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Moradores de Itaóca relembram dia da enxurrada e contabilizam prejuízos

Nos arredores, o cenário é o mesmo: paredes caídas, móveis retorcidos, muita lama, além do lamento pelas 12 mortes já confirmadas na tragédia



Também a poucos metros do rio, Rosicléia Monteiro, 28 anos, retorna à casa onde vivia com os pais para tentar encontrar algum mantimento que tenha resistido à chuva. ;Não restou nada. Só a carcaça. Vamos ter que começar do zero;, relatou. Por enquanto, a família está abrigada na casa de parentes. Apesar do prejuízo, ela considera que teve sorte. ;Só perdemos bens materiais. A última grande enchente aqui foi em 1997. Naquela época, a ponte rodou [foi levada pela enxurrada] e não causou tantos prejuízos;.

A família de Daiane Machado, 27 anos, por outro lado, não teve tempo de se abrigar. A casa, em que a mãe, a irmã, o cunhado e os dois sobrinhos estavam, foi carregada com a força das águas. A jovem veio de Sorocaba para acompanhar as buscas pelos parentes. ;Até agora só encontraram minha irmã e minha sobrinha. Nem consegui chegar a tempo, já tinham enterrado;, contou. A família morava em Lajeado, um bairro que fica a cerca de seis quilômetros do centro de Itaóca, mas que foi bastante afetado pela tromba d;água.

As pontes que existiam nessa comunidade foram destruídas e, agora, o deslocamento dos moradores é feito pelo rio, com a água na cintura. É o caso de Aurélio Petris, 40 anos, que não sabe como vai fazer para chegar ao trabalho, pois o deslocamento era feito de carro pela ponte. ;Sou operário de uma fábrica de cimento. Não sei como vou me locomover. Dá uns seis quilômetros daqui;, disse. Enquanto aguarda o retorno do trabalho, ele, que perdeu dois parentes na tragédia, ajuda, como voluntário, carregando mantimentos e água para os vizinhos.

De acordo com a prefeito de Itaóca, Rafael Camargo, as pontes serão refeitas, mas não haverá mais pilastras de alvenaria na base delas. ;Agora vai ser mudada toda a ideia da estrutura da ponte. Vai ser feita em arco, sem apoio em baixo, para facilitar o fluxo do rio;, prometeu. Ele informou ainda que a ponte do Lajeado já era em forma de arco, mas que a altura dela foi insuficiente para não ser atingida pela água.

O último balanço da Defesa Civil, divulgado às 20h dessa terça-feira (14), contabiliza, além das 12 mortes, oito pessoas desaparecidas. Segundo a Defesa Civil, 19 casas foram destruídas totalmente. A maior parte das famílias desabrigadas, um total de 83, foi para a casa de parentes e amigos. Apenas três famílias estão em escolas da prefeitura. Cerca de 80% da cidade já tiveram a energia restabelecida, mas o fornecimento de água ainda está sendo feito, em sua maior parte, por meio de caminhões-pipa.