postado em 17/07/2013 18:22
Rio de Janeiro ; A pianista Ana Maria Brandão e o ex-operário naval Benedito Joaquim Barbosa, ambos torturados por agentes da ditadura militar, foram ouvidos nesta quarta-feira (17/7) na primeira sessão pública da Comissão da Verdade de Niterói, cidade da região metropolitana do Rio. Convidados a falar pelo presidente da comissão e secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseccional de Niterói, Fernando Dias, os depoimentos emocionaram estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF) que lotavam o salão nobre da instituição.
;No CAM [Centro de Armamento da Marinha], afogavam minha cabeça em um tanque com água e colocavam cigarro aceso nas minhas nádegas para que eu confessasse onde estavam as armas do Sindicato dos Operários Navais. As armas que tínhamos no sindicato eram a inteligência e a língua;, disse Benedito, fichado como subversivo por ser dirigente do sindicato. Ele foi preso junto com três colegas.
Ana Maria chorou muito antes de conseguir falar. ;É sempre muito difícil lembrar disso tudo;, disse. Acompanhada da filha e da neta, agradeceu por estar viva e dedicou o seu testemunho aos que não sobreviveram ao regime militar. Segundo ela, depois de presa e torturada junto com Fernando Dias, seu marido à época e pai de sua filha, foi considerada ;perigosa; pelos órgãos de repressão da ditadura. Por causa disso, foi forçada a abandonar o curso de letras na UFF, onde ficou marcada como persona non grata, mesmo depois da anistia.
Local emblemático da repressão em Niterói, o Estádio Caio Martins, onde Benedito esteve preso, e para onde foram mandados mais de 1.800 presos políticos será um dos focos da investigação da comissão de Niterói. A coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, presente à reunião, lamentou que o Caio Martins tenha sido o primeiro estádio-presídio da América Latina e servido de exemplo para outras ditaduras no continente, como a do Chile.
O operário naval aposentado José Soares Gonçalves, 85 anos, que assistiu aos depoimentos, era líder sindical à época da repressão e, assim como Benedito, foi detido e esteve no Caio Martins. Ele também foi torturado no CAM e esteve em um paredão de fuzilamento simulado.
;Fui preso em 7 de abril de 1964, porque acharam que eu era comunista. Depois de lá, estive em oito presídios. Fiquei seis meses preso;, disse emocionado. ;Quando falo daquela época perco a voz, mas quero depor para esta comissão, porque felizmente, ou infelizmente, tenho tudo no cérebro desde o zero até o dia em que fui solto. Sofri muito;, declarou.
Benedito propôs durante o depoimento que no local seja criado um memorial. ;Havia mais de 500 presos com a gente: advogados, atores de teatro, médicos, camponeses, professores. Nunca houve espancamento, mas outros tipos de tortura;, relatou ao citar episódios de humilhação e de maus-tratos que viveu e testemunhou no estádio, onde ficou por um tempo, dos três meses em que esteve recluso.
O presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, também participou da primeira reunião da Comissão da Verdade de Niterói. Ele ressaltou que, além de resgatar a memória e apurar a verdade, as comissões servem de exemplo para políticas públicas que reformem as Forças Armadas e a polícia.
;Hoje, nas nossas cidades, nas nossas periferias, nas nossas favelas, continuam matando e desaparecendo com pessoas. Presos comuns continuam sendo torturados e assassinados. A polícia continua violenta, perseguindo manifestantes, com armas não letais que matam, que cegam. Uma cultura policial forjada à época da ditadura;, disse ao defender que a polícia de hoje continua violando direitos impunemente, porque os torturadores e assassinos do passado continuam impunes.
Damous ressaltou também o papel das comissões locais de auxiliar as comissões estaduais e nacionais. ;Houve episódios importantes aqui, tanto de atuação da ditadura como de resistência. Todo o trabalho de apuração desses fatos ocorridos em Niterói vai ficar a cargo da comissão municipal e vai ajudar a comissão estadual a melhor sistematizar os episódios ocorridos pelo território do Rio de Janeiro;, disse.
;No CAM [Centro de Armamento da Marinha], afogavam minha cabeça em um tanque com água e colocavam cigarro aceso nas minhas nádegas para que eu confessasse onde estavam as armas do Sindicato dos Operários Navais. As armas que tínhamos no sindicato eram a inteligência e a língua;, disse Benedito, fichado como subversivo por ser dirigente do sindicato. Ele foi preso junto com três colegas.
Ana Maria chorou muito antes de conseguir falar. ;É sempre muito difícil lembrar disso tudo;, disse. Acompanhada da filha e da neta, agradeceu por estar viva e dedicou o seu testemunho aos que não sobreviveram ao regime militar. Segundo ela, depois de presa e torturada junto com Fernando Dias, seu marido à época e pai de sua filha, foi considerada ;perigosa; pelos órgãos de repressão da ditadura. Por causa disso, foi forçada a abandonar o curso de letras na UFF, onde ficou marcada como persona non grata, mesmo depois da anistia.
Local emblemático da repressão em Niterói, o Estádio Caio Martins, onde Benedito esteve preso, e para onde foram mandados mais de 1.800 presos políticos será um dos focos da investigação da comissão de Niterói. A coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, presente à reunião, lamentou que o Caio Martins tenha sido o primeiro estádio-presídio da América Latina e servido de exemplo para outras ditaduras no continente, como a do Chile.
O operário naval aposentado José Soares Gonçalves, 85 anos, que assistiu aos depoimentos, era líder sindical à época da repressão e, assim como Benedito, foi detido e esteve no Caio Martins. Ele também foi torturado no CAM e esteve em um paredão de fuzilamento simulado.
;Fui preso em 7 de abril de 1964, porque acharam que eu era comunista. Depois de lá, estive em oito presídios. Fiquei seis meses preso;, disse emocionado. ;Quando falo daquela época perco a voz, mas quero depor para esta comissão, porque felizmente, ou infelizmente, tenho tudo no cérebro desde o zero até o dia em que fui solto. Sofri muito;, declarou.
Benedito propôs durante o depoimento que no local seja criado um memorial. ;Havia mais de 500 presos com a gente: advogados, atores de teatro, médicos, camponeses, professores. Nunca houve espancamento, mas outros tipos de tortura;, relatou ao citar episódios de humilhação e de maus-tratos que viveu e testemunhou no estádio, onde ficou por um tempo, dos três meses em que esteve recluso.
O presidente da Comissão da Verdade do Rio, Wadih Damous, também participou da primeira reunião da Comissão da Verdade de Niterói. Ele ressaltou que, além de resgatar a memória e apurar a verdade, as comissões servem de exemplo para políticas públicas que reformem as Forças Armadas e a polícia.
;Hoje, nas nossas cidades, nas nossas periferias, nas nossas favelas, continuam matando e desaparecendo com pessoas. Presos comuns continuam sendo torturados e assassinados. A polícia continua violenta, perseguindo manifestantes, com armas não letais que matam, que cegam. Uma cultura policial forjada à época da ditadura;, disse ao defender que a polícia de hoje continua violando direitos impunemente, porque os torturadores e assassinos do passado continuam impunes.
Damous ressaltou também o papel das comissões locais de auxiliar as comissões estaduais e nacionais. ;Houve episódios importantes aqui, tanto de atuação da ditadura como de resistência. Todo o trabalho de apuração desses fatos ocorridos em Niterói vai ficar a cargo da comissão municipal e vai ajudar a comissão estadual a melhor sistematizar os episódios ocorridos pelo território do Rio de Janeiro;, disse.