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Fundadora do Mães de Maio conta como a dor pelo assassinato virou luta

%u201CO Dia das Mães é difícil, porque eu não me conformo com a morte do meu filho", diz Débora Maria da Silva

postado em 11/05/2014 15:23
Há oito anos, Débora Maria da Silva, 54 anos, vivia o momento mais trágico da vida dela. ;Eu vi uma carnificina em São Paulo;, relatou. Entre as mais de 600 pessoas assassinadas em maio de 2006 no estado, estava Edson Rogério Silva dos Santos, 29 anos, primogênito de Débora. O episódio, que ficou conhecido como Crimes de Maio, segundo organizações de direitos humanos como o Grupo Tortura Nunca Mais, foi uma reação de grupos de extermínio com a participação de agentes do Estado à ataques da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Foram mortos, principalmente, jovens negros, moradores da periferia. Débora transformou a dor da perda em luta e fundou, ao lado de outras mães vítimas da tragédia, o movimento Mães de Maio.

[SAIBAMAIS];[O Dia das Mães] é difícil, porque eu não me conformo com a morte do meu filho. Nunca vou [me conformar]. É difícil porque eu tenho mais duas filhas e sete netos. Era uma data em que a gente se juntava para comemorar o meu aniversário e o Dia das Mães, mas não tenho mais motivo;, declarou. Débora faz aniversário no dia 10 de maio. Em 2006, o Dia das Mães caiu no dia 14 e o filho dela foi morto no dia seguinte, a poucos metros de casa, em Santos, no litoral sul paulista, após parar para abastecer a moto em um posto de gasolina.

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Débora relembra que um policial conhecido da família avisou que haveria um toque de recolher naquele dia e que ;pessoas de bem; não deveriam sair de casa. ;Ele veio buscar um remédio para dor, porque tinha arrancado dois dentes. Na volta, pedi que ficasse, mas ele queria ir para casa;, disse. Emocionada, ela relatou o trajeto feito pelo filho: a moto ficou sem gasolina, ele parou em um posto, pediu ajuda a um amigo, foi abordado por policiais e, em seguida, ao sair para buscar o combustível na moto do amigo, foi morto a tiros.

Débora atribui o assassinato aos PMs. Até hoje, o crime não foi esclarecido, assim como outros cometidos no mesmo período. ;Sou uma mulher que me alimento da luta. O Estado tem que dar uma resposta para essas mortes. Basta de extermínio dessa molecada, dos nossos filhos, porque não parou e isso tem a ver com o fato de não ter tido justiça em relação a esses crimes;, declarou.

O movimento Mães de Maio reúne outras 20 mulheres, somente na Baixada Santista, que perderam filhos de forma violenta, em decorrência da ação do Estado. ;Doze delas perderam os filhos em 2006. Muitas não vieram [para o movimento] porque foram ameaçadas pela polícia. Não quiseram continuar a luta por medo;, explicou. As demais integrantes são mães de vítimas de chacinas ocorridas desde então.

Tornar-se mãe, para Débora, assim como ocorre com milhares de adolescentes no Brasil, foi um acaso. Aos 17 anos, ela engravidou do primeiro filho. ;Era muito nova, sem muito estudo. Na euforia da juventude, gerei uma criança;, recorda. Apesar da inexperiência, ela conta que logo aprendeu a lutar pela vida do filho. ;Foi uma gravidez difícil. Eu engordei ele na minha barriga, mas eu era muito raquítica. Fui ao hospital com muitas dores, me internaram e tentaram o parto normal, mas não dava. Ele já nasceu roxinho;, relembrou. Nos primeiros anos de vida, Rogério também teve uma hepatite muito forte. ;Quando ele nasceu, os médicos já tinham falado dessa possibilidade;, disse.

Uma das peregrinações de Débora pela vida do filho ocorreu quando Rogério foi preso, aos 18 anos, acusado de um assalto. ;Ele foi detido e torturado para assinar o flagrante. Era inocente e foi condenado a 5 anos e 4 meses. Cumpriu a pena em Guarulhos, longe da mãe dele, mas não deixei meu filho um instante sozinho;, destacou. Ela conta que conseguiu um emprego para o filho, quando ele entrou no regime semiaberto, e insistiu que Rogério deveria seguir no caminho do trabalho. ;Eu fazia ele andar com o último holerite do mês; para mostrar aos policiais militares que ele era trabalhador, explica, ressaltando que a ficha de antecedentes criminais de Rogério foi acessada 23 vezes no dia da morte dele.

Débora, que no ano passado foi uma das homenageadas na 19; Edição do Prêmio dos Direitos Humanos, concedeu a entrevista à reportagem da Agência Brasil na segunda-feira (5), a seis dias do Dia das Mães e a dez da data que marca a morte trágica do filho. ;Domingo está aí. Eu estava muito angustiada, ansiosa, então, para mim, serviu como um desabafo;, declarou.

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