postado em 07/04/2014 12:19
Trocar informações com a comunidade ribeirinha para conhecer as suas necessidades e começar a elaborar propostas de alternativas ligadas à sustentabilidade e à geração de renda. Com esse objetivo em mente, um grupo de profissionais e pesquisadores da Casa de Cultura Digital no Pará (CCD-Pa) ; organização independente que reúne empresas e encubadoras nas áreas de tecnologia, educação e sustentabilidade ; promoveu uma expedição à Ilha de Paquetá, a 40 minutos de barco de Icoaraci, um distrito da capital paraense, no fim do mês de março.A atividade faz parte do projeto Barco Hacker, que pretende fazer o intercâmbio de informações entre profissionais de diversas áreas e comunidades ribeirinhas localizadas em regiões de difícil acesso.
O projeto surgiu quando a Casa de Cultura Digital ganhou um barco, há cerca de um ano. A divulgação da proposta de levar informação e tecnologia a locais distantes do Pará, pelas redes sociais, fez sucesso e chamou a atenção das comunidades ribeirinhas.
;Eram lugares na Região do Xingu, do Marajó que o nosso barco não poderia fazer viagens longas. Então transformamos o Barco Hacker em um conceito, até para reforçar as relações, já que, por costume, essas comunidades gostam de retribuir a visita oferecendo um barco para nos transportar. Resolvemos então valorizar esses hábitos culturais;, explica Kamila Brito, articuladora do projeto Barco Hacker e da Casa de Cultura Digital.
A expedição foi composta por profissionais e pesquisadores nas áreas de história, comunicação, tecnologia da informação, permacultura, logística, economia criativa e educação ambiental.
No primeiro dia de atividades, profissionais e pesquisadores propuseram uma conversa com os moradores. No segundo dia, eles fizeram um passeio de barco contornando a ilha para verificar detalhes geográficos, fazer um mapeamento e divulgar as informações pelas redes sociais.
Apesar da proximidade de Belém, a comunidade escolhida para a expedição não conta com serviços básicos como transporte, saneamento básico, energia elétrica, coleta de lixo nem água potável. ;Apesar de a gente viver rodeado de água, para beber, temos que comprar água em outra ilha;, relata Francisco Campos, presidente da Associação de Moradores da Ilha.
Depois de ouvir os relatos da comunidade, os próximos passos do projeto incluem a aplicação de questionários com 80 das 127 famílias que moram na Ilha para traçar o perfil sociocultural dos moradores e conhecer as atividades econômicas praticadas, além de identificar os moradores que têm intenção de participar de oficinas de educação ambiental e economia solidária. As ações devem ocorrer até fevereiro de 2015.
De acordo com Renata Quemel, integrante do Centro de Estudos e Aplicações em Logística e Meio Ambiente (Cealma), uma das empresas da Casa de Cultura Digital, há possibilidade de implantar cooperativas e associações com homens e mulheres para valorizar o trabalho com o açaí. ;Podemos aprimorar a cadeia produtiva do açaí com os homens e trabalhar subprodutos do fruto, como geleias e compota, para melhorar a renda da comunidade;, diz.
A questão da falta de coleta de lixo também vai ser monitorada e pode acabar virando um projeto-piloto de descarte ecológico pelas ilhas do Pará. ;Com pelo menos metade dos questionários até maio, nós já vamos começar a entender de que maneira é gerado o resíduo dessas famílias e de que forma é o descarte. Aí, sim, nós vamos poder ter um estudo local da viabilidade desse projeto;, explica Renata Maués, também do Cealma. As próximas visitas estão agendadas para os dias 8 e 17 de abril.
Outro problema relatado pelos moradores diz respeito à escola da comunidade, um anexo da Unidade Escolar Marta da Conceição localizada na Ilha de Cotijuba, a 15 minutos de barco de Paquetá. Em péssimo estado de conservação, a escola chegou a ter uma das salas interditadas depois de quase desabar. Apesar da situação, os ribeirinhos querem que a unidade permaneça na ilha.
;Tenho 21 anos de trabalho aqui. É difícil ver a situação que a escola está hoje. A gente sente um vazio, pelo descaso;, conta, emocionada, Maria Alba dos Santos, uma das duas professoras que lecionam no local e orientam os cerca de 25 alunos do 1; ao 5; ano do ensino fundamental.
;Tem alunos de outras ilhas, que estudam aqui, em Paquetá, que demoram uma hora no barco para chegar à escola. Se a escola aqui fechar, esse tempo pode aumentar mais uma hora e meia;, lamenta Francisco Campos, presidente da Associação de Moradores da Ilha.
A Secretaria de Educação do Pará (Seduc) confirmou que a unidade vai sair da Ilha de Paquetá. Uma nova escola será construída na Ilha de Urubuoca. Segundo o órgão, um estudo preliminar foi feito para justificar a mudança, que deve ocorrer apenas em 2015.
Ainda segundo a Seduc, a sede da escola, que fica na Ilha da Cotijuba será ampliada e vai ganhar cinco salas de aula. As crianças que moram em Paquetá poderão escolher em qual unidade de ensino vão estudar. A Escola Marta da Conceição atende a cerca de mil alunos do ensino fundamental e médio em ilhas próximas a Belém.
Cerca de 600 pessoas vivem na comunidade visitada pelo Barco Hacker na Ilha de Paquetá, uma área alagada que não tem praia nem porto. O sustento vem especialmente da venda do açaí, entre julho e dezembro. Na entressafra, os moradores praticam a pesca artesanal de peixes e