postado em 22/09/2013 14:25
Rio de Janeiro ; Os abrigos para atender crianças e adolescentes precisam ser adaptados para cumprirem o papel de cuidar e proteger os direitos desse público. A avaliação é de profissionais que trabalharam diretamente com crianças e adolescentes no Rio de Janeiro. Para a diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), Ivone Ponczec, os abrigos para bebês devem possibilitar que mães ou parentes possam conviver com as crianças para estabelecerem e fortalecerem os vínculos afetivos. ;Esse convívio pode até estimular as mães a largarem o vício;, ponderou ela.A psicanalista disse, ainda, que é preciso proporcionar recursos financeiros, assistenciais e psicológicos a essas mulheres para que tenham condições de assumir a maternidade, já que muitas moram na rua e não têm contato com a família.
A chefe da Assistência Social do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), na zona norte do Rio, Dayse Carvalho, explicou que, em geral, essas mães têm famílias, que se distanciaram delas e não estão dispostas a se envolver ativamente na criação do bebê. ;A gente entende, também, que é uma grande responsabilidade, que muda a vida das pessoas como um todo. Algumas famílias já criam filhos de parentes e ficam reticentes em aceitar mais uma criança, sabendo que essa mãe continua na rua e pode ter mais filhos;, comentou a especialistas.
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Ela reconheceu que a decisão de enviar o bebê para o abrigo é difícil e delicada pois, em tese, a mãe não cometeu nada contra a criança. ;Mas o foco dela [mãe] não é a criança, é a droga. Então essa criança pode estar sofrendo algum tipo de violência. A contradição é que ela não quer abrir mão da criança, via de regra;, disse ao lembrar de uma adolescente que recentemente fugiu do abrigo com seu bebê que necessita de cuidados médicos.
[SAIBAMAIS];Há casos de mulheres que se drogaram a noite toda, passaram por diversas situações e chegam aqui parindo;, contou a médica. ;Essa situação faz com que, primeiro, a gente veja a rede familiar, que quase sempre é inexistente e se não tiverem nenhuma referência encaminhamos os bebês para a Vara da Criança e do Adolescente;.
Dayse Carvalho lembrou que muitas mães acham que perderam seus filhos, quando eles vão para os abrigos. A lei garante à mãe seis meses, prorrogáveis por mais seis meses, para reaver a guarda da criança que estiver no abrigo. ;Ela não perdeu o filho, ela está afastada dos cuidados diretos da criança, mas isso não quer dizer que a mãe não possa visitar, ir às consultas, inclusive, ela tem que fazer isso para tentar reaver a guarda;, explicou a chefe da assistência social do Hupe.
A médica do Programa Consultório na Rua, Valeska Antunes, criticou a falta de abrigos para mães grávidas também, além de abrigos para casais. O programa é voltado exclusivamente ao atendimento de pessoas em situação de rua. ;Muitas vezes o casal não quer se separar. Ao separar a mulher grávida do companheiro estamos enfraquecendo, talvez, o único vínculo que essa pessoa tenha;, esclareceu ela.
Na região onde a médica trabalha, em Manguinhos, zona norte, onde há muitos dependentes de crack, a maioria das mulheres grávidas atendidas pelo programa tinha parceiro fixo. ;Não são necessariamente [gravidezes] planejadas, mas muitas acontecem com pessoas que mantém relações estáveis. Algumas gravidezes são planejadas; comentou.
Valeska explicou que ao contrário do senso comum, a população de rua dependente de crack é diversa e heterogênea e, por isso, os tratamentos devem ser individualizados. ;Já tivemos grávidas que pariram e conseguiram se reorganizar no núcleo familiar, algumas conseguem se manter abstinentes durante a gravidez, outras não conseguem ficar abstinentes. Agora, dá muito trabalho ajudar essas pessoas a se reorganizarem;, ressaltou a médica.
A médica disse que é preciso fortalecer o trabalho de assistência no território e ampliar ainda mais o Programa Saúde da Família, já que há muitas mulheres usuárias de drogas que não estão nas áreas de concentração e muitas que não estão nas ruas.
A Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura do Rio foi contatada para se manifestar sobre os abrigos e as ações voltadas para crianças e adolescentes. Até o fechamento da matéria, o órgão não respondeu às colocações feitas pela Agência Brasil.