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Ribeirinhos da Amazônia apostam na pesca sustentável e no manejo florestal

O pesquisador explica que a técnica de manejo desenvolvida pelo instituto e aplicada nas comunidades tem mais de 40 anos

postado em 15/04/2014 08:14
Não basta dar o peixe ou a vara. Também não basta ensinar a pescar. Um dos grandes desafios pelos quais passam diversas comunidades ribeirinhas da Amazônia tem sido o de pescar de forma sustentável. E, assim, evitar que a fartura de um ano resulte em escassez de pescado no ano seguinte. O princípio pode ser aplicado a várias outras atividades típicas desenvolvidas pelos ribeirinhos da Amazônia. Entre elas, o manejo florestal ; utilização racional e ambientalmente adequada dos recursos da floresta.

;Para que qualquer atividade seja considerada sustentável, ela precisa ser ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa;, resume o técnico florestal do Instituto Mamirauá, Ronaldo Carneiro.

[SAIBAMAIS]

É seguindo esse princípio que o instituto tem ajudado comunidades amazonenses da Reserva Mamirauá, localizada a 600 km a oeste de Manaus, região do curso médio do Rio Solimões. Com 1,124 milhão de hectares, essa é a primeira reserva de desenvolvimento sustentável do país.

O Instituto Mamirauá é uma organização social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) que atua, também, como unidade de pesquisa.

Uma das principais fontes de renda das comunidades da reserva é a pesca sustentável do Pirarucu. A cada ano, são dois meses de atividade e dez meses de vigilância contra a pesca irregular na região. Para evitar problemas, algumas regras têm de ser seguidas. Uma delas é a contagem de peixes adultos, quando boiam na superfície ; feita por contadores capacitados e certificados pelo instituto, antes do início da temporada de pesca.

;Já tivemos baixas significativas da população de peixes em decorrência de o contador ter falseado dados. No ano seguinte, com a queda no número de pescado, a comunidade sentiu na pele o problema;, disse à Agência Brasil Francilvânia Martins de Oliveira, 24 anos. Segundo a ribeirinha, que tem vários pescadores na família, a venda de peixes é o que mais movimenta a economia da comunidade Boca do Mamirauá.

Para ter sucesso nessa e em outras empreitadas, o instituto já promoveu mais de 120 cursos de capacitação nas comunidades da região, bem como ações nas áreas de agricultura, abastecimento de água, gestão comunitária, turismo, manejo florestal e pesca.

Responsável por estudos de mercado que identificam a viabilidade no manejo florestal, o economista Leonardo Apel, integrante do Grupo de Pesquisa e Organização Social, diz que a técnica aplicada ;é eficiente e promove a regeneração de espécies no local;. O manejo é uma atividade econômica oposta ao desmatamento, pois não há remoção total da floresta e, mesmo após o uso, o local manterá sua estrutura florestal.

O pesquisador explica que a técnica de manejo desenvolvida pelo instituto e aplicada nas comunidades tem mais de 40 anos. ;Ela era adotada em empresas e agora está sendo direcionada ao manejo comunitário. A diferença entre as aplicações está ligada à capacidade de planejamento. No caso da extração feita pela comunidade, ela não é tão voltada para o mercado. É de pequena escala, visando à subsistência e, só em alguns casos, à venda.;

Segundo Apel, a madeira extraída de forma legal atinge preços de mercado ;muito mais interessantes; do que a obtida ilegalmente. ;A ilegal não tem viabilidade econômica porque o risco de apreensão faz seu preço de mercado cair vertiginosamente. Quem faz isso acaba tendo de pagar para trabalhar;, disse. ;Por isso, acredito que o manejo de madeira seja a melhor alternativa não só para a Amazônia, mas para o mundo todo;, acrescentou.

O princípio do manejo é simples: não se pode derrubar em quantidade maior do que a capacidade de recuperação da floresta ; em geral, até três espécies por hectare na região. Responsável por capacitar as comunidades para o manejo, o técnico florestal Elinei Castro responde, atualmente, pelo levantamento de estoques e pelo inventário da Comunidade São Francisco, uma das áreas visitadas pela Agência Brasil.

;As árvores com pelo menos 1,2 metro de diâmetro já foram marcadas;, disse. ;Nessa área aqui, de 17 hectares, foram marcadas e autorizadas [a extração de] 46 delas, mas as regras permitiriam a derrubada de até 51 árvores. Em toda a região, há 60 hectares, dos quais podem ser extraídas 180 árvores em um ciclo de 25 anos, que é o tempo que leva para elas atingirem a fase adulta;, explicou.

Segundo o líder eleito pela comunidade de São Francisco, Raimundo Ribeiro da Silva, com o manejo é possível chegar a uma renda média de R$ 300 por mês para cada família. ;Mas o dinheiro só vai para quem trabalha;, acrescentou Elinei, enquanto acompanhava o corte de uma assacu ; árvore de grande resistência e durabilidade na água, muito usada na estrutura de casas flutuantes ; com três metros de diâmetro na base.

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Sócio da comunidade nas atividades de manejo desde 2001, Erinaldo Chagas, 32 anos, diz ter um ;sentimento controverso; ao derrubar árvores. ;A gente sente tristeza. Mas também sente alegria, porque a madeira beneficia a gente e dá o que comer para nossas famílias. Além disso, quando se tira uma árvore de grande porte, nós damos condições para que outras árvores surjam, com a entrada da luz que até então estava bloqueada;, destacou.

Por 11 dias, no mês de fevereiro, a equipe de reportagem da Agência Brasil viajou pela Amazônia. A vida dos ribeirinhos também será destaque no programa Caminhos da Reportagem, que será exibido pela TV Brasil na próxima quinta-feira (17), às 22h.

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