Brasil

Mulheres vítimas de assédio no transporte público reclamam de humilhação

Apenas nos três primeiros meses deste ano 33 homens foram detidos sob a acusação de assédio dentro dos vagões e nas estações de metrô e trem de São Paulo

postado em 06/04/2014 16:35
Nos três primeiros meses deste ano, 33 homens foram detidos na capital paulista, acusados de assédio nos vagões e nas estações de metrô e trem
São Paulo - ;Eles chegam encostando. Na primeira vez eu me afasto, mas se eu perceber que continua, eu xingo, ameaço bater, não fico quieta não. Mas é uma humilhação.; O relato de Diana Cavalcante, empregada doméstica de 50 anos, e de tantas outras mulheres paulistanas, é recorrente. Segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública, este ano foram registrados, em todo o estado, 285 casos de importunação ofensiva ao pudor - quando a vítima é assediada sexualmente em local público. Desses casos, 17 ocorreram dentro de coletivos e 13 nos pontos de ônibus.

Na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), apenas nos três primeiros meses deste ano 33 homens foram detidos sob a acusação de assédio dentro dos vagões e nas estações de metrô e trem da capital paulista. Desses, dois foram presos em flagrante e permanecem presos e apenas um foi enquadrado por estupro.

Há 13 anos, Diana depende de ônibus e do trem para se locomover. ;Já vi cenas terríveis, já levantaram a saia de uma mulher e ela não teve reação nenhuma, porque se a gente fala alguma coisa, eles ofendem a gente, acham ruim. Ela simplesmente desceu na estação seguinte;, relata a doméstica.

[SAIBAMAIS];Ontem mesmo eu presenciei uma cena. Um rapaz fingiu que tropeçou para molestar uma menina. Na hora eu não percebi, mas depois parei para pensar. Foi de propósito;, lembra o porteiro Eli Alves do Nascimento, de 25 anos. Para ele, falta punição para os casos de assédio. ;A solução é montar um sistema estratégico com pelo menos um policial disfarçado por vagão. Quando acontecer um fato como esse, ele já filma a pessoa, passa o rádio, já faz a abordagem e prende a pessoa. Isso vai fazer eles ficarem mais inibidos com esse tipo de atitude.;

Eli acredita que os vagões exclusivos para mulheres não resolveriam o problema. ;Se separar o vagão, uma hora ou outra vai misturar de novo, então vai continuar acontecendo, ou eles vão fazer do lado de fora. O negócio é dar boa uma punição, para que eles pelo menos tenham medo, não se sintam tão livres para fazer esse tipo de coisa;, defendeu.

Aline Valderrama Alves de Narciso, de 23 anos, discorda. Ela, que também já foi vítima dos abusadores, acredita que os vagões femininos podem ajudar. ;Acho que seria bem melhor, porque realmente tem homem que se aproveita da situação. Eu ficaria mais confortável;, desabafa a operadora de telemarketing.

Aline revela os truques usados por muitas mulheres para se defender dentro de um vagão lotado. ;Procuro ficar mais entre as mulheres. Se chega um homem perto, eu procuro ficar de lado, ou então de frente para ele. Tem o truque do cotovelo também. Inclino o cotovelo para trás, para afastá-lo de mim;, diz.

Outro artifício que vem sendo usado por elas é espetar o molestador com um alfinete. Na última sexta-feira (4), uma ação do movimento Mulheres em Luta distribuiu cerca de 400 alfinetes na Estação Capão Redondo do metrô, durante o horário de pico.

;A ação no Capão Redondo foi muito boa. As mulheres, que sempre sofrem, apoiaram, vieram nos parabenizar, pedir ajuda;, diz Janaína Rodrigues, organizadora da campanha ;Não me encoxa, que eu não te furo;. O movimento pretende percorrer as principais estações de São Paulo levando esclarecimento às passageiras e entregando kits com o alfinete.

Em outro ato, na última quarta-feira (2), mulheres do Levante Popular da Juventude distribuíram panfletos e estenderam faixas nas proximidades das catracas de acesso à área de embarque da Estação Sé, no centro da capital.

