postado em 23/03/2014 19:17
Ao completar sete dias sem a mãe, os filhos gêmeos de Claudia Silva Ferreira ganharam hoje (23) uma festa de aniversário. No alto da comunidade Congonha, em Madureira, voluntários e moradores organizaram a comemoração na praça batizada com o apelido de Claudia, Cacau. A auxiliar de serviços gerais morreu depois de ter sido baleada durante operação policial no morro, quando saia para comprar pão. A vítima chegou a ser socorrida e colocada no camburão de viatura da polícia, de onde caiu e foi arrastada no chão por cerca de 300 metros.[SAIBAMAIS]O aniversário de dois dos oito filhos de Claudia, sendo quatro adotados, foi organizado com a ajuda da vizinhança e de voluntários. A comemoração teve doces, salgados, refrigerantes e presentes para garotada. "Ela [Claudia] já queria fazer a festa. Todo mundo se reuniu para realizar essa vontade;, disse um dos filhos, Angelo Gabriel Ferreira, de 14 anos.
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Durante a festa, o marido de Claudia, Alexandre Fernandes da Silva, cobrou que o episódio mude a cultura da Polícia Militar. ;Sei que o que ocorreu comigo já aconteceu em várias comunidades, mas não dessa proporção, então, creio que o governador [Sérgio Cabral], que o secretário de Segurança [José Mariano Beltrame] olhem para cá;. A família quer que os envolvidos na morte sejam condenados e cobrará reparação por Claudia ter sido arrastada pela viatura policial. As cenas foram gravadas por um cinegrafista amador.
;Vamos em busca de todas as formas legais para que os culpados paguem. Aguardamos que se faça justiça;, disse Diego Gomes, amigo da família. ;Quem provocou essa atrocidade, em todos os aspectos, desde o tiro, desde colocar no camburão, até arrastar ela na rua;, acrescentou.
Moradores de Congonha aproveitaram o evento também para denunciar ações truculentas da Polícia Militar (PM) na comunidade. Relataram abusos nas revistas, no trato com as mulheres e nas operações. ;Eles não têm respeito com morador, xingam, tem que acabar com isso;, disse Marília Regina Ferreira. ;O morro tem morador, não é só bandido;, completou. A dona de casa Cláudia Regina contou que crianças ficam em risco. ;As operações coincidem com a saída da escola, quando estão no caminho para casa ou brincando na rua;.
Na última semana, os policiais que arrastaram Claudia foram soltos.
Os moradores ainda cobram serviços públicos. ;Precisamos desde intervenções em infraestutura, têm encostas que estão caindo, a rede de iluminação e de energia é precária, falta manutenção nas ruas, tirar o lixo acumulado, até serviço social. Os jovens estão abandonados, não tem o que fazer, e famílias precisam de apoio;, cobrou Diego Gomes.
Para a moradora Cristina Ferreira, além da iluminação ;que ajudaria a resolver problemas de segurança e daria condições mais dignas; de vida aos moradores, é preciso podar a vegetação com urgência. ;Ali, onde a Claudia morreu, o mato está altíssimo. Precisa vir podar em toda a comunidade. Depois, tem que melhorar a limpeza. Ninguém vem aqui em cima tirar o lixo;, reivindicou.
Procurada pela reportagem, PM pede que a comunidade denuncie casos de abusos por parte de policiais. As denúncias podem ser feitas para Ouvidoria, pelo telefone 3399-1199, ou para o Disque-Denúncia, 2253-117.
A prefeitura do Rio não se manifestou sobre as reclamações dos moradores até a publicação da reportagem.