postado em 26/08/2013 08:31
"A ansiedade do pessoal era tão grande que a gente não estava dando atenção para nada, só para o sim ou o não do ministro", conta Paulo Roberto Marques, 56 anos. Ao lado de outras 600 pessoas, ele aplaudiu o anúncio feito por Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, no último dia 14, de que o governo indenizará as pessoas que passaram pelos chamados preventórios durante a infância, no século 20. Hoje discutida para o tratamento de dependentes de crack, a política de isolamento compulsório já foi adotada no Brasil entre 1927 e 1986, no combate à hanseníase.Então conhecida como lepra, a doença ainda não tinha cura e pouco se sabia das formas de contágio, o que levou o governo a construir dezenas de hospitais-colônia, os leprosários, para a internação dos doentes. Os filhos sadios das pessoas isoladas eram encaminhados para preventórios, espécies de orfanatos exclusivos para recebê-los. ;Nasci em 1957, no Hospital-Colônia Santa Marta, e fui levado direto para o Preventório Afrânio de Azevedo, em Goiânia. Minha mãe morreu lá, em 1960, e meu pai também faleceu no local. A família que nós tivemos foi a dos irmãos de creche, de criação;, lembra Paulo Roberto, que ficou no Afrânio até os 18 anos.
O modelo brasileiro era tido como exemplar, inclusive no exterior. Na década de 1940, no entanto, surgiram os primeiros medicamentos eficazes contra a doença. Ainda assim, o país manteve a política de isolamento até 1986. Hoje, sabe-se que o sistema foi ineficaz no combate à hanseníase e ainda propiciou gravíssimas violações de direitos humanos. Enquanto os leprosários eram administrados pelo governo, os preventórios ficavam a cargo das Sociedades Eunice Weaver, entidades filantrópicas. São frequentes os relatos de violência física e psicológica contra as crianças, trabalho escravo e até mortes dentro das instituições. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10% das crianças que chegaram aos preventórios não saíram de lá vivas. O Correio tentou contato com a Sociedade Eunice Weaver, inclusive na sede da entidade, no Rio de Janeiro, mas não obteve resposta.
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