Jornal Correio Braziliense

Brasil

Desafio em Fortaleza é combater redes de exploração sexual durante a Copa

Nas ruas ao redor do estádio, meninas com o corpo ainda em formação são abordadas por homens em carros e caminhões

O sol forte durante praticamente todo o ano e as numerosas e belas praias são os principais atrativos da capital cearense. Algumas pessoas, entretanto, buscam a cidade como destino do turismo sexual e contribuem para o aumento da exploração de crianças e adolescentes. Em alguns locais, como à beira mar e no entorno da Arena Castelão, um dos palcos da Copa do Mundo, é fácil ver o problema. Nas ruas ao redor do estádio, meninas com o corpo ainda em formação são abordadas por homens em carros e caminhões.



Para Magnólia Said, do Comitê Popular da Copa de Fortaleza, é preciso que o Poder Público e a sociedade trabalhem juntos para combater a exploração. Segundo ela, muitas meninas estão saindo do interior em busca do príncipe encantado que esperam encontrar durante a competição. Por trás disso, há o sonho de melhores oportunidades. ;Como vem muito turista, a Copa é um convite para as mulheres solteiras de 12 a 30 anos. É nesse momento que ela espera encontrar o príncipe encantado;, destaca Magnolia.

A prefeitura preparou um plano de ação para combater o problema durante o Mundial. Serão 120 educadores nas ruas para conversar com turistas e moradores. A presidente da Fundação Municipal da Criança, Tânia Gurgel, explica que também haverá uma central de atendimento específica para denúncias durante os 30 dias de competição. Por isso, as equipes pedem a parceria da sociedade.

;Existe uma lógica nessa questão do abuso e da exploração sexual. E há parceiros que são fundamentais e que precisam compreender isso. Taxistas, vendedores do centro e da beira-mar, esse pessoal todo precisa ser motivado a defender essa questão;, diz Tania.


Um desses parceiros é a Associação Recreativa e Esportiva para Crianças (Arca). A organização ensina os pequenos por meio do esporte. A proposta é estudar português e matemática de forma lúdica. Além disso, os mais de 170 participantes do projeto, que vivem na periferia de Fortaleza, aprendem sobre direitos e deveres. Para a coordenadora executiva da instituição, Milza Raadsen, a exploração é combatida quando se oferecem oportunidades às famílias. Ela aponta o esporte como um dos caminhos.

Eu acho que o povo brasileiro está aprendendo que o direito ao esporte não é o direito a jogar futebol, o direito ao esporte é o seu direito ao lazer, é o seu direito a ter um dia que você possa ir ao parque com seu filho, você possa ir ao cinema;, defende Milza.

Raiane Marques, de 12 anos, já aprendeu no projeto que as crianças têm direito a estudar e brincar. A menina, que sonha em ter um salão de beleza, sai de casa arrumada para ir à Arca. Ela diz que fica alegre quando vai ao projeto por aprender coisas novas e encontrar os amigos.

;A gente brinca de jogar pega... Como é esse jogo? A gente bota a fita e começa a jogar, sai todo mundo correndo um tem que pegar o outro. A gente faz reforço, assiste filme;, destaca a menina. O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Rádio do 7; Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos para a Infância (Unicef).