Brasil

MP do Rio denuncia mais 15 policiais militares envolvidos no caso Amarildo

Novas informações sobre o caso foram dadas em entrevista coletiva nesta manhã

postado em 22/10/2013 12:31
Mais 15 policiais militares foram denunciados ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) por envolvimento na morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Após a realização de uma perícia foram identificados quatro PMs que participaram ativamente da tortura a que a vítima foi submetida ao lado do contêiner da UPP da Rocinha, na Zona Sul do Rio. No total, 25 militares foram denunciados.

Promotores apresentam resultado da investigação

Promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) e da promotoria junto à Auditoria de Justiça Militar divulgaram novidades do caso em entrevista coletiva nesta manhã de terça-feira (22/10). O aditamento à denúncia, que foi encaminhado ao juiz da 35; Vara Criminal da Capital, acusa todos os policiais por tortura; 17 deles por ocultação de cadáver; 13 por formação de quadrilha; e 4 por fraude processual.

Dos 15 agentes denunciados agora, três tiveram a prisão preventiva decretada: os sargentos Reinaldo Gonçalves e Lourival Moreira e o soldado Vagner Soares do Nascimento. Eles se somarão aos dez policiais militares que já foram denunciados e estão presos, entre eles o major Edson Santos, ex-comandante da UPP, e o tenente Luiz Medeiros, ex subcomandante da unidade.



Uma das responsáveis pela investigação, a promotora de Justiça Carmen Eliza Bastos afirmou que novas perícias técnicas foram realizadas e que, juntamente com os depoimentos de cinco PMs, possibilitaram a identificação exata de onde Amarildo foi brutalmente torturado. O local fica em um pequeno depósito atrás do contêiner da UPP. Quatro agentes, segundo a denúncia do MP, participaram diretamente do ato e da fraude provocada, em uma tentativa de atribuir a traficantes a morte do pedreiro. Segundo a promotora, outros moradores relataram a rotina de torturas, abuso de autoridade e lesão corporal realizada por parte dos policiais daquela unidade de pacificação.

Dor, gritos e silêncio

A mando do major Edson Santos, o tenente Luiz Felipe de Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Vital torturaram Amarildo em 14 de julho, em horário que não se pode precisar, mas aproximadamente entre às 19h e 20h. ;Restringiram sua liberdade sem ordem judicial para tanto, levando-o para o Centro de Comando e Controle, e, posteriormente, para a sede da UPP, na viatura policial, sob a falsa alegação de que fariam uma averiguação sobre sua identidade;, relata a denúncia. O motivo para o crime seria obrigar a vítima a informar onde estavam escondidas as armas e as drogas na comunidade, depois que a operação intitulada ;Paz Armada; não apresentou resultados, deixando o major inconformado.

Imagem mostra Amarildo entrando em carro de policias militares

[SAIBAMAIS]Por cerca de 40 minutos Amarildo foi submetido a asfixia com um saco plástico na cabeça e na boca. Choques com teaser e afogamento em balde de água do ar-condicionado da UPP, prática conhecida vulgarmente por ;submarino;, também teria sido praticados na tentativa de uma confissão. Segundo a promotora, 11 policiais receberam ordem do tenente para permanecer dentro do contêiner e puderam ouvir as agressões, enquanto outros 12 vigiavam o local.

Segundo a promotora Carmen Eliza, o major Edson Santos esteve presente em todos os momentos em que Amarildo foi torturado. Ele permaneceu no andar de cima do contêiner em frente ao local da tortura. Assim que Amarildo foi morto, os policiais envolveram o corpo dele em uma capa plástica de uma motocicleta da PM e lacraram com o uso de fitas adesivas. Ainda sob ordens do major Edson, eles retiraram o corpo da vítima da UPP, levaram para a mata atrás do contêiner para, em um momento posterior, ocultá-lo em um local ainda não identificado.

Versão falsa de policiais

Carmen Eliza explicou que as versões dos policiais de que Amarildo teria deixado a UPP e teria sido morto por traficantes e a de que o traficante Thiago da Silva Neris, conhecido como Catatau, teria assumido a autoria do assassinato em uma ligação para o celular de um policial interceptado pela Justiça se provaram falsas. Uma nova análise foi feita pela perícia técnica da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MP, comparou a voz dos 34 PMs citados no processo. Foi descoberto que o soldado Marlon Campos Reis foi o autor da ligação, acompanhado do soldado Vital. Outra fraude apontada pela investigação indica a aplicação de óleo no chão atrás da UPP para encobrir o sangue do pedreiro, dificultando a perícia.

O inquérito continuará investigando a conduta dos PMs acusados de coação. As penas imputadas a cada réu variam de 9 anos e 4 meses a 33 anos de prisão.

Denunciados

Edson Raimundo dos Santos, major
Luiz Felipe de Medeiros, tenente
Douglas Roberto Vital Machado, vulgo ;Cara de Macaco;, soldado
Marlon Campos Reis, soldado
Jorge Luiz Gonçalves Coelho, soldado
Victor Vinicius Pereira da Silva, soldado
Jairo da Conceição Ribas, sargento
Anderson Cesar Soares Maia, soldado
Wellington Tavares da Silva, soldado
Fabio Brasil da Rocha da Graça, soldado
Reinaldo Gonçalves dos Santos, 3; sargento
Lourival Moreira da Silva, sargento
Wagner Soares do Nascimento, soldado
Rachel de Souza Peixoto, soldado
Thaís Rodrigues Gusmão, soldado
Felipe Maia Queiroz Moura, soldado
Dejan Marcos de Andrade Ricardo, soldado
Jonatan de Oliveira Moreira, soldado
Márcio Fernandes de Lemos Ribeiro, soldado
Bruno dos Santos Rosa, soldado
Sidney Fernando de Oliveira Macário, soldado
Vanessa Coimbra Cavalcanti, soldado
João Magno de Souza, soldado
Rafael Bayma Mandarino, soldado
Rodrigo Molina Ferreira, sargento

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