postado em 03/05/2014 11:33
Morreu na sexta-feira (02/05), às 23h30, em Goiânia, o bispo emérito da cidade de Goiás, dom Tomás Balduíno. O religioso tinha 91 anos e faleceu em decorrência de uma tromboembolia pulmonar. O religioso estava internado há vários dias por causa de complicações cardíacas e de um câncer. Dom Tomás Balduíno era um dos principais nomes da ala da Igreja Católica no Brasil que atua junto aos pobres. Um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972, e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975, o bispo atuou durante a maior parte da vida em favor de índios e pequenos camponeses.Balduíno ficou internado de 14 a 24 de abril no Hospital Anis Rassi, em Goiânia. Teve alta hospitalar no dia 24, mas foi novamente internado no dia seguinte, no Hospital Neurológico, também em Goiânia, onde permaneceu até ontem. O corpo será velado na Igreja São Judas Tadeu, na capital goiana, até as 10h de amanhã, quando será celebrada uma missa. De lá, segue para a cidade de Goiás, onde será velado na Catedral até as 9h de segunda-feira (5).
"Percorreu todo o Brasil para apoiar as justas reivindicações dos povos originários em defesa de seus territórios tradicionais e de suas formas próprias de vida. Assim como a mensagem do Evangelho, nunca se deixou limitar pelas fronteiras, ultrapassou todas elas para defender a vida", diz texto publicado pelo Cimi.
A CPT classificou Balduíno como o "bispo da reforma agrária e dos indígenas", e ressaltou que "Dom Tomás lutou por toda sua vida pela defesa dos direitos dos pobres da terra, dos indígenas, das demais comunidades tradicionais, e por justiça social".
Na manhã deste sábado (03/05), os participantes da 52; Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, no Santuário Nacional de Aparecida (SP), celebraram a missa com a presença especial dos bispos eméritos em intenção de dom Tomás Balduíno. A celebração foi presidida pelo arcebispo emérito de Manaus (AM), dom Luiz Soares Vieira. Atualmente a Igreja no Brasil possui cerca de 150 bispos eméritos.
Trajetória
Dom Tomás Balduíno nasceu na cidade de Posse, em Goiás, no dia 31 de dezembro de 1922. É filho de José Balduino de Sousa Décio, goiano, e de Felicidade de Sousa Ortiz, paulista. Seu nome de batismo é Paulo Balduino de Sousa Décio. Ingressou na Ordem Dominicana em São Paulo (SP) e recebeu a ordenação presbiteral em Saint Maximin, na França, em 1948. Ao se tornar religioso, o dominicano recebeu o nome de frei Tomás.
Em 1957, foi nomeado superior da missão dos dominicanos da Prelazia de Conceição do Araguaia (Pará), onde começou a conviver com a realidade de indígenas e camponeses. Na época, a Pastoral da Prelazia acompanhava sete grupos indígenas. Para desenvolver um trabalho mais eficaz com os índios, fez mestrado em antropologia e linguística na Universidade de Brasília, que concluiu em 1965. Estudou e aprendeu a língua dos índios xicrins, dos grupos Bacajá e Kayapó.
Em 1965, foi nomeado prelado de Conceição do Araguaia. Na região atuou para impedir a invasão de áreas indígenas e a expulsão de pequenos camponeses por parte de grandes empresas agropecuárias.
Foi nomeado bispo da cidade de Goiás em 1967, onde permaneceu durante 31 anos, até 1999. Ao completar 75 anos, renunciou e mudou-se para Goiânia. Seu ministério episcopal coincidiu, a maior parte do tempo, com a ditadura militar (1964-1985). Atuou na defesa de pessoas perseguidas pela ditadura, durante o regime militar no Brasil. Em junho de 2013, esteve presente no Seminário Internacional Memória e Compromisso, promovido pela Comissão Brasileira Justiça e Paz, em Brasília, com o objetivo de lembrar o papel dos cristãos no processo de anistia política e de redemocratização do país durante o período de 1964 a 1988.
Em 2006, recebeu o Prêmio de Direitos do Homem Dr. João Madeira Cardoso, pela Fundação Mariana Seixas, de Portugal, e também o título de Doutor Honoris Causa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, pelo seu trabalho em favor da cidadania e direitos humanos. Em 2008, recebeu, nos Estados Unidos, o prêmio Reflections of Hope, da Oklahoma City National Memorial Foudation, por sua atuação no combate à miséria.
Com Agência Brasil