postado em 13/02/2014 18:55
Uma testemunha, cujo nome não foi revelado, informou à polícia que na quinta-feira (6/2), dia da manifestação no centro do Rio, recebeu uma ligação de Caio Silva de Souza, envolvido na morte do cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade. O delegado Maurício Luciano, responsável pelo inquérito sobre a morte do cinegrafista, disse que no telefone Caio confessou que havia cometido uma besteira e que tinha matado um homem.Segundo o delegado, a declaração foi dada informalmente no hospital, quando tentava localizar o suspeito da morte do cinegrafista, após ter sido expedido o mandado de prisão contra ele. A testemunha é um colega de Caio de quando ele trabalhava como auxiliar de serviços gerais no Hospital Rocha Faria, em Campo Grande.
;Eu fui no hospital no dia do mandado de prisão para cumprir e a gente procurou ouvir as pessoas próximas ao Caio. Uma delas, com quem ele tinha contato constante, nos revelou isso. A ligação dele ofegante, por volta de 19h30, no dia do fato, afirmando ter feito uma besteira e que tinha matado um homem;, revelou acrescentando, que, por isso, a testemunha foi convocada a prestar depoimento formal à polícia, quando confirmou a informação, que será incluída no inquérito que vai apontar crime de homicídio com dolo eventual.
O delegado ficou satisfeito em saber que a promotora Cláudia Condack, que pretende denunciar até o final da próxima semana os dois suspeitos de ter lançado o rojão contra o cinegrafista, concorda que seja esta a caracterização do crime, conforme ela tinha revelado nessa quarta-feira (12/2), em entrevista à Agência Brasil. ;Fiquei muito satisfeito. É na mesma linha;, disse.
Para Maurício Luciano, as investigações chegaram a provas ;robustas;. Na avaliação dele, o fato de Caio ter dito que foi incentivado por Fábio Raposo [o tatuador que confessou ter participado do crime] a deflagrar o rojão não muda a direção do relatório do inquérito que será entregue nesta sexta-feira (14/2) ao Ministério Público.
;Ele dizer que era um sinalizador. É claro que ele vai alegar tudo para não assumir que sabia que aquilo era um rojão. Todos eles usam constantemente em manifestações o chamado rojão treme-terra ou rojão de vara. Então, ele dizer que é sinalizador, que o outro que acendeu, que não sabia do poder de destruição. Com tudo isso ele está se defendendo. Ele vai exercer isso em juízo. O advogado vai orientar a ele dizer. O que temos aqui são provas robustas, com materialidade, testemunhas que indicam a intenção dele e autoria do crime. Temos a autoria e a materialidade;, esclareceu.
[SAIBAMAIS]Maurício Luciano destacou que quem presta auxílio material é partícipe e quem deflagra é autor, mas ambos vão receber a mesma pena. ;O que a gente sabe é que eles agiram em conjunto;, contou.
O delegado disse que não viu nenhuma imagem em que Caio apareça segurando o rojão, mas isso pode ser uma estratégia dos manifestantes. ;Quem detona não porta, quem porta não detona, para evitar que a pessoa fique incumbida de todos os atos durante uma manifestação. É uma divisão de tarefas;, explicou.
Depois de chegar ontem à Cadeia Pública, no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, onde está preso, Caio prestou depoimento ao delegado Fábio Pacífico. ;Foi tomado depoimento porque ele demonstrou interesse em ser ouvido. A gente não sabia o que ele ia falar. Ele falou tudo que quis falar de maneira tranquila. Agora tenho que extrair para o inquérito o que interessa para esta investigação;, disse Maurício Luciano.
O delegado destacou alguns pontos do depoimento que têm relação com o inquérito, como o fato de Caio ter dito que quem o tinha incentivado foi Fábio, que pensou que se tratava de um sinalizador e que não tinha intenção de matar o cinegrafista. ;Muito pouco do que ele disse nessas duas páginas pouco acrescentam à investigação. Para mim, a relevância do depoimento é relativa. Será importante se outras investigações tiverem como objetivo saber o suposto patrocínio de manifestantes;, completou.
Segundo o delegado, o advogado Jonas Tadeu Nunes não estava presente por causa da urgência e não havia tempo suficiente para que ele fosse chamado. ;O juiz é que vai entender se tem peso ou não. Coube a gente inquiri-lo porque havia uma situação de que o Caio ia ficar recolhido e queria falar. Então, não houve tempo para chamar advogado. O peso que isso terá no inquérito será verificado em juízo;, explicou.
O tatuador Fábio Raposo, que estava ao lado de Caio no momento em que o rojão foi aceso, permanece preso no mesmo complexo penitenciário, mas está em prédio diferente. Os dois têm prisão temporária que poderá ser transformada em preventiva depois que a denúncia for recebida pela Justiça e iniciado o processo. ;A prisão temporária só pode viger durante a investigação. Quando o processo for iniciado, eles poderão continuar presos, mas com outro título de prisão preventiva;.