Ananda Felisberto, representante do Levante, conta que ela mesma já foi vítima de assédio há três anos. ;Eu usava uma saia não muito curta, mas apertada. O ônibus estava cheio e eu senti atrás de mim um homem encoxando. Fiquei sem saber o que fazer. Por mais vontade que a gente tenha de gritar e dizer que isso não pode acontecer, psicologicamente é uma coisa muito surreal quando acontece. Na maioria das vezes, a gente não revida cantada, não arruma briga quando isso acontece dentro do transporte. Acho que hoje eu não ia ficar quieta como há três anos;, desabafou.

Ananda acredita que a raiz do problema está na própria sociedade brasileira, marcada pelo machismo. ;Os homens acham que podem fazer o que querem com as mulheres, acham que os corpos delas são públicos. Na rua, a gente leva cantada e isso é tido como natural. E se você vai à delegacia, ainda perguntam que tipo de roupa você estava vestindo ou o que você estava fazendo. Isso é reflexo do machismo;, disse.

Uma das maiores reclamações da representante do Levante é o fato de as mulheres não se sentirem seguras para ir a uma delegacia. Segundo relato dos agentes de segurança que trabalham à paisana no metrô de São Paulo, 80% das mulheres que sofrem assédio em situações que são presenciadas por eles preferem não prestar queixa.

Alguns dos abusadores, inclusive, aproveitam-se da impunidade para continuar agindo. Um dos encoxadores mais conhecidos pelos agentes tem nove passagens pela polícia e já foi pego praticando assédio sexual em shoppings centers, elevadores, ônibus e vagões de metrô e trem. ;Ele sempre diz que não consegue evitar, porque tem ;frotteurismo;;, conta um dos agentes, que não pode ter a identidade revelada.

José Leon Crochík, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), explica que o frotteurismo é um comportamento mais comum entre os homens. ;Eles aproveitam espaços com muita gente para ter contatos sexuais sem a permissão dos outros. Em outras palavras, trata-se de um tipo de abuso sexual.;

De acordo com Crochík, o que estimula quem sofre de frotteurismo é a expectativa de não ser punido e o desejo de ter prazer com o outro, sem a sua permissão. ;Isso o faz sentir domínio sobre o outro, é mais do que a masturbação e bem menos do que o ato sexual forçado. De todo modo, é um ato solitário que incomoda o outro;, explica. Já a consequência nas vítimas desse tipo de abuso é o medo de estar em situações em que possam ser molestadas novamente.

;Eles chegam encostando. Na primeira vez eu me afasto, mas se eu perceber que continua, eu xingo, ameaço bater, não fico quieta não. Mas é uma humilhação.; O relato de Diana Cavalcante, empregada doméstica de 50 anos, e de tantas outras mulheres paulistanas é recorrente. Segundo a Secretaria Estadual da Segurança Pública, este ano, foram registrados, em todo o estado, 285 casos de importunação ofensiva ao pudor - quando a vítima é assediada sexualmente em local público. Desses casos, 17 ocorreram dentro de coletivos e 13 nos pontos de ônibus.

Na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), apenas nos três primeiros meses deste ano, 33 homens foram detidos sob a acusação de assédio dentro dos vagões e nas estações de metrô e trem da capital paulista. Desses, dois foram presos em flagrante e permanecem presos e apenas um foi enquadrado por estupro.

Há 13 anos, Diana depende de ônibus e do trem para se locomover. ;Já vi cenas terríveis, já levantaram a saia de uma mulher e ela não teve reação nenhuma, porque se a gente fala alguma coisa, eles ofendem a gente, acham ruim. Ela simplesmente desceu na estação seguinte;, relata a doméstica.

