Brasil

Acusação diz que morreram 96% dos presos do Carandiru atingidos por tiros

Segundo a promotoria, isso comprova que os policias militares acusados atiraram com a intenção de matar e não para se defender de confronto

postado em 02/08/2013 13:55

São Paulo ; O julgamento do Massacre do Carandiru, que ocorre no Fórum Criminal da Barra Funda, prossegue com a apresentação dos argumentos da acusação. O promotor de Justiça, Fernando Pereira Filho, mostrou estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) apontando que morreram 96% dos presos que foram atingidos por disparos de armas de fogo durante a ação policial. Segundo a promotoria, isso comprova que os policias militares acusados atiraram com a intenção de matar e não para se defender de um confronto.

Os promotores apresentaram também laudos do Instituto Médico-Legal (IML) que, para eles, apontam que houve ;excesso criminoso; na ação dos acusados. O documento mostra que 90,4% das vítimas foram alvejadas na cabeça e pescoço.

Durante a fase de interrogatórios, os réus disseram que o ambiente no interior do presídio tinha baixa visibilidade, em razão da fumaça preta das barricadas e da ausência de iluminação. ;Se eles atiravam contra vultos, como acertaram cabeça e pescoço?;, questionou.


Fernando ressaltou, além disso, que os laudos mostravam que muitos dos tiros foram disparados a curta distância, menos de 30 centímetros. Os policiais acusados, por sua vez, disseram que agiram em legítima defesa, após confronto com os presos. ;De que modo essas vítimas receberam esses disparos enquanto atacavam os policiais?;

[SAIBAMAIS]Outro argumento do promotor para indicar que a responsabilidade das mortes no massacre decorre de ação coletiva foi a constatação trazida por laudo de que 71,6% dos tiros partiram de trajetórias distintas. Isso significa que um único preso recebeu tiros de vários policiais. ;Foi ação coletiva, o grupo age em conjunto, um segura o escudo, outro lidera ação. E todos [os policias acusados] admitiram ter atirado;, disse.

Para reforçar ainda mais sua tese, Fernando destacou o caso de uma vítima alvejada por nove disparos, sendo que oito foram transfixantes, ou seja, atravessaram o corpo (o projétil não ficou retido). O promotor questionou se seria justo que apenas o PM que efetuou o tiro que deixou o projétil retido fosse responsabilizado.

O número de tiros em cada corpo foi calculado pelo promotoria. Segundo Fernando, 86% dos mortos receberam três ou mais disparos, enquanto apenas 3,8% delas tiveram um disparo.

A ação que está sendo julgada, ocorreu para reprimir rebelião em 1992 , que resultou em 111 detentos mortos e 87 feridos. Esse ficou conhecido como o maior massacre de presídios brasileiros. Nesta etapa, estão sendo julgados 25 policiais militares acusados.

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