Agência France-Presse
postado em 27/04/2013 16:58
Rio de Janeiro - Único bioma exclusivamente brasileiro, a caatinga vê sua riqueza ambiental dilapidada pelo uso predatório dos recursos naturais, que ameaça espécies como o tatu-bola, a mascote da Copa do Mundo de 2014.O alerta foi feito por um especialista que há 15 anos estuda este ecossistema, às vésperas do Dia Nacional da Caatinga, comemorado neste domingo.
"A caatinga é o patinho feio dos biomas brasileiros. É o menos conhecido e recebe menor investimento público. Isto se deve à visão de que é um ecossistema pobre, quando, na verdade, é diverso e tem muitas espécies endêmicas" (que só existem lá), explicou o engenheiro-agrônomo e doutor em Ecologia Marcelo Tabarelli, professor da Universidade Federal de Pernambuco.
Segundo dados oficiais, a caatinga se estende por 9 estados do nordeste brasileiro (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Sergipe) até o norte de Minas Gerais (sudeste). Ocupa 844.453 quilômetros quadrados, área superior aos territórios de França, Reino Unido e Suíça somados.
O bioma abriga 932 espécies de plantas, 178 de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 de anfíbios e 241 de peixes. Segundo Tabarelli, algumas espécies foram extintas, como a ararinha-azul (;Cyanopsitta spixii;), e outras estão ameaçadas, como o tatu-bola (;Tolypeutes tricinctos;).
Na região vivem 27 milhões de pessoas e a grande maioria sobrevive de agropecuária de subsistência. Feijão e milho são os principais cultivos e na criação de animais predomina o rebanho caprino.
Uso inadequado do solo, consumo de lenha nativa em residências e indústrias e desmatamento para dar lugar à agropecuária são as principais agressões à caatinga.
Consequentemente, 46% do bioma foram desmatados, segundo o Ministério do Meio Ambiente. "Falta planejamento no uso dos recursos naturais da caatinga. A população depende deles, mas sem uso planejado, observa-se a repetição do círculo degradação do solo/pobreza", relatou Tabarelli, consultor do Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Tabarelli criticou a falta de investimentos em pesquisas e de unidades de conservação integral na caatinga, que apesar de importantes para preservá-la, protegem apenas 1% do bioma.
"As ações (oficiais) têm sido pontuais, falta uma política de desenvolvimento sustentável", lamentou. Para ele, são prioridades da região criar novas unidades de conservação, promover o ecoturismo e melhorar as atividades produtivas, com agropecuária sustentável substituindo o extrativismo (exploração do solo sem reposição dos nutrientes).
No Dia Nacional da Caatinga, celebrado este domingo, Tabarelli acredita ser possível salvar o bioma. "Já se sabe como produzir de forma sustentável na caatinga, mas esta informação precisa chegar ao produtor. É preciso investir em educação, em transferência tecnológica. O problema não é o gargalo tecnológico, mas a vontade política", concluiu.