postado em 04/06/2014 20:09
Na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, cerca de 120 pessoas de comunidades tradicionais e extrativistas vieram do norte de Minas Gerais a Brasília para reivindicar a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes dos Gerais. A região possui 37 mil hectares e tem sido alvo de desmatamento e exploração de empresários, o que tem destruído nascentes de água e plantações, de acordo com os representantes das comunidades.Dezesseis manifestantes começaram greve de fome e de sede na tarde desta quarta-feira (4/6) na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto, e afirmam que só vão voltar a comer e beber quando o decreto com a criação da RDS for assinado pela presidenta Dilma Rousseff. No fim da tarde, representantes do movimento iniciaram uma reunião no palácio com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentin. O encontro já dura mais de duas horas.
As nove comunidades abrangidas pela região onde pode ser criada a RDS pertencem a três municípios mineiros (Montezuma, Rio Pardo de Minas e Vargem Grande do Rio Pardo) e abrigam ao todo 500 famílias. ;Para morrer de sede lá, a gente fez a proposta de vir morrer aqui, se for o caso;, disse Maria Lúcia Agostinho, da comunidade Água Boa 2, que fica em Rio Pardo de Minas. Ela veio com a família e relata que apenas duas nascentes ainda não secaram.
;O que mais machuca é que as áreas onde as empresas degradaram, não têm mais água. Eles mesmos pegam um [caminhão] pipa e vão buscar água lá onde nós preservamos. Isso é que é o absurdo, para abastecer as empresas;, contou a agricultora, que também trabalha com extrativismo e artesanato com argila, cipó e palha.
Segundo Carlos Dayrell, que faz parte do Centro de Agricultura Alternativa e apoia o movimento, a luta para a criação da RDS Nascentes dos Gerais começou há 12 anos, com a participação do ICMBio. ;Há mais de dois anos esse processo foi finalizado [aguardando o decreto] e as comunidades estão precisando entrar com o próprio corpo, com filhos e esposos, na frente das máquinas. Já estamos no limite;. Segundo ele, cinco rios são abastecidos pelas nascentes na única área preservada de Cerrado que sobrou na região.
Empresas de produção de eucalipto, carvoarias e fazendeiros têm sido impedidos pelas comunidades tradicionais de expandir as áreas tomadas, segundo os representantes do movimento, que engloba apanhadores de flores, vazanteiros, veredeiros, caatingueiros, quilombolas e indígenas.
Além do decreto, o movimento também pede a negociação da Pauta dos Povos e Comunidades Tradicionais dos Cerrados Brasileiros.
De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria-Geral, Carvalho pediu um prazo de 48 horas para dar uma resposta sobre o decreto. Até o fechamento desta reportagem, o ICMBio não havia se pronunciado sobre as reivindicações.