O advogado Celso Vendramini, que defende os 15 policiais que estão sendo julgados pela morte de oito detentos que ocupavam o quarto pavimento do Pavilhão 9 da extinta Casa de Detenção do Carandiru, ficou irritado com o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo e deixou o plenário por volta das 16h desta terça-feira (18/2), enquanto um dos réus estava sendo interrogado pelos promotores. Vendramini reclamou de não estar recebendo do juiz tratamento idêntico ao que era dado aos dois promotores, Márcio Friggi de Carvalho e Eduardo Olavo Canto Neto.
Segundo o Tribunal de Justiça, após a saída do advogado do plenário, o julgamento foi suspenso e será agora marcada uma nova data para que tenha continuidade.
A terceira etapa do julgamento do Carandiru teve início na manhã de ontem (17/2), quando sete jurados foram escolhidos para compor o Conselho de Sentença. À tarde, duas testemunhas de acusação foram ouvidas, o perito Osvaldo Negrini Neto e o ex-diretor de Segurança da Casa de Detenção Moacir dos Santos. Durante o julgamento de Moacir dos Santos, já havia ocorrido uma pequena discussão entre os promotores e o advogado, que foram advertidos pelo juiz.
Na manhã desta terça-feira (18/2), foram ouvidas duas testemunhas de defesa, o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco Campo e o ex-agente penitenciário e chefe de plantão dos agentes Francisco Carlos Leme.
No momento em que o advogado abandonou o plenário, estava sendo interrogado o primeiro réu, coronel Arivaldo Sérgio Salgado, que era capitão na época do massacre e comandava a tropa do Comando de Operações Especiais (COE) no dia em que houve a chacina. Vendramini interrompeu o interrogatório do coronel pelo promotor Canto Neto e questionou o juiz sobre a conduta do promotor, que lia um trecho de um antigo depoimento dado por Salgado sobre o caso. Como o juiz considerou que não havia problemas no procedimento de Canto Neto e na leitura do depoimento, determinou que o interrogatório prosseguisse. Irritado, o advogado reclamou que o juiz estava valorizando o Ministério Público, tirou sua toga e deixou o local do julgamento. Na saída, teve sua conduta elogiada por alguns policiais que aguardavam do lado de fora do plenário.
;O procedimento do Ministério Público é fazer perguntas à testemunha. O que o Ministério Público estava fazendo era ler depoimento do réu, longo, e no final ele perguntava o que bem entendia. O correto, em um tribunal de júri, é fazer perguntas. Ontem, inclusive, no final, fui chamado de mal-educado pelo juiz;, reclamou o advogado, na saída do fórum. ;Estou percebendo que, para o Ministério Público, tudo, e para a defesa, nada;, disse ele.
Para o advogado, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) precisa tomar alguma atitude no caso. Vendramini disse que pretende continuar defendendo os policiais, mas ressaltou que o ideal é que o juiz Rodrigo Tellini não presida o próximo julgamento do Carandiru. ;Vamos ver se conseguimos achar um juiz que presida o julgamento de forma imparcial. E eu vou achar;, afirmou.
Já os promotores reclamaram da atitudedo advogado e disseram que a suspensão do julgamento causa, inclusive, prejuízo financeiro público. ;Calculem o prejuízo para o Estado, que teve que montar este julgamento, as despesas, o prejuízo com os jurados, que tiveram de deixar suas casas para vir para cá. É lamentável que isso aconteça;, destacou Carvalho.
;Lamentamos profundamente. Isso foi uma surpresa para nós, um absurdo. O que foi feito hoje foi realmente uma afronta, um desrespeito à lei e à sociedade em geral;, disse Canto Neto.
Os promotores disseram também que é preciso haver algum procedimento para impedir que atitudes como essa de Vendramini se repitam. ;É hora de pensar em uma alguma punição mais efetiva para o profissional que tome esse tipo de comportamento. Nem o juiz nem o promotor de Justiça têm qualquer ferramenta para impedir isso;, disse Carvalho.
Esta não foi a primeira vez em que Vendramini deixou o plenário durante um julgamento. Em 2011, quando estavam sendo julgados quatro policiais militares acusados da morte de dois jovens, ele abandonou o plenário como protesto porque havia no local pessoas usando camisetas com fotos das vítimas.