;Ontem mesmo eu presenciei uma cena. Um rapaz fingiu que tropeçou para molestar uma menina. Na hora eu não percebi, mas depois parei para pensar. Foi de propósito;, lembra o porteiro Eli Alves do Nascimento, de 25 anos. Para ele, falta punição para os casos de assédio. ;A solução é montar um sistema estratégico com pelo menos um policial disfarçado por vagão. Quando acontecer um fato como esse, ele já filma a pessoa, passa o rádio, já faz a abordagem e prende a pessoa. Isso vai fazer eles ficarem mais inibidos com esse tipo de atitude.;

Eli acredita que os vagões exclusivos para mulheres não resolveriam o problema. ;Se separar o vagão, uma hora ou outra vai misturar de novo, então vai continuar acontecendo, ou eles vão fazer do lado de fora. O negócio é dar boa uma punição, para que eles pelo menos tenham medo, não se sintam tão livres para fazer esse tipo de coisa;, defendeu.

Aline Valderrama Alves de Narciso, de 23 anos, discorda. Ela, que também já foi vítima dos abusadores, acredita que os vagões femininos podem ajudar. ;Acho que seria bem melhor, porque realmente tem homem que se aproveita da situação. Eu ficaria mais confortável;, desabafa a operadora de telemarketing.

Aline revela os truques usados por muitas mulheres para se defender dentro de um vagão lotado. ;Procuro ficar mais entre as mulheres. Se chega um homem perto, eu procuro ficar de lado, ou então de frente para ele. Tem o truque do cotovelo também. Inclino o cotovelo para trás, para afastá-lo de mim;, diz.

Outro artifício que vem sendo usado por elas é espetar o molestador com um alfinete. Na última sexta-feira (4), uma ação do movimento Mulheres em Luta distribuiu cerca de 400 alfinetes na estação Capão Redondo do metrô, durante o horário de pico.

;A ação no Capão Redondo foi muito boa. As mulheres, que sempre sofrem, apoiaram, vieram nos parabenizar, pedir ajuda;, diz Janaína Rodrigues, organizadora da campanha ;Não Me Encoxa, Que Eu Não Te Furo;. O movimento pretende percorrer as principais estações de São Paulo levando esclarecimento às passageiras e entregando kits com o alfinete.

Em outro ato, na última quarta-feira (2), mulheres do Levante Popular da Juventude distribuíram panfletos e estenderam faixas nas proximidades das catracas de acesso à área de embarque da estação Sé, no centro da capital.

Ananda Felisberto, representante do Levante, conta que ela mesma já foi vítima de assédio há três anos. ;Eu usava uma saia não muito curta, mas apertada. O ônibus estava cheio e eu senti atrás de mim um homem encoxando. Fiquei sem saber o que fazer. Por mais vontade que a gente tenha de gritar e dizer que isso não pode acontecer, psicologicamente, é uma coisa muito surreal quando acontece. Na maioria das vezes, a gente não revida cantada, não arruma briga quando isso acontece dentro do transporte. Acho que hoje eu não ia ficar quieta como há três anos;, desabafou.

Ananda acredita que a raiz do problema está na própria sociedade brasileira, marcada pelo machismo. ;Os homens acham que podem fazer o que querem com as mulheres, acham que os corpos delas são públicos. Na rua, a gente leva cantada, e isso é tido como natural. E se você vai à delegacia, ainda perguntam que tipo de roupa você estava vestindo ou o que você estava fazendo. Isso é reflexo do machismo;, disse.

Uma das maiores reclamações da representante do Levante é o fato de as mulheres não se sentirem seguras para ir a uma delegacia. Segundo relato dos agentes de segurança que trabalham à paisana no metrô de São Paulo, 80% das mulheres que sofrem assédio em situações que são presenciadas por eles preferem não prestar queixa.

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José Leon Crochík, docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), explica que o frotteurismo é um comportamento mais comum entre os homens. ;Eles aproveitam espaços com muita gente para ter contatos sexuais sem a permissão dos outros. Em outras palavras, trata-se de um tipo de abuso sexual.;

De acordo com Crochík, o que estimula quem sofre de frotteurismo é a expectativa de não ser punido e o desejo de ter prazer com o outro, sem a sua permissão. ;Isso o faz sentir domínio sobre o outro, é mais do que a masturbação e bem menos do que o ato sexual forçado. De todo modo, é um ato solitário que incomoda o outro;, explica. Já a consequência nas vítimas desse tipo de abuso é o medo de estar em situações em que possam ser molestadas novamente.

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