Brasil

Museu da República do Rio promove exposição de cartas aos constituintes

Amostra reúne em torno de 5,5 mil cartas de brasileiros de todas as condições sociais, enviadas de vários lugares que a equipe da Fundação Nacional Pró-Memória encaminhava aos constituintes

postado em 03/10/2013 21:17
Rio de Janeiro - O Museu da República abriu ao público que circula diariamente pelas suas dependências um acervo coletado desde 1985 pela extinta Fundação Nacional Pró-Memória, até o encerramento dos trabalhos da Assembleia Constituinte, em 1988. A exposição 25 Anos da Constituição Cidadã foi inaugurada nesta quinta-feira (3/10), como parte do projeto Painéis da República. No sábado (5/10), a Constituição Federal faz 25 anos.

Segundo os pesquisadores do museu, Elizabeth Sussekind e Marcus Macri Rodrigues, a mostra reúne em torno de 5,5 mil cartas de brasileiros de todas as condições sociais, enviadas de vários lugares com sugestões, dúvidas e reivindicações que a equipe da Fundação Nacional Pró-Memória encaminhava aos constituintes. ;Raramente elas eram escritas à máquina;, disse Elizabeth à Agência Brasil. ;Foi um projeto que democratizou a Constituição.;



A esse material se somam enquetes feitas nas ruas pelos pesquisadores do Pró-Memória durante as reuniões, no Rio, da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais (CEC), para saber a opinião da população sobre os assuntos polêmicos em debate, entre os quais o aborto, a situação dos trabalhadores rurais e dos índios, além de os direitos da mulher. A CEC era conhecida, também, como Comissão Afonso Arinos ou Comissão dos Notáveis, porque era presidida pelo senador Afonso Arinos de Mello Franco e composta por 50 juristas e representantes de diversos segmentos da sociedade. Os ;gazeteiros; [parlamentares eleitos para elaborar a nova Constituição] da Constituinte também foram objeto de enquete. ;Até pena de morte saiu;, lembrou Elizabeth. ;A gente tinha uma riqueza de informações.;

O Centro Pró-Memória da Constituinte (CPMC) do Rio de Janeiro foi aberto no dia 10 de março de 1986 e funcionou durante dois anos, no térreo da antiga Companhia Docas de Santos, atual sede do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O espaço tinha as paredes cobertas por painéis de artistas plásticos, com suas visões críticas sobre a Constituinte. ;As pessoas passavam e perguntavam: ;O que estão falando hoje na Constituinte? O que estão resolvendo?;;, contou Elizabeth Sussekind. Foi a partir dessa curiosidade popular que ela e outros colegas da Fundação Nacional Pró-Memória decidiram abrir o projeto chamado A Montanha Vai a Maomé.

;Nós íamos para os lugares de difícil acesso ou inusitados, no sentido de que as pessoas não teriam ido ou se comunicado, como penitenciárias, Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (Funabem), favelas, Feira de São Cristóvão, e levávamos um computador que a (empresa) Cobra nos emprestou e mostrávamos para as pessoas o que estava ocorrendo na CEC;, lembra Sussekind.

A ação conseguiu quebrar a resistência das pessoas e mesmo as mais desconfiadas ou descrentes do trabalho da Comissão Constituinte decidiam mandar algum recado. A equipe elaborou um questionário que coletava as opiniões da população. ;Nós éramos uma ponte;.

Os relatórios eram digitalizados à noite. Pela manhã, os pesquisadores do CPMC repassavam esse material para todos os interessados. Elizabeth disse que professores universitários, políticos e até governadores solicitavam cópias que eram entregues pessoalmente ou enviadas pelo correio, sempre gratuitamente. O serviço era prestado também por telefone.

A equipe do CPMC resolveu também produzir pequenos folhetos de uma página, pedindo a opinião popular que, por meio de convênio, foi encartado nos volantes de loteria esportiva e santinhos de igreja. ;Começamos então a costurar uma participação popular que fosse bem significativa;. O trabalho foi apoiado pelos veículos de imprensa de todos os segmentos à época: jornal, televisão e rádio. Do acervo fazem parte recortes de notícias publicadas pelos jornais e gravações do programa radiofônico do governo federal A Voz do Brasil, que dedicava parte de seu horário diário às notícias da Comissão dos Notáveis e da Assembleia Constituinte.

O acervo foi levado para o Museu da República em 1990 e exposto pela primeira vez em 2008, com recursos da Fundação Ford, dos Estados Unidos. ;Agora, estamos querendo dar destaque e colocar à disposição do público esse acervo;. A exposição ficará aberta até o dia 3 de novembro. Ela será sucedida, depois, por outra mostra, intitulada Trabalho, Luta e Cidadania: 70 Anos da CLT, informou Marcus Macri Rodrigues.

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