Brasil

Importação de médicos gera discórdia entre governo e profissionais

Enquanto importação de médicos é atacada pela categoria, prefeitos não conseguem atrair doutores nem com salário de R$ 35 mil e cidadão enfrenta falta de profissionais e estrutura

postado em 07/07/2013 11:42
A população sente na pele e protesta: faltam médicos e qualidade na saúde em todo o país; a presidente Dilma Rousseff anuncia: quer importar 6 mil doutores de Cuba para trabalhar em cidades do interior; entidades médicas rebatem: não faltam profissionais, e sim estrutura para atender bem os pacientes; prefeitos apelam: oferecem até R$ 35 mil para um clínico fixar residência na cidade, mas sem carteira assinada. Enquanto persiste o impasse e representantes da categoria vão para as ruas repudiar a chegada de colegas cubanos e de outras nacionalidades sem revalidação do diploma, quem depende do SUS amarga falta de atendimento, de acesso a exames, de medicamentos ou até de material para um simples curativo.

A briga só comprova que o setor sofre de um mal crônico e se encontra em um quadro cuja gravidade só se compara à qualidade do serviço que presta. Seja no interior, seja na Região Metropolitana de BH, a saúde está em xeque. Não é à toa que levantamento do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRM/MG) mostra que faltam médicos em um quarto dos 853 municípios mineiros. São 209 cidades sem nenhum suporte. Outros 148 (17,3%) têm apenas um médico.

[SAIBAMAIS] Em outro estudo, o CRM mostra que as perspectivas não são boas. Mais de 60% dos médicos que se formaram em 2012 tinham a intenção de trabalhar apenas em municípios com mais de 100 mil habitantes. Metade deles, no entanto, quer mesmo é exercer a profissão em Belo Horizonte e apenas 7,15% se disseram dispostos a ir para pequenos municípios. Enquanto isso, as ofertas só aumentam no banco de empregos no site do CRM. Até quinta-feira, 77 prefeituras ofereciam vagas para 138 médicos. Uma delas, a de Santa Luzia, na Grande BH, anunciou em programas de rádio em duas emissoras da capital no início do ano. Só agora começa a receber currículos.

Em meio à expectativa de prefeitos, população e entidades médicas, a presidente Dilma convocou ministros para, amanhã, anunciar o programa Mais médicos para o Brasil, ocasião em que vai lançar o edital de chamamento de médicos para trabalhar no saúde da família em cidades do interior e abrir vagas em graduações e especializações de medicina.

ABANDONO
Se do lado dos médicos já há predisposição de evitar pequenos municípios, em algumas localidades, principalmente nas mais distantes das cidades-polo, as dificuldades de fixar profissionais passam pelas péssimas condições de atendimento, falta de equipamentos e medicamentos básicos, impossibilidade de realização de exames e dificuldades de prestação de socorro pela ausência quase completa de infraestrutura. Em outros locais, o problema é insegurança nas unidades e imediações.

A falta de carteira assinada e às vezes até de contrato para médicos também é um entrave. Nessas condições, o pagamento dos proventos fica à mercê da boa vontade dos prefeitos. ;É comum o médico receber no primeiro mês. O segundo salário é pago com atraso e depois ele deixa de receber;, sustenta o presidente do CRM/MG, João Batista Gomes Soares.

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