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Carnaval é palco para cenas de abuso sexual no Rio de Janeiro

Muitas mulheres foram vítimas de abordagens criminosas, sendo agarradas, apalpadas e beijadas à força. Essas situações são consideradas uma modalidade de estupro pela Lei 12.015/2009

postado em 08/03/2014 13:47
A coincidência entre o fim do carnaval e o Dia Internacional da Mulher, comemorado neste sábado (8/3), não significou dias de folia sem violência. No Rio de Janeiro, na festa popular, uma das maiores do mundo, muitas mulheres foram vítimas de abordagens criminosas, sendo agarradas, apalpadas e beijadas à força. Essas situações são consideradas uma modalidade de estupro pela Lei 12.015/2009, e são punidas com pena de seis a dez anos de prisão.

Entrevistadas pela Agência Brasil, foliãs foram unânimes ao afirmar que sofreram vários tipos de abusos. ;O cara chegou e me deu uma chave de braço [técnica de imobilização no pescoço]. Não tive como sair e ele me beijou;, relatou a designer Paula*, que participou de um bloco no centro do Rio. ;É carnaval e a galera acha que pode pegar, passar a mão, beijar à força. Se estiver de shortinho, então...;, reclamou a professora Marcela*.

Em um período de cinco horas, na tarde de domingo (2), a estudante Andrea* também viveu situações semelhantes. Ela contou que sozinha ou acompanhada de amigos se divertir sem ser abordada de forma violenta foi impossível. ;São 17h10. Eu cheguei aqui ao meio-dia. Posso dizer que foi o suficiente;, revelou. ;Se passar sozinha, os caras passam a mão, tentam enfiar o dedo (na vagina), beijar, isso é um fato;, declarou a auxiliar de administração, Fabrícia*.

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As práticas descritas no carnaval carioca fazem com que se divertir durante o reinado de Momo sem sofrer alguma forma de estupro seja um desafio extra para as mulheres, avalia a secretária executiva de Políticas para as Mulheres, da Presidência da República, Lourdes Maria Bandeira. ;Há avanços em uma série de dimensões da vida, somos maioria nas universidade, há expansão das áreas de atuação e de decisão, mas persiste um repertório de práticas violentas;, disse.

A secretária acredita que outra agravante no carnaval é a leitura do senso comum sobre a roupa da mulher. ;Ao colocar uma saia curta ou uma roupa alegre, ela não é respeitada. Passa a ser vista em uma condição de vulgaridade, de mulher fácil, de objeto e a partir disso deriva a violência;, disse. A representação de mulheres em condições de objeto sexual na mídia, nesse período, também reforça a visão do senso comum, alerta Lourdes, que é socióloga da Universidade de Brasília (UnB).

Preocupada com aumento de casos de violência contra a mulher nesse período, que aumentam cerca de 30%, a Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana da Paraíba lançou uma campanha para estimular as denúncias, com frases como "Beijar à força é crime", ;Agarrar à força é crime; e ;No carnaval não pode tudo;. ;Atitudes como essas não podem ser encaradas como brincadeira de carnaval. É crime ;, disse a secretária-executiva, Nézia Gomes, em nota.

No Rio, o prefeito Eduardo Paes, na abertura do carnaval, condenou os abusos, mas não se pronunciou sobre a ausência de uma campanha. ;Se isso acontece, a gente espera que os casos sejam tratados pela polícia. Os agressores têm que ir para cadeia;, disse.

A secretária executiva de Políticas para as Mulheres, Lourdes Maria Bandeira, reconhece a necessidade de mais campanhas de esclarecimento sobre a Lei 12.015 e defende uma mudança de cultura no país.

;São vários dias ao longo do ano submetida a isso. Os caras não aceitam um não. Forçam a barra, usam a força, e aí não tem jeito para te deixarem em paz;, disse a estudante Ísis*, que também foi agredida com ;mão na bunda e puxada de braço; no carnaval carioca.

* As identidades das entrevistadas foram alteradas para preservar as vítimas.

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