postado em 08/10/2013 16:50
Os testes feitos pelo Ministério das Comunicações com a rádio digital não foram satisfatórios por apresentaram, ainda, alcance inferior ao do sinal analógico. Apesar disso, novos testes estão previstos para tornar real o desejo de qualidade manifestado nesta terça-feira (8/10) por representantes de rádios públicas, privadas e comunitárias, durante audiência pública na Câmara dos Deputados.Entre 2010 e 2012 foram feitas 11 baterias de testes em sete emissoras, informou o diretor do Departamento de Acompanhamento e Avaliação de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Octavio Penna. ;Foi constatado que o sistema analógico ainda tem um alcance maior do que os apresentados pelos dois padrões digitais [DRM e HD Rádio], tanto com o uso de receptores profissionais como com o de receptores comerciais, o que revela preocupação;, disse o diretor.
Penna, no entanto, acrescenta que o resultado pode ter sido influenciado por ;diferenças nas características técnicas dos equipamentos enviados pelos fabricantes;. Segundo ele, o comportamento dos equipamentos ;ficou aquém do esperado, mas pode melhorar;. Por isso, novos testes deverão ser feitos pois nas reuniões do conselho de rádio digital, ;foi manifestado consenso; no sentido de garantir pelo menos a mesma cobertura entre padrões analógico e digital.
;Estamos buscando emissoras aptas a novos testes, o que será fundamental para darmos segurança de que [a rádio digital] é factível;, disse Penna. Entre as emissoras que participarão dos testes está a Rádio Nacional de Brasília, uma das emissoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). ;Queremos fazer testes em situações [envolvendo ambientes] comuns à realidade brasileira, como o espectro congestionado de São Paulo;.
O diretor da EBC, Eduardo Castro, também participou da audiência. ;Nosso posicionamento é em favor da digitalização em todas as três frequências [AM, FM e OC]. Mas a decisão deve ser baseada no padrão que melhor atender ao modelo de serviço como um todo, envolvendo as rádios comerciais, públicas e comunitárias;, disse Castro.
;A rádio é meio estratégico para o Brasil, especialmente pelas dimensões territoriais e pelo perfil sócioeconômico da população, pois a rádio ainda é o único meio de comunicação para boa parte do país;. Castro destacou o papel das rádios AM e de Ondas Curtas (OC), por ;apenas elas; atenderem determinados segmentos da população, em especial das áreas rurais e isoladas.
O diretor da EBC ressaltou os impactos sociais e econômicos que decorrerão da escolha do padrão a ser adotado, e que, para isso, será fundamental uma política industrial focada na produção de receptores a preços acessíveis e com multibandas.
;Serão necessários receptores de baixo custo e capazes de receber todas as frequências. [Para chegarmos à melhor escolha] será necessária também a participação da indústria nacional e dos centros de pesquisa, a exemplo do que aconteceu com a TV digital;, acrescentou.
Relatório feito pela Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara concluiu ser o sistema HD Rádio o mais adequado para a implantação no Brasil. Entretanto, acrescenta o relatório, não é aconselhável que as emissoras fiquem restritas a uma única tecnologia.
Para o presidente da Associação das Rádios Públicas do Brasil (Arpub), Mário Sartorello, faltou ao relatório se aprofundar em algumas questões técnicas que foram levantadas durante as reuniões do conselho. Segundo ele, o relatório podia trazer mais subsídios técnicos, de discussão de modelos de negócios e a necessidade de novos testes.
;A Arpub se sentiu incomodada ao ver que boas e importantes discussões do conselho não foram incorporadas ao relatório. Causa estranheza que muitas coisas colocadas pela EBC e pelo ministério não tenham sido colocadas;, disse ao se referir a elementos contidos nas análises dos testes e relativos a política industrial, inovação tecnológica e prestação de serviços.
;Apesar de o padrão não ser o principal foco, ele leva em consideração um modelo de negócio que influenciará a política industrial;, argumentou. A entidade também defende que todas as frequências sejam digitalizadas.
Membro do Conselho Político da Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc), Taís Ladeira defendeu que o projeto de digitalização ;tem de ser visto como uma política pública;, devido ao potencial de democratização que possibilitará, por viabilizar a multiprogramação.
;A escolha do padrão vai muito além da questão tecnológica e da indústria nacional. Por isso criticamos a ausência da academia dentro do conselho. O assunto pede debates mais focados e aprofundados e preocupação com o papel social do rádio no Brasil. Não é possível desconsiderar as rádios AM e OC. Rádio é espaço de atuação política, social; de organização social. É a comunicação social garantindo outros direitos;, disse. Ela pediu também maior participação do Legislativo nas discussões promovidas pelo conselho.
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) defende que o sistema não se limite a apenas um padrão, a exemplo do que concluiu o relatório da comissão na Câmara, segundo informou sua gerente de Tecnologia, Monique Cruvinel Strassburguer.
A entidade considera positivos aspectos como transferência tecnológica, utilização eficiente do espectro, diversidade de modos de configuração, transmissão de dados auxiliares, custo reduzidos, democratização dos meios de comunicação, inclusão social e expansão do setor em busca de novos modelos de serviços e negócios.
;Mas não vamos avançar sem que resolvamos a questão da cobertura;, disse Monique referindo-se às limitações técnicas apontadas pelos testes feitos até o momento. Segundo ela, é necessário incentivar indústria no que se refere a transmissão, recepção e serviços.
Ela aponta como ;próximos passos; a serem dados pelas autoridades a definição do padrão, das características técnicas e jurídicas das rádios, além dos aspectos regulatórios da transmissão, de linhas de crédito e de dar celeridade aos processos sob responsabilidade do Ministério das Comunicações e da Anatel, no sentido de ;higienizar o setor;.
A representante da Abert avalia que, na área de produção de conteúdo, será necessária a capacitação de profissionais, principalmente para os novos serviços que devem advir da definição de modelos e do ambiente de convergência que deve surgir. ;Mas o ponto principal será a recepção. Não haverá rádio digital se não abraçarmos a recepção, o que ainda foi feito de forma superficial;.
A rádio digital brasileira terá influência também na rádio digital a ser adotada por outros países, segundo o representante da Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel), André Trindade. ;Nossa dimensão continental e a diversidade de nosso relevo pode resultar na apresentação de soluções para outros países da América Latina;, disse.
;O problema é que o resultado dos testes, até o momento, não apresentaram uma cobertura adequada, principalmente para cidades de grande espectro, nem dão segurança ao radiodifusor para apoiar a adoção de um padrão. Por isso, infelizmente, não apoiamos, ainda, a digitalização. Mas defendemos que sejam feitos novos testes;, acrescentou.
Outro ponto levantado pela Abratel é a possibilidade de haver migração automática do padrão digital para o analógico em situações de perda de sinal digital. ;É importante que o receptor mude para evitar queda da audiência para a emissora;, disse.
;Falta também capital para investimento a serem feitos pelas emissoras. Isso poderá resultar na morte de um número imenso de rádios, pois o custo de migração da AM para a FM será elevado. Precisamos portanto dar segurança para que criemos um modelo de negócios adequado, com uso de linhas de crédito;, completou.