Daniela Garcia
postado em 18/05/2014 08:00
Daqui a três anos, quando se formar no ensino médio, Catiane Nascimento, 25 anos, pretende ser chamada de mãe pela única filha, 3 anos. Desde que a menina nasceu, as duas estão separadas porque a piauiense, radicada em Brasília, dorme, de segunda à sexta-feira, na casa onde trabalha como babá na Asa Sul. Desde fevereiro, ela decidiu retomar os estudos no Centro de Educação de Jovens e Adultos da Asa Sul (Cesas). O plano, de médio prazo, é deixar de vez essa rotina de distância da menina. ;É chato não ser chamada de mãe. Por isso, estou estudando. Quero ter mais tempo para ficar com ela;, argumenta.
Catiane faz parte de um grupo de milhares de brasileiros que tenta, com dificuldade, voltar aos estudos por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A partir de hoje, o Correio publica a série de reportagens ;O Difícil Retorno; que conta a trajetória de pessoas que enfrentam desafios além dos muros da escola para completar o ensino regular. Segundo dados de 2011, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, o Brasil tem 56,2 milhões de pessoas com mais de 18 anos que não frequentam a rede de educação e não têm o ensino fundamental completo. Para elas, o sistema público indicado são as turmas da EJA. No entanto, a adesão à política vem diminuindo nos últimos anos. Dados do Censo Escolar, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), mostram que, em 2007, haviam 4.985.338 alunos matriculados na rede; em 2013, esse número caiu para 3.772.670. Em seis anos, houve uma diminuição de 25% nas matrículas do sistema.
Catiane está longe da escola há 10 anos, desde que deixou o Piauí para trabalhar em Brasília. Enquanto cuida de três crianças no trabalho, a filha, Lorrane, fica sob os cuidados da amiga Eva de Cássia, no Recanto das Emas, a 25km do Plano Piloto. Desde janeiro, a babá cursa, à noite, a 5; série do ensino fundamental. No sistema da EJA, Catiane pode fazer uma série a cada seis meses. Para ela, faltam, no mínimo, três anos para se formar no ensino médio. Até lá, a babá deve continuar a pagar R$ 250 por mês à amiga, com quem divide o aluguel da casa no Recanto. ;Ela já têm três filhos. Eu pago para ela cuidar da minha também. Aí, a Lorrane acaba chamando ela de mãe e eu de Cátia;, conta.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.