Brasil

'Chegou a hora de dizer basta': afirma manifestante em São Paulo

"Vim em primeiro lugar porque me senti muito apertada com a alta do preço do transporte", contou a manifestante

Agência France-Presse
postado em 18/06/2013 20:55
São Paulo - Denunciar a corrupção ou pedir hospitais e escolas no lugar de estádios para a Copa do Mundo: a estudante Isabela Neves, 21 anos, saiu às ruas de São Paulo porque pensa que é a hora de dizer "basta".

Na Praça da Sé, ela prepara cartazes com um grupo de amigas. São estudantes de jornalismo e muitas só se juntaram aos protestos nesta terça-feira, após mais de uma semana de manifestações, por todo o Brasil.

"Vim em primeiro lugar porque me senti muito apertada com a alta do preço do transporte", contou enquanto pintava o rosto de verde e amarelo. "Mas, sobretudo, porque me dou conta de que não aguentamos mais. É hora de dizer basta. Passamos muito tempo calados".

Junto com as amigas, todas estudantes de uma universidade particular, Isabela participa de um protesto convocado na tarde desta terça-feira na praça situada no coração da maior cidade do Brasil.

Milhares de pessoas, sobretudo jovens, lotaram a escadaria da catedral, gritando palavras de ordem e agitando cartazes com frases contra a corrupção, o dinheiro destinado às grandes obras da Copa FIFA das Confederações, celebrada estes dias em várias cidades brasileiras, e do Mundial de 2014.

Segundo o instituto Datafolha, mais de 50 mil pessoas participam dos protestos desta terça em São Paulo. "É tanto dinheiro mal gasto. Seria muito melhor ter mais hospitais, mais escolas", diz Isabela Neves.

De jeans, camiseta e cabelos longos, ela tem a aparência da maioria dos jovens que lotam a praça. Assim como suas amigas, usa uma bolsa artesanal de cores berrantes, colares e lenços no pescoço para se proteger de bombas de gás lacrimogêneo que possam ser disparadas pela polícia.

Com sapatilhas ou alpargatas de tecido para garantir o conforto dos pés, estas moças dizem que apesar do medo da violência, precisam ir às ruas.
"Acho que a sociedade brasileira está calada há tempo demais. Faz muito tempo que não víamos manifestações como esta. É certo que o aumento nos transporte afetou a todos, mas agora o protesto não é mais só por isso. É por tudo o que está errado neste país", reflete.

Na segunda-feira, mais de 250.000 pessoas saíram às ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e outras cidades para protestar contra os gastos públicos bilionários para a Copa das Confederações e o Mundial, eventos nos quais o governo investiu 15 bilhões de dólares nas maiores manifestações em duas décadas realizadas no Brasil.

[SAIBAMAIS]Mas também marcharam contra a corrupção e contra a má qualidade da educação e da saúde pública. Isabela participou no protesto na segunda-feira que levou 65.000 pessoas às ruas em São Paulo e voltou esta terça-feira com as amigas.

Ela conta que veio por vontade própria, sem atender ao chamado de nenhum partido político, organizações que também foram alvo das críticas dos manifestantes em todos os dias de protesto. Em São Paulo já tinham sido realizados quatro grandes protestos.

"Ontem foi impressionante", diz, arregalando os olhos. "Tinha gente por todos os lados e hoje quis voltar, estar aqui, porque não quero perder", prossegue, emocionada.

Jovens com nível superior e sem filiação política são a maioria dos manifestantes que na segunda-feira participaram dos protestos em São Paulo, segundo pesquisa do Instituto Datafolha publicada este terça-feira.

Oitenta e quatro por cento dos participantes disseram não ter preferência por partido político, 77% têm educação superior e 22% são estudantes atualmente. Cinquenta e três por cento têm menos de 25 anos.

Ao lado da catedral, Diogo Galter está com um grupo de amigos. Ele veio do interior de São Paulo e afirma que continuará participando dos protestos até quando for necessário.

Muito magro, de cabelos crespos e desalinhados, camiseta, calça jeans e tênis, Diogo tem 17 anos e está concluindo o ensino médio. Ele quer ir à universidade e sonha com um país melhor.

"Vim participar destas revoltas. É ridículo que os políticos brasileiros não façam nada para melhorar a nossa", disse. Ele está acompanhado dos amigos, todos menores de idade, estudantes secundaristas, e, sentados no chão, desenham cartazes onde se leem palavras de ordem contra a classe política e clamando pelo respeito aos seus direitos.

A paixão dos jovens também contagiou os mais velhos. "Minha filha e meus alunos vieram à manifestação e decidi deixar o conforto do meu sofá e vir apoiar", diz a professora universitária Célia Dias, de 62 anos, junto com um grupo de amigas.

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