Leonardo Cavalcanti
postado em 11/02/2014 05:58
A morte cerebral de Santiago Idílio Andrade, 49 anos, foi confirmada ontem poucos minutos antes das 13h, quatro dias depois de ele ter sido atingido por um rojão que lhe afundou o crânio enquanto trabalhava como cinegrafista em um protesto no centro do Rio de Janeiro contra o aumento nas passagens de ônibus. O rastilho da violência nas manifestações, entretanto, está espalhado pelas capitais brasileiras há pelo menos oito meses, quando ocorreram os primeiros confrontos entre black blocs e policiais. Num apelo emocionado, a mulher de Santiago, Arlita Andrade, implorou pela paz. Ela disse que ;falta amor; aos culpados pela agressão e apelou às pessoas para que ;não sejam violentas;.[SAIBAMAIS]Em texto postado ontem em uma rede social, a filha do cinegrafista, a jornalista Vanessa Andrade, de 29 anos, rememorou passagens da vida com Santiago, como quando teve a companhia do pai para fazer uma tatuagem. Ressaltou o esforço do cinegrafista para garantir que terminasse os estudos. ;A gente que vem de família humilde precisa provar duas vezes a que veio. Me deixou a vida toda em escola pública porque preferiu trabalhar mais para me pagar a faculdade. Ali o sonho dele se realizava. E o meu começava;, disse Vanessa, no texto comovente.
Governos em xeque
Depois de oito meses dos primeiros protestos violentos, a morte cerebral do cinegrafista Santiago Andrade coloca em xeque a capacidade dos governos estaduais e federal de garantir a segurança da população durante as manifestações nas ruas, justamente em ano de eleições e com a Copa do Mundo batendo à porta. O governador do Rio, Sérgio Cabral, que comanda em última instância as forças policiais do estado, restringiu-se a lamentar o caso em nota, classificando a violência como ;inaceitável;. O prefeito Eduardo Paes seguiu na mesma linha.
O episódio deixa chefes do Executivo de outros estados em alerta, sobretudo porque o motivo do protesto da semana passada que terminou na agressão contra Santiago é mazela nacional: altos preços cobrados por um péssimo transporte público. A presidente Dilma Rousseff disse, em uma rede social, que o caso ;revolta e entristece;, ao mesmo tempo em que anunciou ter colocado a Polícia Federal à disposição das autoridades fluminense para identificar os culpados ; oferta negada pela Polícia Civil do Rio.
Desde que os protestos começaram, há cerca de oito meses, interlocutores do poder público falam da necessidade de se aproximar de grupos mais radicais. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em outubro passado, afirmou publicamente que travaria um diálogo com os black blocs. ;Houve declarações com a intenção de uma aproximação, mas nada foi levado adiante, praticamente não houve tentativa de conversa;, afirma a doutora em ciências sociais Esther Solano Gallego, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que estuda os black blocs. ;
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