (19). A previsão é que o julgamento continue no sábado (20/4) com a fase de debates entre promotores e advogados de defesa e a decisão dos jurados.

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