Brasil

Barco volta a retirar tubarões da costa após ataque em Pernambuco

A embarcação estava sem fazer o trabalho de monitoramento há sete meses, por falta de repasse de recursos do governo do estado para o Instituto Oceanário, o que foi resolvido esta semana

Diário de Pernambuco
postado em 26/07/2013 08:22

Quatro dias após o 59; ataque de tubarão na costa pernambucana que resultou na morte da 24; vítima, a paulista Bruna Gobbi, 18, o barco Sinuelo volta a zarpar nesta sexta-feira (26/7) de Brasília Teimosa para capturar os tubarões próximos às praias e levá-los para alto-mar. A embarcação estava sem fazer o trabalho de monitoramento há sete meses, por falta de repasse de recursos do governo do estado para o Instituto Oceanário, o que foi resolvido esta semana. As opiniões sobre o uso da embarcação como solução para reduzir a ocorrência de incidentes, no entanto, são divergentes. Enquanto o Comitê de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) defende o método como o mais eficiente e ético do ponto de vista ecológico, alguns especialistas não concordam e acham que seriam necessárias outras ações.


Área onde aconteceu o ataque tem placas informando sobre perigo
A presidente do Cemit, Rosângela Lessa, no entanto, diz que esse monitoramento da costa é indispensável. ;É o método que vem dando resultados;, pontua. Já o professor da UFRPE e vice-presidente do Comitê de Pesca da FAO/ONU, Fábio Hazin, afirma que o trabalho realizado pelo Sinuelo diminui em 90% a incidência de ataques nas praias.;Estamos falando de um sistema mais eficiente que os usados em países como Austrália e África do Sul. É o melhor método que conheço;, disse. O pesquisador alega que ao capturar, identificar e devolver os tubarões para o alto-mar, não existe a necessidade de exterminá-los, como alguns grupos defendem.


O professor do departamento de oceanografia da UFRPE Mauro Maida alerta que apenas ações pontuais não resolvem a incidência dos ataques. ;Ações a médio e longo prazos deveriam ser implantadas para a recuperação dos ecossistemas costeiros do estado. Possivelmente uma das principais causas que fazem os tubarões chegarem até o raso em busca de alimento é a escassez de alimentos nos ambientes mais costeiros;, ressaltou.


O engenheiro de pesca Bruno Pantoja, coordenador do Propesca, grupo que já fez operações de captura de tubarões e morte dos animais, afirma que o trabalho do Sinuelo é insuficiente. ;Acreditar que um barco-escola vai resolver o problema chega a ser engraçado. Trata-se de uma embarcação construída artesanalmente, de madeira, para proteger 30 quilômetros de costa;, criticou. Segundo Pantoja, uma barreira física deveria ser instalada no litoral pernambucano para impedir a passagem dos animais. ;Seria uma tela a 250 metros da costa para devolver a praia às pessoas;, explicou.

Convênio

O repasse do estado para volta do monitoramento é de R$1,7 milhão para um prazo de 10 meses. O secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, confirmou que o recurso para o funcionamento da embarcação estava garantido desde dezembro, mas burocracias atrasaram o processo. Segundo ele, a pedido da PGE, deve ser realizado um concurso público, já neste segundo semestre, para definir a empresa que assumirá os trabalhos no próximo ano.

entrevista >> Mauro Maida, professor da UFPE

"Falta alimento para eles"


Os problemas de ataque de tubarões no Recife estão associados a um processo de degradação dos ambientes marinhos no estado. É o que defende o professor do departamento de oceanografia da UFPE Mauro Maida. Para o doutor em ecologia marinha na Austrália, o deterioramento do ecossistema marinho foi causado pela sobrepesca excessiva, má qualidade da água do mar e degradação dos recifes de corais e manguezais. (Anamaria Nascimento)

O que pode ser feito para diminuir o número de incidentes com tubarões no estado?

Além das ações pontuais que já existem, outras mais contínuas deveriam ser implantadas para a recuperação dos ecossistemas da costa pernambucana. Acredito que uma das principais causas que fazem os tubarões chegarem até a praia, no raso, é a escassez de alimentos nos ambientes mais costeiros. É difícil de imaginar que um tubarão de barriga cheia se daria ao trabalho de atacar banhistas em águas rasas. Um exemplo disso é a ausência de ataques em Fernando de Noronha, onde há abundância de alimentos.

Há algum projeto nesse sentido sendo desenvolvido?

Experimentos de estabelecimento de áreas marinhas protegidas, realizados pela Universidade Federal de Pernambuco e pelo CEPENE (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste), em Tamandaré, tem alcançado resultados muito expressivos em relação à recuperação da saúde ambiental dos recifes de coral. Foi verificado um aumento da abundância e tamanho de peixes e invertebrtados (lagosta, polvos) bem como o aumento da cobertura viva de corais. Esses resultados incentivaram a UFPE a apresentar um projeto de compensação ambiental para a criação em grande escala de uma rede de áreas marinhas protegidas no estado.

Quais seriam os resultados?

A médio prazo, a implantação dessas áreas aumentaria o potencial pesqueiro das nossas áreas marinhas e promoveriam a recuperação ambiental de várias áreas. Isso minimizaria os problemas com ataques de tubarão provendo alimento natural. Esse projeto foi apresentado em 2007. Até hoje, o governo do estado não demonstrou interesse em sua implantação com os recursos da compensaçao ambiental da Refinaria Abreu e Lima.

O Sinuelo tem

- 12 metros de comprimento
- 7 tripulantes podem viajar na embarcação
- 8 nós (20 km/h) é a velocidade máxima

O que faz a embarcação:

Realiza, desde 2004, o monitoramento de tubarões na costa do Grande Recife. Na pesquisa são capturados tubarões, que são marcados e levados para longe da costa. Uma linha forte e comprida, chamada de espinhel, é colocada a cerca de três quilômetros de distância das praias. Presa à linha principal, estão outras 200 secundárias com anzóis circulares, que se prendem no maxilar do tubarão, que continua vivo. Todas as manhãs, a tripulação recolhe a linha, verificando se algum tubarão foi capturado e à tarde a lança novamente ao mar. No animal é colocado um dispositivo para rastreiar sua trajetória no oceano. Após as análises, o tubarão é solto.

O barco zarpa às quintas e sextas-feiras. Retorna ao Iate de Brasília Teimosa após cerca de cinco dias de trabalho. Cerca de 30km serão cobertos pelo espinhel durante o monitoramento. A queda média no número de incidentes depois que o barco vai a campo é de 90%. O custo mensal da operação é R$ 179 mil.

Ataques em Pernambuco

Desde o início da contagem, em 1992, forom 59 vítimas, 24 mortes e 35 feridos

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação