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Com mais de 50 anos de carreira, Rossi reformulou o conceito de brega

O músico faleceu na manhã desta sexta-feira(20/12) após perder a luta contra o câncer



Dono de uma uma cabeleira fora dos padrões de beleza, de uns óculos escuros onipresentes, camisa sempre aberta no peito e uma voz inconfundível, Reginaldo fez sucesso incontestável para além das fronteiras do estado. Começou com o rock e o balanço da Jovem Guarda no grupo Silver Jets. Depois, em carreira solo, enveredou pelas músicas românticas. Dominou o Norte e o Nordeste. Com a canção Garçom, lançada em 1986, chegou ao restante do país e se consolidou como artista nacional.



Reginaldo Rossi assumiu a condição de popular das músicas às declarações. Orgulhava-se de preferir os termos usuais para compor, em vez de se valer das palavras rebuscadas agradáveis apenas à crítica. "Eu canto para o povão", mandou avisar por meio dos médicos, já do leito do hospital. As letras sempre remeteram à simplicidade: a tristeza depois de ser deixado pela pessoa amada, os suspiros nas carícias do casal, a traição, o bailinho, a ausência e a canalhice. Vieram A raposa e as uvas, Mon amou meu bem ma femme, Tô doidão, Deixa de banca, Garçon.

Com o microfone nas mãos, desferiu golpes duros no machismo, ao exigir igualdade amorosa para as mulheres, criticou a hipocrisia homofóbica, deu leveza ao chifre, calo social brasileiro muitas vezes combustível para atos de violência. ;Por que o homem pode chifrar, chifrar, chifrar e a mulher não pode fazer nada?;. Rossi deu transparência ao sentimento.

O cantor havia se apresentado pela última vez em João Pessoa, depois de enfrentar três apresentações seguidas no Manhattan Café-Theatro, em Boa Viagem, no Recife. Estava com show marcado no revéillon, no Pina, Zona Sul do Recife, cidade cujo hino informal é uma de suas composições mais adoradas: "Recife, a minha cidade, o meu lugar". Fumante inveterado de mais de dois maços de cigarro ao dia, consumidor de uísque misturado com Coca-Cola e jogador contumaz de pôquer, Reginaldo deixa a esposa Celeide e o filho Roberto. Mais: deixa órfão uma legião de fãs acostumados a cantar, sorrir e chorar ao som de letras capazes de desvendar e espalhar cada retalho da alma humana.